Acupuntura: o que é, benefícios e como é aplicada
Ideal para cuidar da saúde física e mental, essa técnica da medicina chinesa avalia o paciente como um todo
Não é preciso ter medo das agulhas usadas na acupuntura. Elas são extremamente finas e quando inseridas na pele quase não se sente dor. Já os benefícios que essa técnica pode trazer para a saúde, são bastante perceptíveis. A acupuntura pode ser usada como tratamento complementar ou principal, dependendo do que precisa ser tratado. Abaixo você confere as principais dúvidas sobre o assunto respondidas por especialistas.
O que é acupuntura?
A acupuntura é uma das técnicas da medicina tradicional chinesa que está fundamentada no conceito Ying e Yang — quando duas forças ou energias opostas se complementam — e nos cinco elementos da natureza — fogo, terra, metal, água e madeira —, também presentes no ser humano. “Ambos precisam fluir em harmonia e, quando estão em desequilíbrio, podem gerar desconfortos físicos e mentais e até o surgimento de doenças”, explica a naturóloga e acupunturista Rita Mesquita, do Kurma Spa.
Segundo a acupunturista Patricia Berlatto de Castro, a medicina chinesa é baseada em princípios filosóficos que surgiram da observação da natureza. “Ela entende o ser humano como um ser integrado na natureza e a tudo que o cerca. Acredita-se que nossa saúde depende de fatores internos e externos, como hábitos de vida, clima, qualidade do ambiente que se vive, entre outros”, afirma.
A acuputura baseia-se na perfuração da pele por agulhas finas, cerca de 1 mm, em pontos específicos, com base nos trajetos externos de canais energéticos que fluem por todo o corpo, conhecidos por meridianos. “Essas perfurações têm como objetivo, entre outras coisas, liberar bloqueios no fluxo energético desses meridianos. Assim, há um melhor suprimento energético de todos os sistemas orgânicos do corpo quando essa energia flui livremente. Isso estimula a capacidade de autocura ou autoregulação, o que auxilia, por exemplo, no caso de dores agudas e doenças crônicas”, explica Rita.
Como surgiu
“A data específica e onde a acupuntura começou a ser utilizada não pode ser determinada, já que foi descoberta entre 3 e 5 mil anos atrás”, afirma Patricia. A técnica foi abordada pela primeira vez no livro Classico da Medicina Interna do Imperador Amarelo, no século 1 a.C. “Apesar de ter florescido na China, não podemos restringir seu desenvolvimento inicial ao território chinês. É uma hipótese que pode não ser verdadeira, já que achados em outros países também sugerem o conhecimento dos pontos de acupuntura”, revela.
Segundo Rita, existem algumas histórias e lendas sobre o surgimento da acupuntura. Uma delas é que há milhares de anos um soldado chinês foi golpeado por uma flecha e ficou ferido. Enquanto a ferida cicatrizava, a doença de outro órgão foi regredindo como uma reação ao acontecido. “Outra história é que nos primórdios da humanidade o ser humano descobriu a imposição das mãos, massagem ou pressão em certas regiões do corpo para aliviar dores. Como não ajudava em todos os casos, foram feitas outras tentativas na busca do refinamento do método, com o auxílio de pedras ou pedaços de ossos. Dando início a atribuição de pontos para amenizar determinados quadros clínicos”, explica a especialista.
Como atua no organismo?
Patricia explica que para entender como a acupuntura atua, é importante entender que, dentro da medicina chinesa, acredita-se que existe uma substância vital — no ocidente traduzida como energia — que se chama QI. “A função dessa substância é mover outras substâncias vitais do organismo. Quando o QI circula no corpo adequadamente você tem saúde. Não existem dores, a digestão é boa, o intestino funciona, o sono é reparador, a pressão é regulada, o corpo não é tomado por ansiedade, medo ou estress”, afirma. Já quando existe alteração da circulação do QI, pode surgir algum tipo de dor ou doença. Por isso, o objetivo da Acupuntura é promover o movimento correto do QI.
Esses desequilíbrios são gerados por fatores patogênicos como alimentação inadequada, excesso de trabalho, emoções exacerbadas ou influências climáticas (calor, umidade, secura, frio, vento). “Além disso, por meio de inúmeros estudos científicos, hoje já se sabe que a acupuntura causa a liberação de hormônios e neurotransmissores responsáveis pela regulação da homeostase corporal, e também a sensação de relaxamento. E ainda ativa mecanismos de controle da dor através do estímulo em pontos específicos que inibem a sensibilidade à dor em certas áreas do cérebro”, explica Rita.
Benefícios para a saúde
“A acupuntura é uma prática de visão integral do ser humano e seus benefícios atuam no bem-estar físico e mental”, diz Rita. A Organização Mundial de Saúde, inclusive, reconhece que a acupuntura é uma terapia eficaz para 41 doenças.
Atualmente, há vários estudos realizados com base em métodos científicos para verificar a eficácia técnica. Com base nesses estudos, temos alguns exemplos dos benefícios:
– Redução de dores de cabeça e enxaqueca
– Melhora da dor crônica nas costas, lombar, pescoço e joelho
– Ajuda a tratar a insônia
– Melhora dos quadros de depressão, ansiedade e estresse
– Melhora na recuperação do câncer e na quimioterapia
– Ajuda a prevenir declínio cognitivo
– Apoia a gravidez, o trabalho e a saúde pós-parto
– Ajuda a tratar casos de sintomas da menopausa, ovário policístico, tensão pré-menstrual (TPM)
“Falando em termos científicos, após uma sessão de acupuntura foi comprovado o aumento da liberação de serotonina e endorfinas, assim como a produção de substancias que diminuem a ansiedade e a dor. Em conclusão, a utilização da acupuntura é muito ampla, chegando inclusive a usos menos conhecidos, que são aumentar produção de leite e auxiliar no trabalho de parto natural”, revela Patricia.
Tipos de acupuntura
Há vários recursos para estimulação dos pontos de acupuntura, uma vez feito o diagnóstico com base na medicina tradicional chinesa. “Dependendo da queixa, o tratamento pode ser realizado por um tipo de técnica e potencializado com outras”, explica Rita. Assim, existem diferentes técnicas de acupuntura, como por exemplo:
– Acupuntura sistêmica ou corporal: feita em todo o corpo nos pontos dos meridianos)
– Craniana: aplicada na cabeça
– A laser
– Auricular: feita na orelha
– Por eletroestimulação ou por acupressão: pressão com as mãos ou outras ferramentas, como a massagem do-in ou shiatsu
– Koryo: acupuntura coreana feita nas mãos
A sessão de acupuntura
Antes de tudo é feito um diagnóstico detalhado de todo o funcionamento do corpo por meio de um interrogatório, observação, palpação, obervação do pulso, ausculta e olfação. “Com isso, é possível estabelecer um diagnóstico da síndrome energética, ou seja, do padrão energético em desequilíbrio”, diz Rita. A partir daí é definida a técnica a ser utilizada e os pontos de acupuntura a serem trabalhados.
“São introduzidas agulhas descartáveis nesses pontos. As agulhas são super finas, com a espessura aproximada de 10 fios de cabelo. Elas permanecem no corpo por tempo variável, dependendo da técnica”, afirma Patricia.
“Sugiro, no mínimo, cinco ou seis sessões iniciais, dependendo de como o paciente responde ao tratamento. E dependendo da gravidade do desequilíbrio, pode-se chegar a uma média de 30 sessões”, recomenda Rita. As sessões, geralmente, duram cerca de uma hora, sendo 30 a 40 minutos desse tempo, com as agulhas inseridas no paciente.
Pontos da acupuntura
“Há cerca de 400 pontos de acupuntura. São dispostos em intervalos irregulares nos meridianos, pela rede de canais energéticos que flui a energia do corpo”, explica Rita. A localização e função desses pontos é descrita em detalhes em atlas de acupuntura.
Os pontos estão situados em todo o corpo, desde os pés até o couro cabeludo e desencadeiam efeitos no local de aplicação da agulha ou em outras partes do organismo. “A maioria dos pontos estão localizados em meridianos, que são canais que conectam a área superficial do corpo com os órgãos e sistemas internos”, explica Patricia.
Segundo a acupunturista, os principais meridianos estão ligados aos cinco elementos que estão relacionados a órgãos e vísceras.
Quem pode aplicar?
No Brasil, a profissão de acupunturista ou especialista em acupuntura ainda está em vias de regulamentação. “Hoje em dia, as formações são para profissionais graduados na área da saúde. E há conselhos profissionais que consideram o curso de formação em acupuntura como uma especialização da área”, diz Rita. Assim, o ideal é buscar um profissional qualificado, com formação em instituições reconhecidas.
De acordo com Patricia, um curso de acupuntura leva cerca de dois anos e oferece uma base mínima para iniciar. “Existem também diversos cursos de aperfeiçoamento e aprofundamento”, conta.
Há riscos?
São bem raros, como a manipulação incorreta de agulhas, que podem ser inseridas profundamente em locais de risco e produzir lesões internas. “Também se relata o risco de rompimento de agulhas, que, na prática, é quase nulo com a utilização de agulhas de qualidade e manipulação correta”, afirma Patricia.
Já Rita fiz que não há necessidade de ter medo, desde que você encontre um especialista qualificado. “A ausência de efeitos colaterais graves é uma vantagem dessa técnica em comparação, por exemplo, ao uso prolongado de medicamentos. Isso é um dos motivos que faz valer a pena pensar sobre esse tipo de terapia ou, até mesmo, associá-la aos tratamentos convencionais”, conclui.