Bolsonaro “ajuda bastante” se parar de “falar mal da China”, diz Doria sobre atraso nos insumos das vacinas
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deu um recado ao presidente Jair Bolsonaro e seus filhos ao manifestar preocupação com o atraso na liberação por parte do governo chinês dos insumos para as vacinas contra Covid-19.
Doria pediu que o clã Bolsonaro pare de “falar mal da China” ao ser perguntado, em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (18), se a postura dos Bolsonaro prejudica o envio da matéria prima dos imunizantes da China ao Brasil.
“Se o presidente Jair Bolsonaro parar de falar mal da China, e seus filhos pararem de falar mal da China, isso já ajuda bastante. Pois os insumos para a vacina da AstraZeneca são produzidos na China. Os insumos para a vacina do Butantan são produzidos na China. E são as duas únicas vacinas aprovadas pela Anvisa. Pelo menos, se não atrapalhar já é uma ajuda”, afirmou Doria.
O presidente do Butantan, Dimas Covas, reconheceu que a demora em autorizar a exportação preocupa e pode afetar o cronograma de entrega de doses ao Ministério da Saúde. Covas disse que o cronograma atual de entregas acertado com o ministério será mantido desde que um novo lote de matéria-prima chegue até o final deste mês.
“Preocupa sim a chegada da matéria-prima. Essa matéria-prima precisa chegar para não parar o processo de produção, e esperamos que isso aconteça muito rapidamente, porque se chegar antes do fim deste mês, nós manteremos o cronograma de entrega de vacinas”, disse o presidente do Butantan.
O instituto importa da China litros da vacina concentrada e envasa o imunizante em suas instalações, transformando, segundo Covas, mil litros de vacina concentrada em 1 milhão de doses.
ATAQUES DOS BOLSONARO À CHINA E CORONAVAC
O presidente já fez referências irônicas à China e questionou a transparência e credibilidade do país asiático por diversas vezes durante a queda de braço política entre Doria e Bolsonaro na “guerra da vacina”.
Bolsonaro criticou as circunstâncias do acordo do Butantan, disse que o governo federal não compraria a vacina e minimizou a eficácia do imunizante, que agora faz parte do PNI (Plano Nacional de Imunização).
Em outubro, quando o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. No dia seguinte, em um comentário no Facebook, Bolsonaro chamou o imunizante de “vacina chinesa de João Doria” e afirmou que não seria comprado.
No mesmo mês, durante evento em São Paulo, Bolsonaro reforçou que havia mandado cancelar o acordo e afirmou que não compraria nenhuma vacina com origem na China, porque o país teria um “descrédito muito grande“.
No ano passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) protagonizou dois estremecimentos na relação entre Brasil e China.
Em março, o deputado culpou a China pela pandemia de Covid-19 e acusouo país de ter ocultado informação vital sobre o novo coronavírus. Depois, em novembro, defendeu uma proposta americana para impulsionar uma tecnologia 5G “sem espionagem da China“.