Um guia científico para lidar com o tédio
Pode até ser chato, mas às vezes é interessante se render a ele
Às vezes, momentos de tédio podem ser mais interessantes do que parecem. Muitos cientistas o enxergam como um incubador para ideias e genialidade — é o lugar confuso, desconfortável e frustrante que deve ser ocupado antes de finalmente encontrar soluções para problemas.
Em uma entrevista à revista Wired, o fundador da Apple, Steve Jobs, disse: “acredito muito no tédio… Todas as coisas tecnológicas são maravilhosas, mas não ter nada para fazer pode ser maravilhoso também”. Ele disse se preocupar com o fato de que os aparelhos criados pela sua empresa talvez acabem com os momentos de tédio.
No livro The Upside of Downtime, publicado em 2016, a psicóloga britânica Sandi Mann explora as causas e consequências do tédio no século 21. Entre elas, pais desesperados para entreter os filhos o tempo inteiro, um sistema educacional que só funciona com interatividade e capacidade de foco diminuindo dia a dia.
Ao mesmo tempo em que temos cada vez menos motivos para nos sentir entediados, estaríamos também nos tornando menos tolerantes ao tédio? A especialista dá algumas dicas para lidar com ele:
Não tente combatê-lo
É um grande paradoxo: precisamos introduzir mais tédio nas nossas vidas para ficarmos menos entediados. Experimente fazer um detox digital, nadar, caminhar sem ouvir música ou só olhar pela janela do carro ou ônibus enquanto vai para o trabalho. Deixar a mente “viajar” pode ser mais produtivo do que tentar ocupá-la.
Estimule o “fazer nada”
Em um estudo feito por Mann, ela e a equipe pediram para pessoas copiarem números de uma lista telefônica. O objetivo era forçar o tédio com uma tarefa bem chata. Depois disso, deram a elas testes de criatividade. Os grupos entediados se saíram muito melhor do que os que não tiveram que passar pela chateação.
Tente reduzir as opções de entretenimento
Isso funciona especialmente para crianças que, quando têm muitos brinquedos à disposição, acabam ainda mais ligadas e facilmente entediadas. Pode ser difícil no início, mas ter poucas opções à mão, como somente um papel e uma caneta, seria uma maneira bem mais criativa e eficaz de lidar com o tédio.
E esconda as tranqueiras
Quando você está entediado, é natural buscar guloseimas como chocolate ou salgadinho. Comer algo que consideramos gostoso libera doses mais altas e imediatas de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar. O problema é quando isso acontece frequentemente. Aí, o ideal é esconder essas comidas para não cair em tentação – ou melhor: usar o tempo para preparar, você mesmo, um lanchinho mais saudável e, se bobear, até mais gostoso.