Análise: relação entre redes sociais e saúde mental
Estudos apontam a associação entre acesso às redes sociais e problemas de saúde mental como depressão, baixa autoestima e dependência
As pesquisas realizadas nos últimos anos são contraditórias por várias questões, porém, é possível chegar à conclusão que o uso excessivo das redes sociais tem contribuído para os sintomas da depressão, o aumento da baixa autoestima e a dependência.
Segundo o psiquiatra e presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Dr. Flávio Milman Shansis, o uso excessivo do Facebook, por exemplo, aumenta a tristeza e a solidão. Pessoas com autoestima diminuída acessam mais as redes, principalmente com o intuito de postar conteúdos de autopromoção, como selfies e outras imagens que possam suprir sua necessidade de aprovação por meio de comentários elogiosos ou “likes”.
Um estudo de 2017 feito no Reino Unido com duas mil mulheres – de 16 a 25 anos – apontou que eram necessárias mais de cinco horas por semana unicamente para a produção e postagem de suas selfies. Para cada selfie publicada, em média, outras 6 eram descartadas. Trata-se de algo além de um simples registro despretensioso.
A dependência fica por conta dos sintomas similares ao de qualquer outro vício: fissura, crises de abstinência, recaídas. Inclusive, o dependente pode colocar-se em situações de risco como acidentes de trânsito por acessar as redes enquanto dirige ou atravessa a rua, assim como oferecer risco a terceiros, como nos casos de pais que simplesmente esquecem dos filhos por estarem com a atenção voltada para alguma tela.
No meio disso tudo, as crianças fazem parte do grupo mais vulnerável, sendo que o Brasil está entre os países onde elas entram em alguma rede social muito cedo, em média, aos 9 anos de idade. Mas mesmo quando expostas ao que parece inofensivo como conteúdos fitness, por exemplo, as crianças podem desenvolver problemas de saúde mental. O culto ao corpo pode levar ao desenvolvimento de quadros de transtornos alimentares como a bulimia e a anorexia. Sem dizer que elas são muito mais suscetíveis ao cyberbulling e à automutilação, que têm crescido assustadoramente.
Um estudo citado pelo Dr. Shansis aponta que 58% das crianças entre 2 e 5 anos já são capazes de jogar games eletrônicos, mas apenas 11% delas conseguem amarrar os sapatos. Realmente vivemos em um mundo onde a tecnologia tem afetado o desenvolvimento humano e é preciso estar alerta, pois nem toda mudança tem sido benéfica.
Não se trata simplesmente de proibir o uso das redes, mas sim, de educar para um uso moderado, afinal de contas, elas também aproximam as pessoas e as incluem no mundo digital que, ao que tudo indica, é um caminho sem volta. Porém, quem vai educar as crianças e os adolescentes? Os pais que, em muitos casos, também estão viciados? Ou seria mais uma tarefa para os professores que já estão sobrecarregados, principalmente nas escolas públicas? Eis aí uma questão para refletirmos muito em 2020.
Patrícia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta o quadro “Economia a Dois” na Escola do Amor, Record TV. No YouTube mantém o canal “Patrícia Lages – Dicas de Economia”, com vídeos todas as terças e quintas.