O que esperar de Rodrigo Maia após o fim do mandato na presidência da Câmara?
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entregará seu cargo no comando da Casa Baixa do Legislativo no próximo dia 1º. Será o fim de uma jornada de mais de 1600 dias, o maior período consecutivo de um presidente desde a redemocratização do país.
Maia foi eleito presidente da Câmara pela primeira vez em 2016, numa votação que escolheu um chefe para aquele que seria um “mandato-tampão” após a queda de Eduardo Cunha (MDB-RJ). Ele renovou o seu mandato com duas vitórias relativamente tranquilas nas disputas de 2017 e 2019. Uma nova candidatura em 2021 foi cogitada, mas acabou derrubada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
De volta ao cotidiano dos deputados “normais”, Maia pode desempenhar os papéis habituais dos parlamentares, como ser autor ou relator de projetos de destaque, liderar a bancada de seu partido ou presidir alguma comissão. O mais provável, porém, é que ele siga os passos de seus antecessores e não ocupe, no curto prazo, posições de destaque na Casa – o que não deve tirar dele o peso de articulador de relevo.
Além de deputado, Maia é uma das figuras mais importantes de seu partido, e terá papel-chave na definição do rumo do DEM para os próximos anos. O partido reúne quadros simpáticos ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), como os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura). Mas tem, na mão oposta, o próprio Maia e outros líderes que contestam o trabalho do Executivo.
O posicionamento de Maia de contrariedade à gestão Bolsonaro se manifesta também na disputa atual pela sua sucessão. O parlamentar é o principal fiador da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), que se apresenta como independente e conta com apoio de partidos da oposição, como PT e PDT. O maior adversário de Rossi é Arthur Lira (PP-AL), que tem sua candidatura chancelada pelo governo Bolsonaro. Maia tem utilizado a proximidade entre Lira e Bolsonaro para criticar o alagoano.
“Depois que sai da presidência, fica difícil ser qualquer coisa”
O ex-deputado Aldo Rebelo (SP), atualmente filiado ao Solidariedade mas que passou a maior parte da sua vida pública vinculado ao PCdoB, não acredita que as tensões eleitorais que a Câmara registra atualmente devam se prorrogar após a contagem dos votos. “A Câmara tem uma agenda que antecede as próprias eleições. É também importante a relação da Câmara com o Executivo. Com isso, a agenda não é de apenas uma casa, ela se faz por meio de corresponsabilidade”, declarou.
Rebelo foi presidente da Câmara entre 2005 e 2007. Tal qual Maia, ele assumiu o comando da casa após o fim de uma crise institucional – foi eleito para suceder Severino Cavalcanti (PP-PE), que ficou na função por cerca de sete meses e caiu após ser alvo de denúncias de corrupção.
Segundo o ex-parlamentar, o retorno ao cotidiano da casa após o exercício da presidência é marcado pelo aumento da influência exercida sobre os demais deputados. “O ex-presidente acaba sendo ouvido de forma diferente, por conta da experiência que acumulou. Ele passa a integrar um grupo dos deputados que são ouvidos para falar de determinadas matérias, em especial as mais complexas”, disse.
O ex-deputado não crê que Maia deva ocupar alguma posição formal de destaque na Câmara, como a liderança do seu partido, a presidência de uma comissão importante ou mesmo outra vaga na mesa diretora. “Depois que se sai da presidência, fica difícil ser qualquer outra coisa. Porque já se foi a posição mais importante. E aí sempre tem algum colega que ainda não ocupou as posições de destaque, que acaba então ficando na frente”, disse.
Rodrigo Maia terá a companhia de poucos ex-presidentes da Câmara no seu retorno ao “andar de baixo” da casa. Apenas dois ainda são deputados federais: Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente entre 2007 e 2009, e Aécio Neves (PSDB-MG), presidente entre 2001 e 2002. Após comandar a Câmara, o petista se reelegeu em 2010, 2014 e 2018 – na última eleição, recebeu pouco mais de 87 mil votos. Já
Aécio deixou a Câmara justamente em 2002 e retornou à Casa apenas no ano passado. No período, foi governador de Minas Gerais (2003-2010) e senador (2011-2018), além de ter sido candidato a presidente da República em 2014.
Assim como Aécio e Chinaglia, Maia deverá ocupar um dos melhores gabinetes da Câmara. Isso porque o regimento da casa determina que os ex-presidentes têm à sua disposição um gabinete no prédio principal do Congresso, que além da localização tem dimensões maiores do que os destinados aos demais parlamentares.
Maia presidenciável?
Como ex-presidente nacional do DEM, Maia ocupa um posto na executiva do partido. E sua voz deverá ser decisiva para a definição do rumo da legenda nos próximos anos.
O DEM não lança um candidato a presidente desde 1989, quando o partido ainda se chamava PFL. Para 2018, a legenda cogitou apresentar o próprio Maia, mas desistiu após identificar que a pré-candidatura não decolava nas pesquisas.
Hoje, o DEM se vê diante de três principais hipóteses. Uma é a de adesão à tentativa de reeleição de Bolsonaro. Além dos ministros Onyx e Tereza Cristina, o partido tem outras figuras simpáticas ao governo, como o governador Ronaldo Caiado (GO) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), que chegou a ser cotado para um ministério de Bolsonaro.
Outra possibilidade é a de repetição da histórica aliança com o PSDB, que o partido efetuou em todas as eleições presidenciais desde 2006. Os tucanos têm, hoje, como pré-candidato o governador de São Paulo, João Doria – cujo vice é Rodrigo Garcia, integrante do DEM.
Por fim, há a possibilidade que o DEM dispute a eleição presidencial com nome próprio, e Rodrigo Maia se credencia como o indicado ao posto. O parlamentar não só se mostrou uma liderança em seu partido, mas a sua abordagem crítica a Bolsonaro indica também a busca por um protagonismo nacional.
“A impressão que tenho é que ele vai ter um papel importante não só na própria Câmara, mas também fora dela. Ele é uma liderança importante, já foi presidente do DEM e creio que ele vai ocupar espaço na articulação política nacional”, acrescentou Aldo Rebelo.