Instalações artísticas e a criação de uma conexão forte com a audiência
Nos últimos anos, com a criatividade extrapolando os limites do que é real e digital, instalações de arte vêm ganhando cada vez mais espaço e mostrando uma estratégia eficiente de marketing de guerrilha e interatividade. Tendo função artística ou comercial, as instalações têm o poder de engajar, sensibilizar e, claro, gerar ótimas selfies.
Na última década, tem se desenvolvido o que críticos de arte chamam de Efeito Kusama. A artista japonesa Yayoi Kusama, famosa por suas instalações com bolinhas, entrou em turnê mundial com a exposição “Festival das Luzes”, que inclusive passou pelo Brasil com o nome de “Obsessão Infinita” em grandes museus como CCBB e Instituto Tomie Ohtake em sessões esgotadas. Foi o suficiente para que a artista de 88 anos visse seu trabalho ganhar projeção estratosférica por conta das redes sociais, tornando sua obra já bem conhecida pelo cenário artístico em um nome de reconhecimento do público comum.
Mas, porque as obras interativas e instalações têm gerado tanto interesse do público comum? O efeito Kusama explica. Essas obras, além de apontarem para o contemporâneo e tecnologicamente curioso, são altamente imersivas, um pouco escapistas, e atendem o desejo dos usuários das redes sociais de serem culturalmente relevantes através de sua principal moeda de consumo: imagens únicas ou exclusivas.
Quando essas instalações são maximizadas para as possibilidades da arte digital (ou generativa, como explicamos neste artigo), os espectadores têm a oportunidade de participar e gerar conteúdo para a obra de arte e nós, designers, temos a oportunidade de brincar com as fronteiras “real-virtual” adicionando um toque de dimensão digital. Quanto mais sentidos essa ativação instiga, mais relevante ela se torna para a audiência.
Teorizando só mais um pouquinho, na virada do século o autor norte-americano B. Joseph Pine II cunhou o termo “economia da experiência”, a economia sequente a agrária, industrial e de serviços. Na visão dele, “as empresas orquestrariam eventos memoráveis para seus clientes e essa própria memória se torna o produto: a ‘experiência’. As empresas mais avançadas neste setor cobrariam pelo efeito ‘transformador’ que a experiência oferece”. O artigo na época foi considerado superestimado e especulativo, mas 20 anos à frente, podemos dizer que a visão de Pine se concretizou.
Um dos nossos projetos que ilustram este cenário é a instalação MATA, que produzimos para a Virada Cultural de 2020. Para mostrar à cidade um recorte da devastação na Amazônia, em que as pessoas pudessem sentir o impacto do desmatamento, foi desenvolvido um software personalizado para recriar a floresta amazônica e simular em tempo real um incêndio de 24 horas em uma área de 4 metros de largura e um painel de LED com 8 metros de altura. O movimento do sol na simulação segue de forma sincronizada com o movimento do sol no local de instalação. Na época, cerca de 10 mil pessoas viram a instalação no Largo da Batata e reunimos mais de 30 mil impressões apenas no Instagram.
Soubemos recentemente que o museu Frameless, de Londres, ganhará um acervo fixo de artes imersivas digitais de grandes artistas como Kandinsky, Monet, Klimt e Rembrandt. Para criar a experiência multissensorial de estar dentro de um quadro, eles usam uma tecnologia de projeção de 4K capaz de reproduzir as obras em alta definição. Uma forma de apresentar a História da Arte e seus grandes nomes para novas gerações.
Falando de publicidade, em Tóquio, a Nike criou um outdoor de LED em que a caixa salta aos olhos, dando a sensação dos objetos estarem fora da tela quando vistos da perspectiva correta. Uma experiência que confunde e instiga o olhar. Se você quiser acompanhar artistas emergentes neste cenário, sugiro ainda o Refik Anadol, Ouchh Studio e a dupla Noemi Schipfer e Takamina Kamoto, do Nonotak Studio.
Campanhas e projetos que exijam uma atenção maior da audiência podem encontrar nas instalações artísticas um formato que desperta a curiosidade de boomers a geração Z e tem um alto índice de compartilhamento orgânico nas redes sociais. A economia da experiência está a todo vapor e deve continuar moldando a forma que os espectadores consomem e reproduzem a informação.
A publicidade parece estar inclinada cada vez mais a se apropriar da arte e da tecnologia para suas campanhas. Nesse caso, a arte pública se confunde com um produto e vice-versa. Já não sabemos mais se é uma obra autoral, se foi bancada por uma marca, que muitas vezes nem tem seu logo na obra, mas reproduz as fotos e vídeos em suas redes, ou se é apenas um conteúdo bem feito e que nada tem a ver com arte.
Como artista, tendo a acreditar que o caminho no qual as marcas usam seus lucros para fomentar a arte e seus criadores se torne mais saudável. A cidade ganha uma obra, o público ganha em cultura e a marca ganha por estar atrelando seu nome a iniciativas inovadoras e contribuindo para cidades mais ricas artisticamente.