Adriano Pires desiste oficialmente de assumir a presidência da Petrobras
Em carta ao Ministro de Minas e Energia, consultor declinou de convite para assumir a estatal
O economista e consultor Adriano Pires enviou nesta segunda-feira, 4, para o Ministério de Minas e Energia, uma carta que oficializa a desistência em assumir a presidência da Petrobras.
No documento, Pires agradece a indicação e reafirma o “compromisso de continuar nessa luta” pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás. Ele afirma, porém, que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha, atualmente, para empresas do setor.
Após o jornal O Globo noticiar mais cedo que o economista havia desistido de assumir a estatal, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou, sem sucesso, convencer Pires a aceitar o cargo.
Adriano havia sido indicado pelo Palácio do Planalto para o cargo na semana passada, para substituir o general Joaquim da Silva e Luna. Pires ainda não havia assumido o posto. O seu nome precisava ser aprovado pela assembleia geral de acionistas, marcada para o dia 13 de abril.
O estatuto da Petrobras estabelece que o CEO deve ser membro do conselho. Ações da companhia foram as mínimas, em queda de mais de 2%, com a notícia de desistência de Pires.
A decisão do economista ocorreu em meio a especulações sobre potenciais conflitos de interesse relacionados a anos de trabalho como consultor de empresas privadas de petróleo e gás, algumas delas com negócios que concorrem com a estatal. Landim por sua vez é investigado por promotores por suposta gestão fraudulenta de um fundo de investimento que causou prejuízos ao fundo de pensão Petros da Petrobras.
As relações de Rodolfo Landim e do consultor Adriano Pires com o empresário Carlos Suarez, sócio de distribuidoras de gás no Brasil, já levantaram preocupações no Ministério da Economia desde o anúncio dos dois para cargos na Petrobras.
Como um dos consultores mais requisitados do país em assuntos de energia, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires contrariou vários pontos das propostas defendidas pelos auxiliares de Guedes.
Landim foi indicado e depois desistiu de assumir o conselho de administração da estatal. Adriano Pires, por sua vez, foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a presidência da empresa no lugar de Joaquim Silva e Luna, general da reserva e ex-ministro da Defesa.
Parecer contrário
O Comitê de Pessoas da Petrobras tem em mãos pareceres contrários às nomeações do consultor Adriano Pires e de Rodolfo Landim para a presidente da empresa e para o conselho de administração da estatal, respectivamente, de acordo com fontes do governo.
Landim e Pires foram avisados desses pareceres e, então, decidiram desistir de ocupar os postos. O risco, sem a renúncia, era de serem vetados pela própria Petrobras.
O Comitê de Pessoas da Petrobras iria se reunir nesta terça-feira para decidir sobre as nomeações. Era necessário o aval desse colegiado para que ambos pudessem assumir os postos.
Esse comitê, porém, tem pareceres contra as duas nomeações, especialmente a de Pires, por supostos conflitos de interesses. Esse parecer é decorrente de uma investigação conhecida internamente como Background Check de Integridade (BCI).
O BCI, segundo a Petrobras, é um mecanismo “de suporte à tomada de decisão, que visa aumentar a qualidade das nomeações, sem prejuízo da meritocracia, por meio de um processo de análise de integridade de candidatos indicados pela Petrobras para atuar em funções gratificadas na companhia e posições na alta administração em Participações Societárias da Petrobras, respeitando a legislação vigente em cada país no que tange à proteção da privacidade e acesso à informação”.
A principal conclusão desse parecer é com relação a conflitos de interesse de Pires por ele ter sido contratado como consultor pelo empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás, e também da associação das distribuidoras de gás (Abegás).