Na economia verde, governo incentiva indústria brasileira a ir além das commodities

Governo quer fomentar cadeia de valor da nova economia e busca agenda interministerial para comércio exterior e desenvolvimento industrial

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O vice-presidente Geraldo Alckmin subiu ao palco do Fórum de Competitividade, evento realizado pelo Movimento Brasil Competitivo na quarta-feira, 17, em Brasília, como presidente em exercício, visto que Luiz Inácio Lula da Silva já havia deixado o país rumo ao Japão, onde participaria da reunião do G7. Alckmin resumiu a complexidade de ser competitivo em tempos de mudanças climáticas.

“Hoje, a questão não é onde produzo bem e a um custo baixo, é onde produzo bem, a um custo baixo e com sustentabilidade”, disse o vice-presidente.

Suas palavras ecoaram o discurso de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, também presente ao evento. “Estamos nos movendo para uma economia verde, sustentável e, agora, para uma era de inteligência artificial”, disse Schwab à EXAME, logo após a sua palestra no Fórum, que também contou com a organização da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo e com a parceria de mídia da EXAME.

A boa notícia é que, segundo Schwab, essa nova conformação da economia coloca o Brasil em um lugar de vantagem competitiva. Há a necessidade de se criar modelos de produção, que congreguem antigas capacidades industriais, com as novas tecnologias e conceitos da economia verde. “O Brasil pode criar essa combinação e fazer um leapfrog, desde que governo, sociedade e empresas caminhem juntos”, disse ele, usando o termo em inglês que descreve o processo de rápido avanço tecnológico que permite pular etapas de desenvolvimento.

Sustentabilidade é pauta prioritária

Fazer isso depende, como disse Schwab, de uma atuação conjunta entre os setores público e privado. As escolhas que serão feitas agora ditarão os rumos dos investimentos privados, e ganhos rápidos podem confundir em momentos de transição, quando se tem grandes players deixando espaços vazios por já estarem pensando no futuro. Talvez a grande tarefa deste governo seja evitar que o Brasil escolha o que já deu certo, e ignore o que vai dar certo. Esse filme não é inédito.

“Não devemos vender apenas commodities”, disse à EXAME Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que também participou da conferência. “O desafio nessa nova economia é desenvolver a cadeia de valor.”

Rollemberg está à frente de uma área estratégia do MDCI, ministério comandado por Alckmin. No dia anterior à conferência, o vice-presidente participou da reunião do Grupo de Trabalho de Comércio e Sustentabilidade (GT-Sustentabilidade), cujo objetivo é fomentar política e programas de comércio exterior com foco em sustentabilidade.

Participaram da reunião os ministros da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa; da Fazenda, Fernando Haddad; da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck; o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; e o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; além do secretário-geral do ministério da Defesa, Luiz Henrique Pochyly; e do secretário-executivo do ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães.

Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, discursa no Fórum de Competitividade, em Brasília (Rodrigo Caetano/Exame)

O plano para ir além das commodities

Segundo Rollemberg, o caminho para esse desenvolvimento passa por três aspectos principais: a atuação interministerial, o foco em educação e ciência, e o fomento a cadeias produtivas que geram valor a partir dessa “neoindustrialização” baseada na economia verde.

As oportunidades são gigantescas, e vão desde grandes investimentos em infraestrutura de energia, como as eólicas offshore, que demanda bilhões de dólares; até ações que dependem mais da vontade do que do dinheiro, como o fomento a atividades extrativistas sustentáveis na Amazônia, com a produção de superalimentos – castanha, açaí etc. Mas é preciso pensar grande.

“O quilo da amêndoa, por exemplo, custa 10 reais. Já o quilo do chocolate com amêndoas custa 200 reais”, exemplifica o secretário. “É esse modelo que precisamos buscar.”

Hidrogênio verde como modelo

Uma das grandes apostas, e talvez a que oferece os ganhos mais vultosos, está no mercado de hidrogênio verde. O Brasil é considerado, com propriedade, como o “Oriente Médio do hidrogênio”, pela infinita capacidade de produção de energia renovável, especialmente eólica, solar e biomassa. Há, nesse sentido, um projeto em desenvolvimento no Porto de Pecém, no Ceará, que tem o potencial de ser replicado em outros locais.

A ideia cearense é construir no porto um hub de exportação do combustível, que pode ser liquefeito se transformado em amônia. A energia para a produção virá de uma nova capacidade eólica a ser instalada na costa, no modelo offshore, em conjunto com usinas solares — existem poucos lugares no mundo com tanto sol e vento quanto o Nordeste, especialmente no Ceará, no Rio Grande do Norte e em Sergipe.

Em uma área ao lado do porto, o governo cearense também planeja um polo industrial. Para isso, vai transformar a Refinaria de Pecém, projeto antigo que acabou não dando certo, em uma refinaria de biocombustíveis. O objetivo é atrair indústrias pesadas e emissoras que vejam vantagem em reduzir a pegada de carbono par atender políticas ambientais, especialmente, de países europeus. “Podemos replicar esse modelo em outros portos”, afirma Rollemberg.

Antes de tudo, no entanto, o secretário tem a missão de regulamentar o mercado de carbono no Brasil, o que deve acelerar os investimentos. “Quem não incorporar essa nova realidade, perderá competitividade”, define Rollemberg. Nunca foi tão fácil para o Brasil ganhar (ou perder) competitividade.

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