Bolsonaro chama Moro de ‘mentiroso’, o acusa de vazar relatórios e fala em ‘crime federal’
Presidente mostra troca de mensagens com ex-ministro e diz que trecho comprova que o ex-chefe do Ministério da Justiça tinha "acesso a processos" da Polícia Federal.
Após a publicização, no fim da tarde desta terça-feira (5), do depoimento que Sergio Moro prestou no último sábado (2) à Polícia Federal e ao Ministério Público, o presidente Jair Bolsonaro rebateu acusações, chamando de “mentira deslavada” a informação de que teria pedido relatórios de inteligência. O mandatário também mostrou a jornalistas, na porta do Palácio da Alvorada, uma troca de mensagem com o ex-juiz, em que diz ficar comprovado que seu ex-subordinado tinha “acesso a processos” da PF.
“Em nenhum momento eu pedi relatório de inquérito. É uma mentira deslavada. Tenho até vergonha. Não peço nada ilegal individualmente, que dirá em reunião de ministros”, afirmou. Mais pra frente, em sua fala, porém, o presidente diz: “Eu cobrei relatórios de inteligência da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e de alguns ministérios, além da PF. Cobrei isso de umas 25 pessoas. Agora para que eu vou querer relatório de inquérito? Isso não é trabalho meu”.
Em seu depoimento, Moro disse que “o presidente nunca solicitou a produção de um relatório de inteligência estratégico da PF sobre um conteúdo específico”, até porque sabia que ele e o ex-diretor-geral da PF “jamais violariam sigilo de investigação policial”.
Segundo o ex-ministro, contudo, Bolsonaro recebia relatórios “sobre assuntos estratégicos e de Segurança Nacional”, consolidados com informações de inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e dados de outros órgãos.
Informou ainda que o mandatário era avisado sobre ações que “sensíveis” da PF, como por exemplo a que fez busca e apreensão em endereços ligados ao líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PB). Contudo, essas informações erram repassadas após a deflagração da operação e “não abrangiam dados sigilosos dos inquéritos”.
Depois de dizer que seu ex-ministro mentiu, o presidente mostrou a tela de seu telefone, com o trecho da conversa disponibilizada por Moro ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 24 de abril. Nela, Bolsonaro enviou um link do site O Antagonista ao ex-subordinado com uma notícia que fala de investigações da PF avançando sobre deputados bolsonaristas.
Em pronunciamento aos repórteres, Bolsonaro disse que gostaria de mostrar um trecho acima, não enviado por Moro à Globo. “Isso eh fofoca Tem um DPF atuando por requisição no inquérito da fake news e que foi requisitado pelo Min. Alexandre”, respondeu Moro com essas palavras em uma primeira mensagem, de acordo com a imagem que o presidente mostra. “Não tem como negar o atendimento ah requisição do STF”, afirmou na sequência.
“Essa é a prova mais forte até o momento contra minha pessoa [a troca de mensagens mostrada por Moro]. Ele diz que é fofoca. Sinal de que ele tinha acesso ao processo. Foi no dia 23 de abril. No dia seguinte, quando ele foi informado da demissão do diretor-geral, ele já começa a mudar de figura”, afirmou o mandatário.
Jair Bolsonaro ainda acusou Moro de ter cometido crime federal ao, segundo ele, vazar informações. “O Sergio Moro foi correndo entregar o telefone para a Globo. Inclusive, ele tinha peças de relatórios pessoais de coisas que eu passava para ele. É um crime federal”, disse, em referência a Lei de Segurança Nacional.
Bolsonaro confirmou ainda que tem negociado cargos com partidos do centrão. Ele afirmou que aceitou indicações porque “não tinha como preencher 30 mil vagas” e defendeu que, como chefe de estado, também pode indicar quantas pessoas quiser. “Eu indiquei talvez uma meia dúzia, mas poderia ter indicado mil. Eu sou presidente para indicar ministro”, concluiu. A esses partidos, o presidente tem prometido cargos em troca de apoio político.