JBS comprou gado ilegal na Amazônia, diz Anistia Internacional

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RIO – Um relatório da Anistia Internacional denunciou nesta quarta-feira que gado bovino criado ilegalmente na Amazônia faz parte da cadeia de suprimento da gigante do setor JBS.

De acordo com o relatório, a criação ilegal das cabeças de gado se deu em terras pertencentes a povos indígenas e reservas extrativistas.

A entidade monitorou e entrevistou indígenas e moradores tradicionais de três áreas protegidas em Rondônia, na Região Norte: a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e as Reservas Extrativistas do Rio Jacy-Paraná e do Rio Ouro Preto. Também examinou documentos oficiais de controle de saúde animal e imagens de satélite dos locais.

“Imagens de satélite feitas ente janeiro e maio de 2020 mostram claramente tentativas recentes de ampliar a pecuária bovina comercial ilegal nas três áreas”, diz o estudo. “As imagens revelam áreas desmatadas recentemente, a construção de bebedouros de água para gado e a presença de gado bovino pastando nessas áreas”.

Os dados obtidos mostram que, entre novembro de 2018 e abril de 2020, o número de animais nos locais examinados passou de 125,5 mil a 153,5 mil, um aumento de 22%. E extensos espaços foram desmatados, como uma área de 200 hectares dos povos indígenas em fins de 2019.

A Anistia afirma que a JBS comprou gado criado ilegalmente nessas localidades, oriundo de fazendeiros que operam na região, após analisar relatórios sobre saúde animal. As cabeças de gado teriam sido transferidas para fazendas situadas fora das áreas protegidas.

A entidade diz em seu informe que, embora não haja evidências de violação de direitos humanos diretamente pelo frigorífico, os documentos indicam que a compra de cabeças de gado ilegais foi efetuada pela empresa.

“Transferir gado bovino através de fazendas intermediárias para dar aparência de legalidade ao gado bovino, apesar de ter sido criado em fazendas localizadas em áreas protegidas onde a pecuária bovina comercial é ilegal, é uma prática conhecida como lavagem de gado”, afirma a entidade. “Há indícios de que esses dois fazendeiros tenham recorrido à lavagem de gado para burlar os sistemas de monitoramento existentes e vender à JBS gado bovino criado nessas áreas protegidas.”

Segundo a Anistia, a prática remonta a 2009, ano em que a JBS havia assinado acordo contra desmatamento com o Ministério Público Federal, e a empresa tinha conhecimento dos riscos.

Mesmo assim, segundo Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, a companhia não instalou um sistema de monitoramento que coibisse a prática em sua cadeia de fornecimento.

— Estamos monitorando essa situação há 18 meses na Amazônia — disse Jurema ao GLOBO. — Boa parte do desmatamento lá se destina à criação de gado, embora nem toda criação seja ilegal. Mas há pessoas que invadem territórios indígenas, quilombolas e extrativistas para criar gado ilegalmente, derrubam as árvores e ameaçam os moradores, às vezes os expulsando.

Segundo a diretora da Anistia, esses fornecedores da chamada lavagem do gado devem ser devidamente rastreados, a movimentação das cabeças de gado entre propriedades legais e ilegais aferida de fato.

— Quando a JBS não monitora toda a sua cadeia de fornecimento, e não tem um controle realmente aprimorado, ela acaba comprando e lucrando com gado ilegal que traz em seu bojo a violação de direitos humanos e ambientais — diz Jurema. — Nosso chamado à JBS e aos governos federal e estadual com o relatório é para que se cumpram com suas responsabilidades e regras de conformidade para garantir que não haja qualquer violação da lei.

Contatada pelo GLOBO, a JBS respondeu em um comunicado que “não compra gado de nenhuma fazenda envolvida com irregularidades em áreas protegidas”.

A companhia afirma que seu sistema de geomonitoramento “é um dos mais sofisticados do mundo, usando os melhores e mais recentes dados para reforçar nossa abordagem inequívoca de desmatamento zero.”

De acordo com a JBS, “qualquer fazenda não compatível com nossas políticas de fornecimento sustentável é bloqueada em nossa cadeia de suprimentos. Isso inclui a exclusão automática de qualquer propriedade envolvida no desmatamento de florestas nativas, invasão de áreas protegidas, como terras indígenas ou áreas de preservação ambiental, ou fazendas com áreas embargadas pelo Ibama”.

A companhia destaca ainda que auditorias independentes realizadas nos últimos seis anos “revelam 99,9% de conformidade com esses padrões. Em 2019, 100% das compras diretas atenderam aos nossos critérios socioambientais”.

Segundo o informe da Anistia Internacional, o Brasil tem cerca de 214 milhões de bovinos, mais que qualquer outro país, e o setor movimenta R$ 618 bilhões, sendo responsável por 8% do PIB nacional. E desde 1988 o número de bovinos na região amazônica aumentou quase quatro vezes, chegando a 86 milhões em 2018 – 40% do total nacional.

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Fonte yahoo
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