Capitólio dos EUA tem história turbulenta com bombas, tentativas de assassinato e violência
A invasão do Capitólio dos EUA por uma multidão de apoiadores do presidente Trump não tem precedentes, mas o prédio já testemunhou outros conflitos.
A invasão do Capitólio dos EUA na tarde da última quarta-feira por uma multidão de apoiadores de Trump não tem precedentes. Mas o assento do governo americano já sofreu com bombas, tentativa de assassinato de um presidente e até destruição por forças estrangeiras. Já houve ataques no lado de dentro, incluindo um quase fatal entre dois parlamentares.
Aqui, fazemos uma breve lista das ameaças sofridas pelo Capitólio ao longo dos anos.
1814: Forças britânicas queimam o Capitólio dos EUA
O Capitólio dos EUA ainda estava sendo construído quando foi queimado por tropas britânicas que invadiram Washington DC durante uma das batalhas da Guerra de 1812. Os combatentes “acenderam uma enorme fogueira de móveis” no Hall da Câmara dos Deputados que, de tão intensa, destruiu a estátua de mármore da Liberdade de Giuseppe Franzoni. Outro fogo foi ateado na Câmara da Suprema Corte, que na época ficava no mesmo edifício.
Depois de analisar os danos, vários membros do Congresso pediram para mudar o governo federal para a Filadélfia ou outra cidade que eles achavam ser mais segura. (Ironicamente, Washington DC foi escolhida como capital depois que uma multidão de soldados bêbados e furiosos por não terem recebido salários invadiu a Câmara Legislativa de Filadélfia em junho de 1783.)
1835: Tentativa de assassinato do presidente Andrew Jackson
Em 30 de janeiro de 1835, um imigrante britânico de 30 e poucos anos chamado Richard Lawrence tentou matar o presidente Andrew Jackson na saída do funeral de um congressista no Capitólio dos EUA. Por sorte, a tentativa de Lawrence falhou – duas vezes. Quando a pólvora de sua primeira pistola falhou em acionar o tiro, Lawrence sacou uma segunda arma, mas errou o alvo e foi derrubado por pessoas próximas. Foi a primeira tentativa conhecida de assassinar um presidente dos EUA.
A tentativa ocorreu depois de um aumento na tensão entre parlamentares que viram o presidente vetar uma lei que autorizaria novamente o estatuto do Segundo Banco dos Estados Unidos. Mas Lawrence – um pintor de casas desempregado – foi considerado inocente por ser insano: ele não apenas clamava que Jackson havia matado seu pai, mas também dizia que ele era o rei Richard III e que o veto impediu que pagamentos feitos pelas colônias americanas chegassem até ele.
1856: Espancamento do senador Charles Sumner
Um dos incidentes mais violentos no Capitólio dos EUA aconteceu pelas mãos de seus próprios legisladores. Em 1856, quando a tensão sobre o destino da escravidão no país crescia antes da Guerra Civil, o deputado Preston Brooks, da Carolina do Norte, agrediu violentamente com uma bengala o senador Charles Senmar na Câmara dos Senadores por ele ter feito um discurso contra a escravidão. Sumner acabou se recuperando e Brooks renunciou. Apesar de ser reeleito, Brooks morreu em 1857, antes de assumir a nova legislatura.
1915: Bombas no 4 de julho
Enquanto a nação se preparava para o fim de semana do 4 de julho, dia da independência dos EUA, um ex-professor de Harvard, Erich Muenter, explodiu três bananas de dinamite na sala de recepção do Senado. Muenter depois explicou que se indignou porque financistas americanos estavam ajudando o Reino Unido na Primeira Guerra apesar da oficial neutralidade dos EUA na época. Não houve feridos – o Senado não estava em sessão –, mas o jornal New York Times noticiou que a explosão destruiu um lustre, danificou o teto e arrombou portas – incluindo a do gabinete do vice-presidente.
1954: Ataque de nacionalista porto-riquenho
Em 1954, muito antes do Capitólio ter a segurança reforçada com detectores de metal, quatro nacionalistas porto-riquenhos entraram na galeria da Câmara dos Deputados, sacaram armas e começaram a atirar indiscriminadamente. Um deles balançava uma bandeira de Porto Rico. Cinco deputados ficaram feridos no protesto pela independência do seu território, que os EUA tomaram da Espanha em 1898 durante a Guerra Hispano-Americana. Os agressores serviram longos anos na prisão, mas foram soltos pelo presidente Jimmy Carter depois de uma campanha internacional.
1971: Bombas do Weather Underground
O violento grupo anti-guerra Weather Underground colocou uma bomba em um banheiro da Câmara dos Senadores. A explosão, nas primeiras horas de 1º de março de 1971, causou centenas de milhares de dólares em danos, mas nenhum ferido.
1983: Bomba na Câmara dos Senadores
Também não houve feridos depois que uma bomba escondida embaixo de um banco na entrada da Câmara dos Senadores explodiu, arrombando a porta do gabinete do senador Robert Byrd, da Virgínia Ocidental. Um grupo autointitulado Unidade de Resistência Armada promoveu o ataque em protesto às ações militares dos EUA em Granada e no Líbano. Sete pessoas foram formalmente acusadas.
1998: Tiros em dois policiais do Capitólio
Um agressor armado atravessou o checkpoint de segurança na entrada do Capitólio matando o policial do Capitólio Jacob J. Chestnut e chegando nos gabinetes do líder da minoria da Câmara dos Deputados Tom DeLay. O detetive John M. Gibson pediu que passantes se abaixassem e trocou tiros com o invasor, o homem de 41 anos de Illinois Russel Eugene Weston Jr. Apesar de Gibson ter morrido no incidente, sua ação permitiu que outros policiais controlassem o atirador. O policial foi o primeiro cidadão privado a ter funeral de Estado na rotunda do Capitólio, o salão principal.
2001: Alvo no 11 de setembro
Depois que as Torres Gêmeas caíram e o Pentágono queimou com o impacto de um avião, uma quarta aeronave sequestrada voava a caminho do Capitólio dos EUA durante os ataques terroristas da al Qaeda aos EUA do 11 de setembro. Mas o voo 93 nunca chegou no alvo; passageiros impediram que os sequestradores levassem o plano a cabo, e o avião caiu na zona rural do estado da Pensilvânia. A Comissão Nacional dos Ataques Terroristas depois determinou que o Capitólio era o alvo pretendido.
2013: Mulher rompe checkpoint, é baleada e morre
Em outubro de 2013, uma mulher foi fatalmente baleada por policiais no gramado do Capitólio depois de tentar romper um checkpoint da Casa Branca e provocar uma perseguição de 12 quadras pela capital dos EUA. Miriam Carey, uma dentista de 34 anos do estado de Connecticut, tinha uma criança de um ano no banco traseiro. A autópsia mostrou que ela morreu com cinco tiros – um no lado esquerdo da cabeça, três nas costas e um no braço esquerdo. Sua família depois processou o Serviço Secreto e a polícia do Capitólio por homicídio culposo, alegando uso inapropriado de força.
2016: Tiroteio no centro de visitantes do Capitólio
Em março de 2016, um homem apontou uma arma de brinquedo para policiais quando tentava entrar no centro de visitantes do Capitólio. Os agentes então atiraram no peito e nas coxas do homem de 66 anos, chamado Larry Russell Dawson e residente do estado do Tennessee, que depois foi condenado por tentativa de agressão. Ninguém mais se feriu no ataque. O jornal Washington Post reportou que os motivos de Dawson eram incertos mas que ela já tinha sido preso por gritar dentro do Congresso dizendo que era um “profeta de Deus”. Dawson foi condenado a 14 meses na prisão.
Mesmo com toda essa história, a violenta invasão da última quarta-feira chocou americanos e pessoas do mundo inteiro. Armin Laschet, um político alemão, tuítou: “Os ataques ao Capitólio por apoiadores fanáticos do presidente Trump ferem todos os amigos dos Estados Unidos.”