Disputa ao Senado em SP segue indefinida na esquerda e na direita
Neste ano, o pleito eleitoral renovará um terço do Senado; serão eleitos 27 senadores, um para cada unidade da Federação
A disputa por uma vaga ao Senado por São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, segue indefinida a menos de cinco meses das eleições de outubro deste ano. O cenário aponta para uma fragmentação de candidaturas nos campos da direita e da esquerda.
O Republicanos tem como pré-candidato ao governo do estado o ex-ministro da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas. De acordo com lideranças da sigla ouvidas pela reportagem, o partido analisa lançar na chapa o apresentador José Luiz Datena ao Senado.
“Estamos analisando os diversos nomes postos, e a tendência é que seja o Datena”, disse uma fonte que participa das negociações. “Mas também temos outros nomes, como Paulo Skaf. O objetivo é criar musculatura na chapa de Tarcísio”, completou.
De olho nas eleições, Datena se filiou recentemente ao PSC (Partido Social Cristão). Na ocasião, o partido divulgou uma nota em que afirmou que o apresentador iria “caminhar” junto com Tarcísio. A filiação ocorreu como resposta à filiação do ex-juiz Sergio Moro ao União Brasil, partido ao qual o apresentador era filiado anteriormente.
A reportagem apurou que o presidente Jair Bolsonaro vê com bons olhos a candidatura de Datena e tem conversado com Tarcísio sobre a eventual chapa. Caso o apresentador não pleiteie o cargo nas eleições de outubro, há espaço para outras candidaturas que buscam o selo de bolsonarista no estado. É o caso da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e da deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP).
Nos últimos dias, Carla Zambelli e Janaina Paschoal discutiram nas redes sociais sobre a posição de candidato bolsonarista no estado. A deputada estadual, que foi uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), questionou o motivo de Bolsonaro querer um “pau-mandado” ao Senado.
A aliada de primeira hora do presidente respondeu dizendo que não se sente submissa ao presidente, mas afirmou que, por críticas como as de Janaina, analisa a candidatura à Casa. Janaina, por sua vez, retrucou e, no final, disse que permanecem amigas.
“Convergimos em alguns pontos, divergimos em outros, especialmente no estilo. Mas quero deixar bem claro: eu sou pré-candidata ao Senado, ainda que venham Carla, Moro, Datena, Skaf, Tício, Mévio e Caio”, disse Janaina.
Depois da saída de João Doria do comando de São Paulo para disputar a Presidência da República, Rodrigo Garcia assumiu a posição de governador do maior colégio eleitoral do país e disputará o cargo nas eleições de outubro.
“O foco do governador agora é comandar São Paulo. Não estamos fazendo negociações nesse sentido [da vaga ao Senado]”, contesta o presidente do PSDB no estado, Marco Vinholi.
As articulações sugerem que a vaga da chapa ao Senado seja ocupada pelo União Brasil, partido que nasceu da fusão entre DEM e PSL. Um dos nomes cotados, nesse caso, é o do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite.
“Nós ainda estamos conversando sobre as possibilidades no palanque paulista. Mas há negociações em relação ao União Brasil ter prioridade na indicação, seja para vice [de Garcia] ou ao Senado”, relatou o deputado federal Junior Bozzella, vice-presidente do União Brasil em São Paulo.
Corre por fora a médica Nise Yamaguchi, que havia se filiado ao PTB em fevereiro, mas migrou para o PROS em abril. A profissional ficou conhecida por ser ferrenha defensora do tratamento precoce para Covid-19, comprovadamente ineficaz contra a doença. Ela chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde após a demissão de Luiz Henrique Mandetta do cargo.
Os partidos de esquerda e centro-esquerda também se articulam na montagem das composições das chapas, mas com indefinições. O ex-prefeito da capital paulista Fernando Haddad é pré-candidato ao Governo de São Paulo pelo PT. A tendência da legenda é não indicar nome ao Senado e, assim, abrir a oportunidade para outras siglas.
“Nós estamos trabalhando para montar uma ampla aliança de centro-esquerda, e evidentemente há de ceder espaços. A ideia é lançar Haddad ao governo e que a vaga ao Senado seja indicada por outro partido”, conta o deputado estadual Emidio de Souza, coordenador do programa de governo petista.
O PT defende a ideia de que o ex-governador paulista Márcio França seja o nome ao Senado na chapa com Haddad. Do lado do PSB, o inverso – França ao governo e o petista à Casa Legislativa. No entanto, as negociações continuam, e o martelo ainda não foi batido.
“Nós respeitamos a vontade de França de querer o comando do estado, mas temos um candidato em que todas as pesquisas eleitorais pontuam em torno dos 30% das intenções de voto. Logo, não é razoável que um candidato com essa musculatura desista em favor de outro”, argumenta Emidio.
A reportagem apurou ainda que o PSOL aventa a possibilidade de lançar o presidente do partido, Juliano Medeiros, para a vaga ao Senado. Procurado, o dirigente disse que a ação “não está em discussão por ora”.
Já o PV, que fechou federação com o PT recentemente junto com o PCdoB, avalia o nome de Roberto Tripoli. O PDT, de Ciro Gomes, estuda lançar Aldo Rebelo ao Senado na chapa com Elvis Cezar ao governo.
Pesquisa divulgada pelo Instituto Quaest na última quinta-feira (12) mostra Datena com 28% das intenções de voto ao Senado em São Paulo no cenário estimulado. Na sequência, aparece Sergio Moro, com 16%. França tem 11% e Marina Silva (Rede) e Skaf estão com 10% — a margem de erro é de 2,4 pontos percentuais; portanto, aparecem empatados.
São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, com ao menos 32 milhões de eleitores aptos, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O estado abarca 28 cidades com mais de 200 mil eleitores e somente na capital há 8 milhões de votantes.
Neste ano, o pleito eleitoral renovará um terço do Senado – 27 senadores ao todo, um para cada unidade da Federação. O primeiro turno está marcado para 2 de outubro e um eventual segundo turno ocorrerá no dia 30 do mesmo mês. Os eleitores vão votar, ainda, para presidente da República, governadores, deputados federais, estaduais e distritais.
O processo eleitoral brasileiro se dá por dois modos: majoritário e proporcional. O primeiro caso é utilizado para escolher chefes do Executivo (presidente, governador e prefeito, além de senador). Os candidatos mais votados são eleitos considerando os votos válidos, excluídos os votos em branco e nulos.
Já o sistema proporcional determina as eleições para o Legislativo (deputados federais, estaduais, distritais e vereadores). Nesse caso, o eleitor pode votar tanto no candidato quanto no partido. Logo, as vagas são distribuídas segundo o número de votos recebidos por cada legenda e é utilizado o cálculo do quociente eleitoral.