A estreia do Expressinho e a ânsia pela vitória
Ninguém entra em campo para perder. Seja num jogo de Copa do Mundo ou numa pelada no recreio da escola.
Para quem torce, o sentimento é o mesmo. Pouco importa se é uma equipe titular, reserva, juvenil ou metade frango com requeijão, metade calabresa. Pisou no gramado com a camisa de um grande clube, tem a ‘obrigação’ de ganhar.
Um exemplo: o Vasco que enfrentou a Portuguesa da Ilha nesta quarta-feira.
O vascaíno, que nos últimos anos tem se habituado a dizer que torce mais pela base do que pelo profissional, há anos defende a utilização do sub-20 no lugar do time principal no Estadual – e às vezes até no Brasileiro. No entanto, bastou a bola rolar para essa magia se desfazer e a opinião mudar.
Vestiu a camisa vascaína em São Januário, não importa se já tem idade para votar ou não. Se já fez teste de hérnia no alistamento do Exército ou se ainda está estudando para a prova do Enem. Jogou, tem que vencer.
Ao menos esse é o pensamento normal da maioria dos torcedores. Mas existem alguns poréns que precisam ser levantados.
Nessa temporada, diante de mais um calendário absurdo, que não respeita sequer o descanso natural pós-temporada, usar a base nos jogos iniciais se tornou uma obrigação, não uma opção. Não foi algo planejado, foi imposto – com anuência do clube que aceitou o calendário, diga-se.
Essa foi a primeira vez na história que o Vasco entrou em campo numa partida oficial com um time 100% formado por atletas oriundos da sua base. Titulares e reservas. Aliás, até o treinador: Siston, meia canhoto revelado no início dos anos 2000.
E não estou falando de um ataque com Romário e Edmundo, Hélton no gol, Felipe na lateral e Pedrinho no meio-campo, como no Mundial de 2000. O que tivemos em campo foram 16 jovens com idade entre 17 e 21 anos. O mais experiente ali era Miranda, o capitão, que fazia seu 29º jogo como profissional.
Com um detalhe: os meninos também não tiveram férias. Só em 2021, já disputaram – e ganharam – duas finais: Copa do Brasil e Supercopa do Brasil. A última delas, há 10 dias.
Dá pra cobrar mais participação de Lucas Santos? Sempre. Mais movimentação de Tiago Reis? Sem dúvida! Mais precisão de Vinícius? Deve! Porém, é preciso também ponderar e, principalmente, contextualizar.
A meta do clube em 2021 não é ganhar o Carioca, mas sim voltar à elite do Brasileiro. E esse elenco que jogará a Série B em busca do objetivo principal, nesse momento, ainda está de férias.
O Vasco que o torcedor quer ver ainda está sendo montado. Lentamente, é verdade, mas está – ou espera-se que esteja.
A ânsia pela vitória é instintiva. Principalmente para o torcedor que, dentro do processo do futebol, tem o papel básico de… torcer! E ninguém torce por derrotas ou empates, apenas vitórias.
Para o vascaíno, maltratado por décadas, isso se potencializa. É normal.
Agora, no entanto, mais do que nunca, não dá para jogar essa conta para os garotos. A resposta tem que vir de quem ainda não entrou em campo – e alguns que nem irão entrar.