Ex-diretor do BC diz que Copom não deve “sacudir o barco” em comunicado amanhã
Fabio Kanczuk, que também foi diretor de Política Econômica no governo Michel Temer, acredita que situação atual sugere um recado neutro
“Don’t rock the boat” (não sacuda o barco, em tradução literal). Esse é conselho que Fabio Kanczuk, ex-secretário de Política Econômica no governo Michel Temer e ex-diretor do Banco Central, deu nesta terça-feira (25) para o comunicado que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai divulgar após o anúncio da decisão sobre a taxa de juros amanhã, que provavelmente será de manutenção da Selic em 13,75%.
O head de Macroeconomia da Asa Investiments disse, em entrevista ao Macro Pickers, que a preocupação do Banco Central não é com taxa do momento, o juro overnight, mas com a curva de um ano à frente. “Na última reunião, ele (o BC) precisou dar sinais, mas de um mês e meio para cá, coisa andaram ao lado dele”, disse. Com isso, ele acredita que o Copom dest quarta-feira precisa ser um “não-Copom”. “Não mexe em time que está ganhando, não fala nada de diferente (no comunicado)”.
Kanczuk acredita, inclusive, que os dois diretores que fugiram do consenso na última reunião e votaram por uma nova alta adicional de 0,25 ponto porcentual (Fernanda Magalhães Guardado e Renato Dias de Brito Gomes) devem votar desta vez junto com os demais membros do comitê, pela manutenção da taxa no patamar atual.
O ex-diretor do BC vê no momento a política monetária puxando a atividade para baixo, enquanto a política fiscal puxa para cima – devido aos cerca de R$ 40 bilhões em auxílios que entraram na economia desde agosto. Por isso, acredita, não está acontecendo um aquecimento da economia.
A expectativa do head de macroeconomia da Asa é que o estímulo fiscal perca força já no quarto trimestre, o que pode fazer com que o BC já comece a reduzir os juros no primeiro trimestre de 2023.
Estados Unidos
Sobre a economia dos Estados Unidos, Kanczuk acredita que o Federal Reserve conseguirá reduzir a inflação hoje superior a 8% ao ano para algo perto de 3,5%. Mas ele não crê ser possível levar a inflação de volta à meta de 2% ao ano sem uma recessão.
Ou seja, a situação vai exigir uma dose mais forte de juros. Na reunião do Fomc da próxima semana, é praticamente certo que as taxas vão subir novamente em 75 pontos-base. Mas o ex-diretor do BC não acredita que o ritmo vá diminuir em dezembro, para quando projeto um aperto igual aos dois anteriores.
Essa possível recessão nos Estados Unidos deve trazer como herança positiva uma queda nos preços, mas terá como efeito negativo uma depreciação de moedas como o real. Mas a moeda brasileira sofreria menos porque os juros aqui estão mais altos.