Flavio Bolsonaro posta vídeo do corpo de ex-PM Adriano da Nóbrega em rede social; secretaria de Segurança da Bahia rebate acusações
O senador Flavio Bolsonaro (sem partido) publicou em sua conta do Twitter, na tarde desta terça-feira, um vídeo do corpo do ex-capitão Adriano da Nóbrega. Na gravação, o cadáver aparece de costas e em determinado momento, é filmada a etiqueta com a identificação do corpo utilizada pela perícia da Bahia. Na postagem, o parlamentar afirmou que peritos não conseguiram concluir se Adriano foi ou não torturado antes de ser morto em uma operação policial realizada pela polícia militar da Bahia.
“Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões”, escreveu Flávio.
Em nota divulgada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia na noite desta terça-feira, o diretor do Instituto Médico Legal do estado, Mário Câmara, negou que haja sinais de tortura e agressão no corpo de Adriano. No comunicado, o nome de Flavio e sua postagem não são citados expressamente. A assessoria refere-se apenas a um “vídeo que circula na internet”.
“O laudo pericial descreve exatamente os orifícios de entrada, os orifícios de saída, a trajetória dos projéteis, a angulação, não há nenhum sinal de tortura no corpo, não há sinal, no corpo, de execução. Há sinais sim, pela angulação dos projéteis, de um confronto com a polícia. Agora é preciso complementar com outros laudos, com a investigação policial. Essa história toda, essas filmagens que estão aparecendo, não são técnicas, são argumentações de leigos que nos ofendem bastante”.
Já o secretário de segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, afirmou que o vídeo divulgado por Flavio não foi feito nas instalações oficiais do IML da Bahia. “Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído”, afirmou ele.
Sobre a gravação veiculada por Flavio, Mário Câmara disse que foi surpreendido pelas imagens que estão circulando e afirmou não ser possível analisar um vídeo que não foi analisado pela perícia. “Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo. O que eu posso dizer, é reiterar que o laudo pericial foi feito por um perito médico legal especialista na área, com formação e balística, muito experiente em casos como este.
Em 2005, quando era deputado estadual, Flavio condecorou Adriano na Alerj. A mãe e a ex-mulher do ex-capitão do Bope, Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa, foram lotadas no gabinete de Flávio também quando ele era deputado estadual, em 2018. No mês passado, a família do miliciano foi acusada pelo MP de participar de um suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar, na Alerj. Segundo o pedido de busca e apreensão feito pelos promotores, as duas teriam transferido R$ 203 mil para Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente.
Na semana passada, Flavio fez uma postagem na qual afirmou que Adriano tinha sido “brutalmente assassinado”.
Na manhã desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que havia pedido que fosse realizada uma perícia independente no corpo de Adriano da Nóbrega. “Primeiro eu estou pedindo, já tomei as providência legais, que seja feita uma perícia independente, que sem isso você não tem como buscar até, quem sabe, quem matou a Marielle. A quem interessa não desvendar a morte da Marielle? Os mesmos a quem não interessa desvendar o caso Celso Daniel”, afirmou Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada.
No último sábado, durante inauguração de uma obra no Rio, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que foi ele quem determinou que o filho homenageasse o ex-policial militar. Adriano foi acusado pelo MP do Rio de ser um dos chefes da milícia de Rio das Pedras.
– Para que não haja dúvida. Eu determinei. Manda pra cima de mim. Meu filho condecorou centenas de policiais militares. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção há 15 anos atrás. As pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam. Não estou fazendo juízo de valor. Vamos esperar as investigações. Se bem que se for o padrão do porteiro da minha casa… – disse Bolsonaro, criticando as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco.
O presidente também disse que a responsabilidade pela morte de Adriano era da Polícia Militar (PM) da Bahia.
– Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa? – disse ele, ao ser perguntado se estava acompanhando as investigações do caso.
Indagado ainda se atribuía a morte a uma questão política, Bolsonaro se esquivou e voltou a dizer que quem matou Adriano foi a PM da Bahia. Em seguida, ele comentou as condecorações feitas por seu filho ao miliciano, chamado por ele de “herói”.
– Ele foi condenado em primeira instância e absolvido em segunda – disse Bolsonaro, referindo-se a um processo no qual Adriano foi acusado de matar um guardador de carros. – Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano (2005), era herói da Polícia Militar. Como é muito comum, um PM quando está em operação mata vagabundo, traficante – disse Bolsonaro.
Ao ser questionado sobre a ligação de Adriano com a milícia no Rio, ele afirmou desconhecer o grupo paramilitar.
– Eu não conheço a milícia no Rio de Janeiro. Desconheço. Não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro – afirmou.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher dele, Danielle Mendonça, já trabalharam no gabinete de Flávio na Alerj. No mesmo evento na Zona Portuária do Rio, o senador também comentou a homenagem que prestou ao ex-capitão do Bope no passado.
– Eu, como deputado estadual, homenageei centenas e centenas de policiais militares que venciam a morte todos os dias. E vou continuar defendendo. Não adianta querer me vincular à milicia porque não tem absolutamente nada com a milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos – disse o filho do presidente. – A revista “Veja” desta semana dá a informação de que queriam cremar o corpo dele. Fiz questão de ir para as redes sociais e pedir que não fizessem. Porque, pelo que eu soube, pelo que está na revista, ele foi torturado – completou.
Na última sexta-feira, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Bahia, responsável pelo exame de necrópsia feito no corpo de Adriano, convocou uma entrevista coletiva para esclarecer detalhes da morte do ex-capitão. O médico-legista Alexandre Silva, responsável pela necrópsia no corpo do miliciano, afirmou aos jornalistas que as marcas de tiros deixadas no corpo de Adriano não apresentam características de tiros à queima roupa.
De acordo com as informações divulgadas na coletiva, o miliciano Adriano da Nóbrega foi morto por dois tiros de fuzil, de no mínimo um metro e meio de distância, e chegou ao Instituto Médico Legal de Alagoinhas, a pouco mais de 135 quilômetros de distância de Salvador, com os dois pulmões destruídos e o coração dilacerado. A necrópsia atestou que os tiros foram de fuzil, mas o calibre da arma ainda não foi determinado.
– Eram dois disparos de arma de fogo. Teve um primeiro, que passou por baixo do peito, saiu rasgando o pescoço, e entrou na submandibular. Eu encontrei o projétil na região do pescoço. O segundo foi na região da clavícula. Esse aqui entrou e saiu nas escápulas. Essas foram as lesões provocadas por armas de fogo – explicou Alexandre Silva.