LENDAS DAS ARTES MARCIAIS: BRUCE LEE!
Artista marcial. Filósofo. Cineasta. Mestre. Falar de Bruce Leenão é falar apenas de mais um ator de filmes de ação, e sim de uma verdadeira lenda das artes marciais, cujos feitos impressionantes até hoje são discutidos entre entusiastas do assunto. Sua história de vida é cheia de mistérios, o que inclui sua morte, em 1973. Com o passar das décadas, o homem se tornou maior que a própria vida, sendo praticamente um mito dos tempos modernos.
Mais de quarenta anos depois de sua morte, Bruce Lee ainda é tido por grandes nomes do mundo marcial como o maior de todos, e sempre que isso é discutido, gera polêmica e controvérsia, como foi o caso recente envolvendo Quentin Tarantino e o filme Era Uma Vez… Em Hollywood. E não apenas por sua habilidade, mas pelo respeito e admiração direcionados a ele ele, que é visto como um dos maiores responsáveis por apresentar o Kung Fu ao mundo e por mudar a maneira como os asiáticos eram vistos e retratados no cinema norte-americano.
Bruce Lee nasceu em 1940, no exato dia e hora do dragão segundo a astrologia chinesa, em Chinatown, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Ele era filho de um ator famoso na China e da herdeira de uma das maiores fortunas do país, que voltaram para Hong Kong logo após seu nascimento. Dada a situação financeira de sua família, Bruce cresceu como um jovem abastado e privilegiado, frequentando as melhores escolas e círculos sociais, mesmo durante a ocupação japonesa durante a segunda guerra mundial.
Desde muito pequeno, Bruce fazia participações em filmes, algo fortemente encorajado por seu pai. Começou a aprender artes marciais ainda criança com ele, e a partir dos treze anos, teve como mestre o lendário Ip Man, cuja história de vida rendeu uma série de filmes de muito sucesso estrelados pelo ator Donnie Yen. Até nisso o garoto teve sorte: os alunos do mestre Ip se recusavam a treiná-lo devido a sua ascendência “impura”, já que que seu avô materno era alemão, o que fez com que Ip Man o treinasse pessoalmente.
Logo, sua fama como o melhor aluno do mestre Ip se espalhou pelas ruas de Hong Kong, apinhadas de gangues de bandidos, que constantemente o desafiavam para duelos. Sem ter outra escolha, Bruce se metia em uma briga após a outra, às vezes contra vários adversários ao mesmo tempo, para a grande preocupação de seus pais.
Em uma dessas brigas, Bruce derrotou o filho de uma perigosa família da Tríade, a máfia chinesa. Com medo de uma potencial represália, os pais do garoto decidem mandá-lo para os Estados Unidos, para ter uma vida mais tranquila.
Após trabalhar algum tempo como lavador de pratos em um restaurante, Lee abriu sua primeira academia de artes marciais em Seattle, a Jun Fan Kung Fu, onde ensinava o Wing Chun que aprendeu com o mestre Ip Man combinado com algumas de suas próprias ideias. Em pouco tempo, ele já tinha vários alunos, o que o levou a abrir uma segunda academia, desta vez em Oakland. Nestas idas e vindas, ele começou a se apresentar em torneios de Karatê pelo país.
Mas a comunidade chinesa no país não via com bons olhos o hábito de lee de ensinar artes marciais chinesas a estrangeiros, e isso gerou um grande problema. Em 1965, Bruce Lee lutou contra Wong Jack Man pelo direito de ensinar o que aprendeu na China aos americanos. E essa é um daqueles momentos da vida de Lee em que lenda e realidade se misturam.
Alguns dizem que ele venceu a luta facilmente em três minutos, perseguindo Wong. Outros dizem que eles empataram, e há até quem diga que Lee foi derrotado. Mas uma coisa é certa: Bruce Lee saiu completamente mudado daquela experiência.
A história da luta entre Bruce Lee e Wong Jack Man recentemente inspirou um filme chamado A Origem do Dragão, que relata o acontecido do ponto de vista de um de seus alunos.
Após sua luta contra Wong Jack Man, Lee começou a estudar filosofia e a pregar que o Kung Fu tradicional era muito limitado, e que a chave para a verdadeira expressão das artes marciais era não se apegar a um único estilo, e sim se adaptar e aprender o que fosse mais eficiente e importante, não importando de onde viesse. Esse “estilo sem estilo”, como ele próprio dizia, foi batizado de Jeet Kune Do, “o caminho do punho que intercepta”.
Bruce começou a demonstrar o Jeet Kune Do em torneios de artes marciais pelo país, demonstrando seus métodos de treinamento. Em um deles, ele mostrou, pela primeira vez, o lendário “soco de uma polegada”, seu golpe mais famoso, até hoje estudado e imitado. E isso chamou a atenção de William Dozier, um famoso produtor de cinema e TV. E foi aí que a história de Bruce Lee deu uma guinada.
Pouco tempo depois, ele era uma das estrelas do seriado Besouro Verde, onde vivia Kato, o parceiro do herói. A série fez sucesso, rolando até um crossover com o seriado clássico do Batman, mas terminou cancelada após apenas uma temporada.
Após o fim da série, Bruce fez algumas participações na televisão em outros seriados, e em paralelo a isso, começava a desenvolver uma ideia que teve para sua própria série de TV. Ela se chamaria The Warrior, e seria produzida e estrelada por Lee. Mas a Warner Bros. “deu a volta” em Bruce, se apoderando de sua ideia, mudando todo o seu conceito e escalando o ator David Carradine para o papel principal, no que acabou se tornando a famosa série Kung Fu.
Possesso de raiva e muito triste com a situação, Bruce voltou para a China, e para a sua surpresa, foi recebido como uma mega-estrela por lá. Sem ele saber, Besouro Verdeera um enorme sucesso no país, sendo chamada inclusive de “O Show do Kato”. Dias depois de sua chegada, o lendário produtor chinês Raymond Chow lhe ofereceu um contrato para estrelar dois filmes na Golden Harvest, sua produtora.
Seu primeiro filme, O Dragão Chinês, de 1971, foi um sucesso de bilheteria enorme no país. O filme seguinte, A Fúria do Dragão, de 1972, foi ainda mais arrebatador.
Nele, Lee vivia Chen Zhen, um aluno do falecido mestre Huo Yuanjia (que realmente existiu e é visto como um herói nacional) em busca de vingança pela morte de seu mestre. Esse filme foi ainda mais arrebatador, sendo visto como uma das produções mais influentes do cinema chinês e gerando vários remakes e sequências com atores do calibre de Jet Li e Donnie Yen.
Diante de todo o sucesso, Raymond Chow deu a Lee total liberdade para escrever, dirigir e produzir o próximo longa, O Vôo do Dragão, de 1972. Foi nele que Lee teve sua luta contra Chuck Norris, um velho amigo da época em que se apresentava em torneios de karatê, em pleno coliseu romano.
No final do mesmo ano, Lee começava a bolar a ideia do que via como o projeto de sua vida: O Jogo da Morte. Mas a produção foi interrompida no meio por um convite irrecusável da Warner Bros., o mesmo estúdio que tanto o decepcionara anos antes, para estrelar Operação Dragão, que se tornaria seu filme mais famoso.
Operação Dragão foi uma das maiores bilheterias do ano de 1973, impulsionando sua carreira de ator a níveis inimagináveis e o transformando em uma estrela de primeira grandeza não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
Agora, ele estava pronto para voltar a trabalhar em O Jogo da Morte, mas então, o pior aconteceu. Em 26 de julho de 1973, Bruce Lee morre misteriosamente, aos 32 anos, gerando comoção mundial e várias teorias sobre o acontecido que iam de uso de drogas a vingança da Tríade. Entretanto, a versão oficial diz que ele sofreu um mal súbito após ingerir um medicamento para dor de cabeça, o que acabou por matá-lo.
Mas este não seria o fim para O Jogo da Morte, que já tinha cerca de 100 minutos já gravados. A Warner lançou o filme mesmo assim, usando filmagens de arquivo não utilizadas de outros filmes, dublês de corpo e montagens. Em um determinado momento, seu personagem, Billy Lo, é forçado a forjar a própria morte, e a cena de seu funeral são imagens reais do funeral de Bruce Lee.
Como era de se esperar, o filme foi um grande sucesso. Foi nele que apareceu a famosa “roupa amarela” usada por Lee, tão homenageada e referenciada em filmes como Kill Bill e tantos outros.
Décadas após sua morte, sua lenda só cresceu, sendo produzidos filmes e séries contando a história de sua vida. Ele foi homenageado centenas de vezes em personagens famosos da cultura pop, como o Liu Kang de Mortal Kombat, o Shang-Chida Marvel e o Rock Lee de Naruto, e é profundamente admirado por fãs, atores de ação e praticantes de artes marciais do mundo todo.
O exemplo de Lee, que deu ao mundo seu primeiro grande herói chinês, continua a inspirar as pessoas a se libertarem de suas amarras, se adaptarem à situações difíceis e a se superarem a cada dia, como ele próprio fazia. E não é o filme novo do Quentin Tarantino que vai mudar isso.
Sejam como a água, meus amigos.