Dia da Consciência Negra: artistas negros falam sobre a luta racial
Zezeh Barbosa, Milton Filho e Sandra de Sá exaltam a importância da negritude para a construção da identidade brasileira
O Dia da Consciência Negra é celebrado nesta segunda-feira (20), data que faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, que lutou para preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir da escravidão, e a importância do dia 20 de novembro está no reconhecimento dos descendentes africanos na constituição e na construção da sociedade brasileira.
Quem conversou com os atores Zezeh Barbosa e Milton Filho, atualmente no ar em Fuzuê, e com a cantora Sandra Sá, em cartaz com o espetáculo 80. A Década do Vale Tudo – Doc.Musical, em cartaz até fevereiro do ano que vem no Teatro Claro Mais, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sobre a importância da data. Leia, abaixo:
Zezeh Barbosa e Milton Filho
Eles são tia e sobrinho em Fuzuê. Uma parceria que vai além da tela. Zezeh Barbosa e Milton Filho celebram amizade, conquistas e a boa fase. Além de Fuzuê, Zezeh está em Todas as Flores, novela das 11, também na Globo e, no Globoplay, em A Lua me disse. Milton, por sua vez, está na comédia musical Atlântida, no Teatro Dulcina, no Centro do Rio.
Importância da data
Zezeh: “Dia 20 de Novembro — Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra! Data importantíssima. Triste falar de tantas gerações que até hoje vivem à sombra da escravidão…”
Milton: “Uma grande conquista. O dia 20 tem que existir para que a sociedade como um todo reflita e passe a agir contra todo o resquício de racismo existente e também para que nós, negros e negras, celebremos nossos ancestrais que tanto lutaram pela sobrevivência.”
Cenário está mudando?
Milton: “Se racionalizarmos todos os setores de nossa sociedade, veremos que ainda precisamos avançar muito. Vejo com bons olhos e vibro com nossas conquistas, mas enquanto um jovem negro ainda é morto a cada 23 minutos, falhamos enquanto sociedade. O olhar para nossos corpos ainda precisa mudar.”
Zezeh: “Comemoro todo dia, as pequenas vitórias, sinto que já existe esse movimento transformador, mas falta muito! Longo caminho até a empatia, respeito, trabalho e uma vida ao menos justa…”
Luta racial
Milton: “Ela é essencial para a manutenção das conquistas e para que o avanço da discussão racial se amplie a mais negras e negros, com o objetivo de um letramento melhor sobre a nossa real condição junto à sociedade.”
Zezeh: “Lutar pela igualdade racial não é escolha. Como não exigir trabalho e tratamento digno, respeito? É fundamental lutar por um país justo, humano, onde todo mundo tenha comida no prato, um teto, estudo de qualidade e oportunidade.”
Voz enquanto artistas
Milton: “A conquista de um pode ser a de todos. Penso que é de total relevância que artistas negros se posicionem para dar mais palco para as pautas raciais, trazendo, para além da representatividade de nossos corpos, uma voz um pouco mais amplificada na luta contra o racismo.”
Zezeh: “Com certeza, importantíssimo que as gerações seguintes tenham inspiração para transformar e ‘curar’ suas vidas. Precisamos de novas e lindas memórias profissionais que inspirem, motivem e deem esperança aos que vieram depois. Amo tanto ser atriz e meu coração se ilumina quando sinto que minha carreira inspira pessoas que, assim como eu, venho de uma família grande e simples, tem a nosso lado só Deus.”
Representatividade
Milton: “Nosso país foi e continua sendo alicerçado pelo povo preto. Sempre somos associados a serviços braçais, que não sentimos dor, que não temos intelecto. Nada mais justo que possamos estar em todas a áreas para provar o contrário. E, nas artes, que tenhamos a possibilidade de contar todas as histórias, para assim dar voz ao nosso povo que tanto luta.”
Zezeh: “É a possibilidade de nós, negros, podermos atuar em qualquer área que tivermos talento. A inspiração para os que virão depois como qualquer grupo étnico.”
Protagonismo negro no audiovisual
Milton: “Estamos ainda caminhando para uma equidade no audiovisual, mas celebro muito cada conquista. É preciso que conquistemos espaços não somente à frente das câmeras, mas vislumbro um futuro bem promissor para o nosso povo que cada vez mais quer se ver e contar a sua própria história.”
Zezeh: “Tem custado muito e falta muito ainda. São poucas as oportunidades, temos o problema do ‘colorismo’, desse ‘modelo absurdo’ da perfeição brasileira que não inclui nossa cor e nossos traços. E quanto mais escuro o tom da pele, mais dificuldade para trabalhar.”
[Fotos: @ernanepinho; Make: @biancaaraujo173; Looks: @neri_modas @africaarte; Acessórios: @atelmaacessorios; Agradecimentos: @fabrica.bhering @conflorvegan]
Sandra de Sá
Aos 67 anos, a cantora, compositora e instrumentista Sandra Sá está em cartaz em 80. A Década do Vale Tudo – Doc.Musical , espetáculo que faz parte da série de sucessos que começou com 60! Década de Arromba, com Wanderleia, e 70? Década do Divino Maravilhoso, com Baby do Brasil e As Frenéticas.
Importância da data
“Ah, nós temos que celebrar mesmo! O Dia da Consciência Negra é uma celebração da nossa história, cultura e resistência. É um momento crucial para reconhecer e valorizar as contribuições da comunidade negra na construção do Brasil.”
Reflexão e combate ao racismo
“Infelizmente a situação ainda está osso! Ainda enfrentamos desafios consideráveis, mas vejo que geral está despertando para a importância da luta antirracista. A sociedade está em transformação, mas é fundamental continuar pressionando por mudanças reais. Na minha casa eu já faço isso desde sempre, mas precisamos espalhar a palavra cada vez mais.”
Desafios
“O maior desafio é combater essas violências que são estruturais na sociedade, nossa gente é boa demais para viver sob essa ameaça. Precisamos desconstruir estruturas enraizadas que perpetuam o racismo. Educação, inclusão e políticas públicas efetivas são essenciais nesse processo, e vamos em frente que o nosso povo preto quer avançar cada vez mais.”
Conscientização
“Vou te falar uma parada… É crucial abordar o tema desde cedo, promovendo a diversidade nas escolas e incentivando conversas abertas sobre racismo. Nós temos que cultivar o respeito e a empatia, construindo um futuro mais igualitário para geral, sem lenga-lenga.”
Exemplo
“Ah, eu acho isso uma parada sinistra, sinistra de bom mesmo, sensacional eu diria! É uma responsabilidade e uma honra ser referência para jovens negros. A mídia tem o poder de moldar as percepções, e espero inspirar a próxima geração a perseguir seus sonhos, independentemente das barreiras.”
Mensagem
“O fato de eu estar aqui, como uma mulher preta, lésbica, mãe de um menino preto já é uma mensagem! Neste Dia da Consciência Negra, que possamos celebrar nossa história, promover a igualdade e continuar lutando por um futuro mais justo para todos, porque o baque impacta geral, vamos nos unir nessa parada aí! A união e o entendimento são fundamentais para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva.”