Minas de carvão, pobreza e tragédias pessoais: a saga de Charles Bronson

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Por André Barcinski – andrebarcinski.com.br 

Se os fãs conhecessem a história de vida de Charles Bronson, entenderiam por que ele ficou marcado por interpretar personagens tão durões no cinema: a vida do ator faz qualquer um de seus filmes parecer “Cinderela”. Nascido Charles Buchinsky em novembro de 1921, foi o 11º de 15 filhos de uma família lituana que trabalhava em minas de carvão na Pensilvânia (nordeste dos Estados Unidos).

Em 1974, Bronson deu uma entrevista – coisa rara, já que odiava falar sobre si mesmo – ao crítico de cinema Roger Ebert, em que lembrou a dureza de sua infância:

“Lembro que meu pai raspou nossas cabeças para evitar piolhos. Os tempos eram duros. Eu usava roupas que não cabiam mais em meus irmãos mais velhos. E porque as crianças mais velhas em minhas famílias eram meninas, eu era obrigado a usar as roupas delas. Lembro que fui para a escola de vestido. E minhas meias, quando eu chegava em casa, precisava emprestar para meu irmão trabalhar nas minas de carvão”.

Charles trabalhou dentro das minas por quatro anos, 16 horas por dia. Recebia um dólar por cada tonelada de carvão. A família morou – 17 pessoas – no porão da casa de outra família lituana, que tinha oito filhos. O pai de Charles, Valteris, morreu quando o menino tinha 14 anos. Charles cometeu furtos e chegou a ser preso por um curto período. Em casa, todas as crianças falavam lituano e russo, e Charles só aprendeu a falar inglês quando era adolescente.

Um de seus irmãos foi combater os nazistas na Segunda Guerra, e disse que preferia enfrentar bombas e granadas a descer mais uma vez naquela mina escura. O próprio Charles serviu na Força Aérea por três anos durante a Guerra. Foi ferido em combate e condecorado por bravura.

De volta aos Estados Unidos, trabalhou colhendo frutas em fazendas e numa padaria, até que resolveu tentar a sorte como ator: “Era o trabalho mais fácil que eu podia pensar em fazer”. Estreou no cinema no início dos anos 50, fazendo pontas em faroestes e filmes de guerra. Na mesma época, mudou o sobrenome para Bronson, para escapar da perseguição anticomunista do Macartismo.

Destacou-se no faroeste “Sete Homens e um Destino” (1960) e nos filmes de guerra “Fugindo do Inferno” (1963) e “Os Doze Condenados” (1967), mas só fez sucesso mesmo na Europa, em faroestes como “Era Uma Vez no Oeste” (1968), de Sergio Leone, e filmes de suspense como “O Passageiro da Chuva” (1970), de René Clément.

No início dos anos 70, Charles Bronson era um dos atores mais famosos do mundo, um astro na Europa e na Ásia. Nos Estados Unidos, no entanto, não tinha a mesma fama. Até que, em 1974, aos 53 anos, ganhou o papel de Paul Kersey, o arquiteto que se torna matador de bandidos em “Desejo de Matar”.

“Desejo de Matar” foi um sucesso de bilheteria, rendendo o que hoje equivaleria a 108 milhões de dólares, mas foi tão violentamente rechaçado pela crítica, que o considerou apologia à violência, que o produtor Dino De Laurentiis não quis fazer uma continuação. Hoje pouca gente lembra, mas entre o primeiro e o segundo “Desejo de Matar”, houve um intervalo de oito anos. E o segundo filme da série só aconteceu porque o original foi “redescoberto”.

No início dos anos 1980, com a explosão do mercado de videocassetes nos Estados Unidos, “Desejo de Matar” tornou-se um filme dos mais procurados em videolocadoras. Isso levou dois produtores espertíssimos, os israelenses Menahem Golan e Yoram Globus, da produtora Cannon, a comprar os direitos da franquia e fazer outros quatro filmes da série, terminando em 1994, com o quinto “Desejo de Matar”, último filme de Charles Bronson no cinema.

Se a infância de Charles Bronson foi dura, os anos 90 foram os mais difíceis de sua vida. No fim de 1989, Charles e sua segunda esposa, a atriz Jill Ireland, perderam Jason, filho adotivo de Jill. Jason era viciado em heroína e cocaína, e morreu de ov

erdose em novembro de 1989.

Seis meses depois, a lindíssima e talentosa Jill Ireland, com quem Bronson era casado desde 1968 e tinha sete filhos, entre crianças de outros casamentos e adotadas, morreu de câncer. Em uma de suas últimas entrevistas, ela brincou com sua doença e os personagens violentos interpretados pelo marido: “Charlie não pode simplesmente pegar uma metralhadora e exterminar as células cancerígenas”.

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu seis livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Atualmente dirige os programas “Eletrogordo” e “Nasi Noite Adentro”, do Canal Brasil.

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Fonte blogdogersonnogueira
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