Biden usa China e Rússia para defender saída do Afeganistão
As ameaças atuais já não são as mesmas de 2001, quando os EUA invadiram o Afeganistão, disse o presidente
Em pronunciamento sobre a saída definitiva das tropas do Afeganistão, nesta 3ª feira (31.ago.2021), o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, afirmou que o país deve se concentrar nas “ameaças atuais”, como a segurança cibernética e as disputas com a China e a Rússia.
“O que um presidente deve fazer é proteger o país não das ameaças de 2001, mas das ameaças de 2021”, disse. “Tínhamos duas opções: seguir o acordo ou estender a guerra. A escolha era sair ou escalar. Eu não iria manter essa guerra para sempre”.
Biden se refere ao acordo assinado por Donald Trump e o Talibã em fevereiro de 2020. O tratado previa a saída parcial das tropas norte-americanas do Afeganistão já em julho de 2020. Com a escalada de violência do grupo, que à época já dominava quase 50% dos distritos do país, o prazo foi estendido por Biden para 1º de maio e, depois, para 31 de agosto.
A aproximação da data, porém, fez com que o Talibã escalasse a violência em todo o território afegão. Não demorou para o grupo tomar as principais cidades até que, em 15 de agosto, o presidente Ashraf Ghani deixou Cabul e o grupo tomou o controle do país.
Em seu discurso, Biden disse que assume a responsabilidade pela operação de retirada. “Se tivéssemos começado a retirada em junho ou julho, teríamos evacuação no meio de uma guerra civil. Aos que dizem que devíamos continuar, veja bem, tudo mudou”, disse.
O presidente afirmou que procurou olhar para o interesse vital da guerra: os ataques de 11 de setembro de 2001. O objetivo, segundo ele, era conter a Al-Qaeda e matar Osama bin Laden –objetivo alcançado em 2011.
“Meus caros, é hora de ser honesto com os americanos de novo. Eu me recuso a mandar uma nova geração ao Afeganistão. Gastamos mais de US$ 2 trilhões nesses 20 anos. É hora de olhar para o que nos afeta agora”, argumentou.
A China é o principal adversário comercial e financeiro dos EUA hoje, enquanto a Rússia é acusada de orquestrar e apoiar ataques cibernéticos ao país. Washington acusa Moscou de tentar interferir nas eleições de 2016 e 2020.
Remanescentes no Afeganistão
Em seu discurso, Biden também reiterou que os EUA continuarão o processo de retirada dos cidadãos norte-americanos que quiserem deixar o Afeganistão. “Por algum motivo, nos disseram que queriam ficar, mas agora querem sair. Vamos retirar até o último se assim desejarem”, disse.
O presidente reforçou o combate ao grupo jihadista EI-K (Estado Islâmico Khorasan), que assumiu o atentado no aeroporto de Cabul em 27 de agosto. Pelo menos 180 pessoas morreram, incluindo 13 norte-americanos. “E EI-K, não acabamos com vocês ainda”, disse o democrata.
O pronunciamento marcou a chegada do último avião com militares e diplomatas do Afeganistão, quase 20 anos depois do início da operação no conflito mais longevo e violento da história dos EUA. Ao todo, 4 governos –2 republicanos e 2 democratas –administraram a guerra.