Alta da inflação ameaça legado do presidente do BC dos EUA
Os primeiros quatro anos de Jerome Powell como presidente do banco central dos EUA foram marcados pela façanha de salvar a economia de um desafio histórico como a pandemia. Seu segundo mandato — e legado — à frente do Federal Reserve será definido pelo esforço para salvar a economia americana de um superaquecimento.
Powell e seus colegas no Comitê Federal de Mercado Aberto, que se reúnem terça e quarta-feira, tentam debelar a maior inflação em uma geração sem interromper os ganhos do mercado de trabalho.
Os riscos de errar nessa tentativa de pouso suave são grandes: um movimento muito rápido pode colocar a economia novamente em recessão, enquanto medidas muito lentas podem permitir que a inflação crie raízes.
O apoio emergencial de Powell aos mercados financeiros para enfrentar a disseminação da Covid-19 em 2020 ajudou a preparar o terreno para uma recuperação sólida em 2021. Sua destreza fez com que ele recebesse apoio dos dois grandes partidos do país e a nomeação do presidente Joe Biden para um segundo mandato.
Agora, “esse legado está sendo desafiado” por uma inflação muito alta e por uma resposta do Fed que, na visão de alguns, está muito lenta, disse Tim Duy, economista-chefe da SGH Macro Advisors. “Vai ser difícil trazer a inflação de volta para a meta de 2%” rapidamente sem induzir uma recessão.
A expectativa dos mercados é que, após o término da reunião na quarta-feira, as autoridades sinalizem um aumento da taxa básica de juros em março. Mas talvez Powell precise abrir caminho para mais acréscimos neste ano do que os três que foram sugeridos pelas previsões apresentadas em dezembro. Alguns pedem que Powell indique a possibilidade de aumento potencial de juros em todas as reuniões se necessário.
Ele terá que equilibrar essa mensagem com o compromisso do Fed com uma nova estrutura que permita o aquecimento do mercado de trabalho em prol de ganhos abrangentes e inclusivos.
Há também a questão da fragilidade do mercado financeiro. O S&P 500 caiu mais de 7% desde o final do ano passado, em parte por causa do nervosismo em torno do aperto monetário.
Enquanto o líder do Fed se prepara para sua primeira entrevista coletiva do ano, críticos citam duas áreas em que maior clareza se faz urgente: o ritmo de aumentos de juros e o balanço patrimonial.
Um problema na comunicação do Fed é que as autoridades falam muito sobre sua projeção de base, mas não têm uma boa maneira de descrever a resposta coletiva a uma evolução rápida do cenário e atualizam suas previsões apenas uma vez por trimestre.
No momento, a projeção de base feita em dezembro não tem muita credibilidade, segundo Anna Wong, economista-chefe para os EUA da Bloomberg Economics.
A previsão do Fed é de “desemprego caindo para 3,5% neste ano, abaixo da taxa sustentável de longo prazo, e permanecendo ali pelos próximos dois anos, mas ainda assim a inflação recuaria para 2,1% em 2024”, ressaltou ela.
Enquanto isso, as autoridades sinalizaram que a taxa básica de juros subiria para pouco acima de 2% — sequer atingindo o que consideram território restritivo.
“Embora a palavra ‘transitória’ tenha sido aposentada, a previsão ainda sugere que as autoridades entendem que a inflação é impulsionada principalmente pela oferta e que desaparecerá por conta própria”, disse Wong, que espera cinco aumentos de juros pelo Fed neste ano.