Alemanha tem rodovias sem limite de velocidade, mas trânsito mata 4 vezes menos do que no Brasil
Em 2017, 17 em cada 100 mil brasileiros morreram no trânsito, contra 4 a cada 100 mil alemães. Apesar de 70% das rodovias do país não possuírem limite de velocidade, leis de trânsito são rígidas.
A taxa de mortalidade do trânsito brasileiro foi de 17 pessoas a cada grupo de 100 mil habitantes em 2017 – as informações são as mais recentes divulgadas pelo Ministério da Saúde. No mesmo período, na Alemanha, 4 em cada 100 mil pessoas perderam a vida da mesma forma – 4,3 vezes menos.
Considerando os números absolutos de 2017, 35.374 pessoas morreram no trânsito brasileiro. No mesmo período, na Alemanha, foram 3.180 — 11 vezes menos.
É preciso considerar que o país europeu tem menos da metade população brasileira. Em 2017, eram 82 milhões de pessoas, contra 209 milhões no Brasil. A frota deles também era menor, na ocasião: 56 milhões contra 94 milhões.
Os dados brasileiros são do Ministério da Saúde, e os alemãos são da Autoridade Federal de Transporte a Motor do país.
Os bons índices alemães podem ser atribuídos, além da consciência dos motoristas, pelo conjuto de rígidas regras de trânsito (veja mais abaixo). Durante 4 dias, o G1 esteve na Alemanha, e percorreu cerca de 800 km por cidades como Munique, Frankfurt e Stuttgart, inclusive nas rodovias sem limite de velocidade, chamadas de autobahnen.
Evolução positiva no Brasil
Na comparação com anos anteriores, há evolução positiva na segurança viária do Brasil, com queda na quantidade de mortos desde 2014, mas o país ainda está longe de ser referência no assunto, como a Alemanha é.
O trânsito brasileiro, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), é o terceiro que mais mata no mundo, em uma relação com 175 países – fica na frente apenas de Índia e China, países com mais de 1 bilhão de habitantes.
A taxa de mortalidade do trânsito brasileiro também é pior do que a de países como Índia (11,4 mortes para cada 100 mil pessoas), Indonésia (12) e Estados Unidos (12,4), além da nossa vizinha, Argentina (12,6).
A Alemanha, país que inventou o automóvel, pode justificar baixos índices de mortalidade no trânsito com leis rígidas. Na mesma medida, é uma nação que dá a liberdade para motoristas acelerarem sem limite de velocidade em 70% de suas rodovias nacionais.
Permitir que motoristas viajem a mais de 200 km/h, e, ao mesmo tempo, ter um dos menores índices de mortalidade no trânsito do mundo é possível graças a uma equação, formada pela soma de uma frota de carros mais moderna e segura, excelente infra-estrutura rodoviária e educação no trânsito.
Conheça abaixo mais sobre como funciona o trânsito alemão:
Regras para tirar habilitação
Na Alemanha, o processo para tirar a habilitação pode começar aos 16 anos e meio. É quando jovens podem pedir a chamada BF17, uma permissão para dirigir aos 17 anos – ela vale apenas no território alemão, e o motorista precisa estar sempre acompanhado de alguém maior de 30 anos devidamente habilitado.
O processo para tirar a habilitação (independentemente da idade) inclui 12 aulas teóricas de 1h30, cada, e 12 aulas práticas, de 45 minutos, cada, divididas entre ruas, estradas e lições noturnas. Depois de passar nas provas, o candidato, enfim, se torna um motorista habilitado.
‘CNH’ deles não é mais vitalícia
Na Alemanha, a carteira de habilitação na Alemanha era válida por toda a vida, até 2013. Mas a lei mudou, e a partir desta data, o documento deve ser renovado a cada 15 anos.
Outra questão, é que os alemães que tiraram a habilitação há mais tempo terão que trocar a carteira de papel por um documento mais moderno e padronizado com as normas da União Europeia.
Cerca de 43 milhões de habilitações serão trocadas de forma progressiva, com início em 2022, e previsão de término em 2033.
Multas e infrações de trânsito
Quando o assunto são as multas, os alemães são bem mais rigorosos. Um motorista pode levar até 7 pontos em sua habilitação. Quando acumula 4 ou 5 pontos, o motorista pode fazer um curso, que elimina as penalizações.
Ao chegar no oitavo ponto, o motorista tem a habilitação retirada.
Por lá, as infrações resultam de 1 a 3 pontos, enquanto a maior parte das multas custa entre 60 e 80 euros. Mas há casos mais e menos graves.
Ultrapassar o limite de velocidade é uma infração com penalidades diversas. Quando um motorista é pego dirigindo a até 20 km/h acima do permitido, não leva pontos em sua habilitação.
A punição, nesses casos, é com multa, que varia de 10 a 35 euros, de acordo com o ambiente e a velocidade.
Agora, se o motorista apressado ultrapassou a partir de 21 km/h o limite, pode levar 1 ou 2 pontos, também de acordo com a velocidade da via. Além disso, as multas variam entre 70 e 680 euros, e o condutor pode ficar impedido de dirigir de 1 a 3 meses.
Mesmo com 70% das rodovias sem limite de velocidade, os motoristas são extremamente respeitosos quando há trechos com velocidade definida.
Prova disso é a diferença entre a quantidade de multas aplicadas lá e aqui.
Em 2018, as autoridades alemãs deram 3.123.955 multas por excesso de velocidade. No mesmo período, o Brasil registrou 43.503.225 infrações relacionadas à acelerar demais. O número é quase 14 vezes mais alto.
Novamente, é importante lembrar que a população e a frota de veículos daqui são maiores do que os equivalentes de lá.
Apesar de os alemães serem conhecidos com apreciadores de cerveja, o motorista que for flagrado dirigindo com índice superior a 0,25 mg de álcool por litro de sangue é punido com 2 pontos na carteira, além de levar multa que varia de 500 a 1.500 euros.
O infrator também tem a habilitação suspensa de 1 a 3 meses.
A lei alemã também leva mais tempo para “esquecer” as infrações. Se, no Brasil, os pontos expiram da CNH em 12 meses, no país europeu, o prazo varia de 2 anos e meio a 10 anos, de acordo com a gravidade.
Consciência coletiva
Além de leis mais severas com os motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas também mostram uma consciência coletiva muito grande.
Faróis vermelhos costumam ser respeitados. E isso não vale apenas para veículos. Pedestres, mesmo quando a rua está vazia, também aguardam sua vez na hora de atravessar.
Em rodovias, não acontecem ultrapassagens pela direita. Isso porque a faixa da esquerda está sempre disponível.
Depois de realizarem a ultrapassagem, os motoristas dão seta e vão para a faixa mais à direita.
Outra prática comum no país – e presenciada pelo G1 em um trecho entre Ingolstadt e Munique – é a de abrir um corredor automaticamente quando uma ambulância de aproxima.