Procurador-geral da República relaciona leitura de jornais a notícias falsas
BRASÍLIA — O procurador-geral da República, Augusto Aras, recomendou nesta quarta-feira que as pessoas leiam jornais com cuidado, para evitar acreditarem em fake news. Segundo ele, as notícias falsas não são disseminadas apenas por blogueiros e redes sociais, mas também por “todos os segmentos de comunicação moderna”. A fala de Aras segue o mesmo padrão adotado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, que frequentemente atacam os veículos de comunicação da imprensa profissional.
— Sabemos que o fenômeno maligno das fake news não se resume a blogueiros e a redes sociais. Ele é estimulado por todos os segmentos da comunicação moderna sem peias, sem aquele respeito que a nossa geração aprendeu a ler o jornal acreditando que aquilo era verdade. Temos que ter mais cuidado na leitura das notícias, para fazermos um filtro fino para encontrar um mínimo de plausibilidade em relação a essa campanha de fake news que não guarda limites de nenhuma natureza. E o pior, que vai estimulando comoções sociais, que vai sustentando pensamentos extremistas, que vai levando a sociedade já desesperada em meio a uma calamidade pública a sentimentos de revolta, incitação e submetida a reação muito delicadas para a nossa democracia — disse.
A observação foi feita em sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta quarta-feira, o plenário julga se o inquérito aberto no ano passado para investigar ataques aos ministros do tribunal e a disseminação de notícias falsas permanecerá aberto, ou se será arquivado por irregularidades. Aras defende que o inquérito continue aberto, desde que o tribunal consulte a Procuradoria-Geral da República (PGR) antes de determinar operações contra suspeitos.
Segundo Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), a precupação do Ministério Público Federal (MPF) em combater as fake news é “louvável”, mas a declaração de Aras denota um “completo desconhecimento” da realidade:
– A imprensa profissional, como o Ministério Público, não vive de erros, vive de acertos. Quando nós erramos, nós corrigimos o erro, por dever profissional. Misturar a imprensa, que tem CNPJ, com ataques anônimos, é uma profunda demonstração de desconhecimento sobre a atuação do jornalismo no mundo todo.
Para a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, Aras se equivoca ao tentar definir o que é fake news.
– O reino das fake news não é o jornalismo. O jornalismo, ao contrário, é o espaço de produção de informação de qualidade – diz ela. – Esse fenômeno novo (das fake news), que adquiriu proporções mundiais, consiste na produção e disseminação em massa de informações falsas e/ou fraudulentas com objetivo definido. Ele tem responsáveis diretos e indiretos que precisam ser identificados e punidos.