Lula deve discutir moeda comum e ampliação do Brics em primeira reunião com líderes
Presidente tem encontro reservado nesta terça-feira com representantes de países do bloco; guerra na Ucrânia está na pauta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai ter uma reunião reservada nesta terça-feira (22) com líderes do Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na conversa, o presidente deve abordar ao menos quatro assuntos: a ampliação do bloco, a adoção de uma moeda comum para o comércio entre os países do grupo, mudanças no funcionamento de organismos internacionais e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Os dois primeiros tópicos são constantemente abordados por Lula, que defende a expansão do Brics para a inclusão de novos países em desenvolvimento, como Argentina, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Hoje, segundo o Ministério das Relações Exteriores, ao menos 22 países têm interesse em participar do bloco. De acordo com a pasta, o governo brasileiro vai debater quais serão os critérios para que o grupo possa ser ampliado.
“A primeira expansão do Brics ocorreu em 2011, com a incorporação da África do Sul. E, desde então, sempre se discutiu qual seria a melhor forma de interação entre os membros do Brics e os países emergentes não membros. Chegou-se à conclusão de que era preciso organizar um pouco isso. Organizar e discutir critérios e princípios e procedimentos para essa expansão”, disse o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo Saboia.
“Quando se fala de expansão, ela pode significar a incorporação de novos membros, como com a África do Sul, ou o estabelecimento de categoria de países parceiros, de membros associados. Isso tudo está em negociação e será um dos resultados da cúpula”, acrescentou o diplomata.
Sobre a adoção de uma moeda comum para o comércio, Lula já fez essa proposta aos países da América do Sul e aos que compõem o Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai). Além disso, ele se disse a favor da medida em encontros com os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e da China, Xi Jinping.
Lula é entusiasta da proposta por entender que é preciso reduzir a dependência de moedas estrangeiras, sobretudo o dólar, e também amenizar os custos operacionais de transações que envolvem os países. “Esse é um tema que será discutido certamente pelos líderes, e é possível e provável que haja um resultado nessa área”, disse Saboia.
O presidente brasileiro também vai defender mudanças em organismos internacionais que são compostos apenas de nações desenvolvidas. Lula tem afirmado que entidades de governança internacional precisam ser mais amplas e ter a presença de nações emergentes.
Uma das críticas do chefe do Executivo é em relação ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), responsável por zelar pela manutenção da paz mundial. O órgão é composto de 15 membros, dez deles não permanentes e cinco permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia).
“Uma das vocações do Brics é a de promover uma reforma da governança, fortalecer o papel dos países emergentes nos sistemas de governança. Nesse quesito, um ponto que tem sido ressaltado pelo Brasil é a necessidade de reforma do Conselho de Segurança para contemplar uma ampliação no número de membros permanentes e não permanentes. Os países do Brics são fortes candidatos”, comentou Saboia.
Em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula pretende reforçar o seu posicionamento de que os dois países precisam entrar em acordo para cessar o conflito. O presidente brasileiro tem adotado um comportamento neutro em relação ao caso. Por mais que já tenha reconhecido que a invasão do território ucraniano foi um erro, Lula diz que o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, também tem uma parcela de culpa por não negociar o fim da guerra com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.