Lucas Souza: ‘Me senti muito pressionado para falar sobre minha bissexualidade’

“Falei na carta que ainda estou no processo [de autoconhecimento]. Não posso dizer ‘sou isso ou aquilo’. Estou nesse processo de entendimento. Comecei a tentar entender e achar uma palavra que me definisse, falei sobre bissexualidade, que acho que fica mais compreensível para que possam me entender melhor. Sinto atração pela pessoa e o gênero dela não será algo que vai definir minha vontade de ficar com ela”, detalha.

Na semana passada, um vídeo de momentos íntimos de Lucas com o designer de moda Laéllyo Mesquita circulou pelas redes sociais e ele foi hospitalizado com crises de ansiedade. Como a entrevista a seguir com o influenciador foi feita antes do episódio, a Quem entrou em contato para falar sobre o assunto, mas ele preferiu não se manifestar neste momento por ‘estar muito abalado com tamanha exposição’, segundo sua assessoria de imprensa.

Quando ainda era casado com Jojo era comum encontrar pelas redes sociais mensagens do tipo “ele precisa se assumir”, mesmo que nunca tenha dado qualquer declaração sobre esse assunto, seja em entrevista ou mesmo na internet.

O casamento durou apenas nove meses. Os dois se desentenderam e Lucas expôs tudo em uma publicação. A cantora rebateu e eles tiveram um breve término na relação, mas reataram no dia 29 de outubro. A nova chance não durou muito tempo e o agora ex-casal anunciou o fim definitivo do relacionamento.

“Nosso casamento acabou porque a gente não se acertava mais dentro de casa”, explica. “As coisas que aconteceram depois do término geraram mais discussões públicas entre nós. A minha sexualidade nunca foi um problema entre a gente até porque eu gosto de mulher e até prefiro me relacionar com mulheres”, comenta.

Menos de um ano depois, ele foi chamado para o elenco de A Fazenda 15, em 2023, onde ficou confinado por dois meses, namorou a campeã da edição, Jaquelline Grohalski, mas desistiu do reality show porque se sentia pressionado por vários participantes, como Kally Fonseca, Cariúcha e Laranjinha, com piadas de cunho homofóbico e ameaças de “vou revelar seus segredos de fora do programa”.

“Eu já sabia que isso seria pauta, mas como isso não era completamente definido para mim, como era um assunto crítico naquele momento, eu queria sempre mudar as pautas. Tinham pessoas que tomavam atitudes absurdas de me imitar, passavam do meu lado rebolando, gritavam palavras homofóbicas”, lembra.

Fora do reality, ele continuou o namoro com Jaquelline, que durou até abril deste ano e, logo depois, Lucas falou abertamente sobre sua bissexualidade.

Quem: O que te motivou a falar abertamente sobre sua sexualidade?
Lucas Souza: Me senti muito pressionado pelas pessoas para falar sobre minha bissexualidade. Mesmo antes de entrar para o reality e, principalmente, durante o confinamento, me senti muito pressionado. Depois de sair também me senti assim. É claro que eu tenho meus processos internos, mas, como uma figura pública, a galera me pressionava nesse sentido e colocava basicamente o meu caráter em xeque, duvidava, como se eu tivesse escondendo algo das pessoas e me colocavam na posição de quem “enganava” alguém. Era uma situação que me incomodava.

Quem: Quando saiu, o público contestou sua relação com a Jaque?
Lucas Souza: Sim e isso influenciava de alguma forma a vida a dois. Primeiro que a pessoa que está do seu lado fica insegura, desconfortável. Tinha dia que eu postava um conteúdo na internet ou uma publicidade e ficava mal porque achava “defeitos” no vídeo e já previa os comentários que viriam. Eu passei a tentar me resolver comigo mesmo porque foi algo que prolonguei durante minha vida, deixei de lado. Eu também precisava me entender porque tinha muitas dúvidas do que eu gostava, do que eu não gostava.

Quem: Você é ex-militar. Como era lidar com sua própria sexualidade dentro do Exército?
Lucas Souza: Venho de um ambiente conservador, de dentro do Exército, um ambiente machista, homofóbico… não é uma crítica à instituição em si, mas é o fato! Imagina a confusão na cabeça dessas pessoas com as quais eu convivia. Tudo isso sendo exposto [na TV] não da maneira que eu gostaria que fosse. Nesse tempo, muitas fake news rolaram sobre mim e isso foi me travando cada vez mais. (…) Esse desconforto começou a me sufocar e me pressionar a falar.

Quem: Quando você começou a perceber que olhava para mulheres e homens com o mesmo tipo de interesse?
Lucas Souza: Sempre percebi isso, desde criança. Passei muito tempo da minha vida sem me aceitar e pendia somente para relacionamentos com mulheres, não queria saber de homens. Até eu parar para pensar sobre quem sou eu, quais são as minhas vontades, demorou um tempo. Chegar a essas conclusões foi muito recente. Até mesmo quando saí da Fazenda foi um período de me entender.

Quem: Dentro da Fazenda, a Kally Fonseca e a Cariúcha sempre diziam que sabiam de segredos seus e quase te tiravam do armário. Como aquilo refletia em você?
Lucas Souza: Isso aconteceu desde a primeira semana. Eu já sabia que isso seria pauta, mas como não era completamente definido para mim, um assunto crítico naquele momento, eu queria sempre mudar as pautas. Tinham pessoas que tomavam atitudes absurdas de me imitar, passavam do meu lado rebolando, gritavam palavras homofóbicas para mim e eu tentava trocar de assunto. Quando a Adriane Galisteu se pronunciou sobre os casos de termos homofóbicos que falavam no programa, eu não tomei aquilo para mim para usar no jogo. Eu entendia que era algo muito pessoal e, naquele momento, eu estava focado em outras coisas, só que isso desgastou meu psicológico.

Quem: Como estava seu psicológico?
Lucas Souza: Acabado, destruído. É um sentimento de impotência. Não era algo resolvido ainda para mim e eu sentia que se falasse algo sobre isso no programa, as pessoas diriam que estava enganando a Jaquelline, usando ela, invalidariam todos os meus sentimentos, todo o meu passado, a situação mal resolvida com minha família [me preocupava]… Esses foram os principais motivos de ter saído da Fazenda. Eles entenderam meu ponto fraco e usaram os meus sentimentos e mazelas para me desestabilizar.

Quem: Depois do programa, você e a Jaquelline conversaram sobre sua sexualidade. Como foi para você?
Lucas Souza: Eu já tinha dado indícios para ela dentro do jogo. Assim como em todos os meus relacionamentos, eu procuro ser o máximo honesto possível. Foi um momento que eu quis ser honesto com ela. Queria que todos entendessem que cada um tem o seu momento para falar sobre esse assunto. Ninguém tem essa obrigação! Tive vontade de falar para encorajar as pessoas, queria ser uma representatividade para aqueles que também sofreram [com dúvidas].

Quem: Como foi o reflexo da sua carta aberta para o seu público?
Lucas Souza: Teve uma parte negativa e outra positiva. Recebi muitas mensagens de ódio, comentários negativos, preconceito, invisibilidade da bissexualidade, pessoas que diziam que era apenas um processo de não aceitação de uma pretensa homossexualidade… Ainda recebo esse tipo de comentário. Falo nas minhas redes sociais com um público mais conservador, que é aquele que assiste bastante TV, pessoas mais velhas, então perdi mais de 250 mil seguidores desde que falei abertamente sobre minha sexualidade. Só que também teve um lado positivo, pois 260 mil novas pessoas começaram a me seguir. Foi uma mudança gigantesca de público.

Quem: Uma das discussões mais importantes dos últimos tempos tem sido a problemática de “arrancar alguém do armário”. Qual é o seu ponto de vista de quem sofreu isso?
Lucas Souza: Essa é uma briga também dentro da comunidade LGBTQIAPN+. As próprias pessoas que passaram por esse processo de autoaceitação, de assumir, também estão forçando que outras pessoas se assumam. É algo extremamente errado! Eu entendo que eles querem mais pessoas que lutem por isso, uma voz escondida não é ativa, mas a gente precisa ser humano para entender que cada um tem seu tempo. Assumi minha sexualidade aos 23 anos, mas tem gente com 50 ou que morre e ainda não se sente preparada para falar desse assunto. A decisão é de cada um. Cabe a nós transformarmos o cenário que vivemos para que as pessoas se sintam à vontade para falar e não pressioná-las. Elas precisam se sentir acolhidas!

Quem: O que você espera para o futuro?
Lucas Souza: Quero lutar a favor do respeito, do amor, para as pessoas se amarem sem distinção de raça, gênero ou orientação sexual, que elas possam ser livres, que voltem a energia para situações que realmente precisam ser debatidas e combatidas na sociedade. Estou feliz de correr atrás da minha vida profissional como ator, influenciador e um dia quero ser porta-voz da comunidade LGBTQIAPN+. Quero levar essas pautas com todo respeito porque sei que envolvem vidas.