Roberto Leal, a face alegre da música portuguesa no Brasil
Cantor deixa discografia que inclui álbum de forró com vira e songbook com o repertório de Roberto Carlos, mas fica imortalizado pelos temas dançantes que lançou na década de 1970.
Somente quem viveu no Brasil nos anos 1970 pode dimensionar o sucesso do cantor, compositor e ator português Roberto Leal no país ao longo daquela década. O artista veio ao mundo como António Joaquim Fernandes em 27 de novembro de 1951, em aldeia do norte de Portugal, mas o nascimento artístico foi no Brasil – para onde migrou em 1962 – como Roberto Leal.
No Brasil, entre idas e voltas a Portugal, Roberto Leal renasceu, viveu e morreu – na madrugada deste domingo, 15 de setembro de 2019, em hospital da cidade de São Paulo (SP) – como uma voz que simbolizava a face mais alegre da música portuguesa. Pela própria origem, o cantor gravou fados – o ritmo geralmente melancólico que identifica Portugal no mapa-múndi musical – mas fica imortalizado pelas canções mais alegres.
Com os cabelos louros por vezes platinados, Leal teve a imagem jovial propagada em escala nacional pela TV na década de 1970 em programas de auditório comandados por apresentadores como Abelardo Barbosa (1917 – 1998), o Chacrinha.
Naquela época, Roberto Leal fez o Brasil bater pé com temas dançantes que evocavam a magia lúdica do universo musical português.
E cabe ressaltar que Roberto Leal conquistou o Brasil logo na primeira gravação, Arrebita (tema tradicional adaptado por Leal), lançada em compacto simples em 1971. Dois anos depois, em 1973, o cantor lançou o primeiro álbum, Roberto Leal, pela RGE, gravadora nacional por onde lançou discos com regularidade até 1987, quase todos batizados com o nome do artista.
Contudo, o auge comercial e artístico da carreira fonográfica de Roberto Leal se deu mesmo ao longo da década de 1970. Após o estouro inicial com Arrebita, o cantor emplacou quatro anos depois o segundo grande sucesso, Bate o pé (Roberto Leal e Kátia Maria), lançado em álbum de 1975 e rebobinado em compacto de 1976.
A partir da década de 1980, Roberto Leal perdeu popularidade e visibilidade na mídia, mas manteve um público fiel, para o qual gravou discos até 2016, ano do derradeiro álbum, Arrebenta a festa.
O cantor deixa discos de fados, álbum em que misturou ritmos nordestinos com a música portuguesa (Forrandovira, de 1998) e até songbook com o cancioneiro de Roberto Carlos (lançado em CD em 1999).
Contudo, a imagem de Roberto Leal cristalizada no imaginário nacional é a dos anos 1970, com a alegria parodiada pelo grupo Mamonas Assassinas em 1995. É essa face alegre de Portugal que Roberto Leal lega para a posteridade ao sair de cena, aos 67 anos.