Sexo é Pop: nas telas, prostitutas ressignifcam sexo, dinheiro e poder

Entenda como a prostituição passou da repreensão ao empoderamento na indústria do entretenimento

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Ficou para trás a ideia da garota de programa que precisa ser resgatada da sua realidade infeliz – geralmente por um homem branco e rico. Ao longo dos anos, as prostitutas ganharam poder no entretenimento, passando a serem retratadas como tudo menos indefesas e coitadas. Hoje elas ocupam o papel de protagonistas independentes que trabalham com sexo – algumas por opção, outras não necessariamente -, mas não se resumem a isso.

A mudança é ainda mais clara se compararmos obras atuais com as de alguns anos atrás. Afinal, como esquecer Julia Roberts como Vivian Ward em Uma Linda Mulher (1990)? O papel icônico basicamente restringe a prostituta a um espaço de submissão e, claro, de uma mulher que precisa de salvação. No caso, o salvador é o magnata Edward Lewis (Richard Gere) que, não se pode esquecer, a menospreza em diversas situações por causa de sua profissão.

Ao lado de produções como Bruna Surfistinha (filme de 2011) ou Sky Rojo (série de 2020), que contam respectivamente histórias reais e fictícias acerca do mundo da prostituição, o clássico dos anos 90 é datado. Nas novas narrativas, as prostitutas passam maus bocados, sim, mas estão longe de serem apenas vítimas. Elas são mulheres de negócio, fugitivas e, por vezes, até bandidas.

Mas a questão é: quando essa mudança começou a tomar forma?

Bruna Surfistinha
Divulgação

O poder por trás do sexo

A conquista do lugar da prostituta como alguém empoderada em filmes e séries se deu aos poucos e com ajuda de histórias da vida real.

No cenário brasileiro, é inegável a influência do ativismo de Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha. Criada em um ambiente de classe média alta, Raquel fugiu de casa aos 17 anos e começou a se prostituir. Ganhou fama ao relatar as experiências profissionais em um blog, que rapidamente viralizou. Como resultado, foi convidada para entrevistas e transformar seus relatos em livro (O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de uma Garota de Programa) que posteriormente virou filme estrelado por Deborah Secco e, mais recentemente, a série Me Chama de Bruna, considerada inclusive mais pesada do que o longa.

O filme, no caso, foi sucesso de bilheteria, arrecadando R$ 20 milhões ao redor do país (cinco vezes mais que o orçamento inicial, de R$ 4 milhões). Não por acaso: foi uma das primeiras vezes que muitas pessoas viram na telona a verdade nua e crua da vida de uma prostituta, com vitórias, sofrimentos e, talvez o principal, negócios. De fato, o longa apresenta a faceta da prostituição como ofício, uma possibilidade profissional que, apesar de não regulamentada, pode dar muito dinheiro.

Lays Peace e Mara Vale também surfaram na onda da Bruna e se tornaram prostitutas influencers. Peace bombou nas redes sociais recentemente – hoje com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram – ao narrar suas experiências no ramo e dar dicas para quem quiser seguir o caminho. Já Vale tem o vlog Abre-te Pernas no YouTube, com mais de 150 mil inscritos, onde há dois anos compartilha os bastidores das suas atividades.

No entanto, as prostitutas que narraram suas histórias na internet não foram as únicas responsáveis por influenciar o novo olhar do entretenimento. Ao mesmo tempo em que mulheres como Raquel, Lays e Mara começaram a falar sobre o assunto, notícias sobre outras garotas que escolheram a profissão para ganhar dinheiro rapidamente rodaram o mundo.

Um deles foi o caso “baby squillo” (que traduzindo seria algo como “prostituta bebê”), que chocou a Itália e inspirou a série Baby, da Netflix. Ele eclodiu em 2014, quando foi descoberto que duas adolescentes, entre 14 e 16 anos, de classe média alta, começaram a se prostituir para comprar bens de luxo, como roupas e celulares.

Para se ter uma noção até o marido da neta do ditador Mussolini estava envolvido, sendo posteriormente condenado a um ano de prisão.

Na ficção, o escândalo não se resumiu ao tema da prostituição. Em Baby, somos levados a investigar por que duas jovens ricas optaram por este caminho. A resposta vem por meio da trajetória de Chiara (Benedetta Porcaroli) e Ludovica (Alice Pagani), que, em meio ao tédio e à negligência familiar, procuram alguma forma de aceitação. Vale pontuar, no entanto, que em nenhum momento a produção aposta na fórmula das garotas indefesas: elas sabem o que estão fazendo e escolhem mergulhar no jogo de poder.

Nem tudo são flores

Ainda assim, é preciso fazer uma diferenciação importante. Apesar de as histórias de Raquel, Lays e, em parte, das jovens italianas poderem esbarrar numa certa glamourização da prostituição, é importante lembrar que elas saíram de um ambiente de classe média ou classe média alta. Em outras palavras, elas optaram por fazer programas, não foi uma questão de necessidade… O que não é o caso para todas.

Não é possível falar de prostituição sem citar as mulheres que não tiveram escolha, seja por questão econômica ou por serem obrigadas a isso de alguma forma.

Aqui, produções como Sky Rojo (2021) e As Golpistas (2019) ganham espaço, apresentando mulheres que buscam no trabalho uma forma de ascensão social ou sustento (próprio ou familiar), encarando as dificuldades e salvando a si próprias – sem necessidade de homem algum.

Nesse sentido, a história real por trás do filme As Golpistas é por si só um marco no olhar sobre esse mundo. Quem narra o caso é Roselyn Keo, filha de refugiados cambojanos, que encontrou no trabalho como stripper uma saída para sustentar sua família, chegando a faturar por volta de mil dólares por noite em gorjetas. No entanto, com a crise econômica de 2008, o faturamento dos clubes também caiu drasticamente. Foi aí que Roselyn e um grupo de mulheres começaram a aplicar golpes em clientes, drogando-os e tirando tudo possível dos seus cartões de crédito. O desenrolar é possível conferir no longa, que opta por uma pegada mais glamourizada da história.

As Golpistas
Divulgação

O avanço foi grande, mas ainda tem chão

É inegável a mudança de olhar da indústria do entretenimento para o mundo da prostituição. Como já dito, não há mais mulheres indefesas ou uma moral da história. No entanto, vale apontar que as produções optam por percorrer uma corda bamba entre empoderamento e fetichização – por vezes escorregando feio.

Um exemplo é a série Sky Rojo, da Netflix. Entre denúncias necessárias e cenas fortes de abusos, a produção parece flertar com o fetiche. Afinal, há necessidade de tanto sexo e de personagens com roupas aparentemente desconfortáveis (levando em consideração o contexto de fuga constante em que se encontram)?

Decerto, a série não é a única que comete esses erros e tampouco será a última. Ainda assim, não é demais torcer para algumas mudanças nessa direção para a segunda temporada.

Anúncio de estreia: segunda temporada de Sky Rojo

 

Prostitutas sob novo olhar: onde assistir

P-Valley

Baseada na peça Pussy Valley, a série P-Valley gira em torno de um clube sob comando do personagem Tio Clifford (Nicco Annan). Junto a ele está Mercedes (Brandee Evans), dançarina mais conhecida do lugar cujo sonho é se aposentar e abrir uma academia de dança. A história ganha tom mais dramático com Autumn Night (Elarica Johnson), de passado desconhecido, e Mississippi (Shannon Thornton), que acabou de voltar da licença-maternidade. É a combinação de todas essas figuras que desencadeiam intrigas no clube que afetam a vida de todos.

Disponível em: STARZ Play.

P-Valley | Trailer Oficial

 

Me Chama de Bruna

A famosa história de Raquel Pacheco ganha novas cores e detalhes em Me Chama de Bruna. Na série, acompanhamos a adolescente de 17 anos, interpretada por Maria Bopp, e os acontecimentos que a levam a escolher a prostituição. Ao longo das quatro temporadas, a produção desenvolve a trajetória de Bruna Surfistinha, desde o começo até seus altos e baixos.

Disponível em: Amazon Prime, GloboPlay e Now.

Me Chama de Bruna | Trailer

 

Sky Rojo

Depois de atacarem o cafetão do clube em que trabalham, três prostitutas – Coral (Verónica Sánchez), Wendy (Lali Espósito) e Gina (Yany Prado) – fogem em busca de liberdade. Claro que nem tudo é fácil e em pouco tempo as mulheres se veem sendo perseguidas pelos capangas dele, o que leva o espectador a uma viagem pelo deserto com muita ação, reviravoltas e sexo.

Disponível em: Netflix.

Sky Rojo | Trailer

 

As Golpistas

Destiny (Constance Wu) conta como entrou para o mundo de strippers e como, depois da crise financeira de Wall Street em 2008, se viu sem opção a não ser entrar para o crime. Parte de um esquema de golpes, ela e suas amigas passam a dopar clientes que queiram serviços sexuais enquanto tiram o máximo possível de seus cartões de crédito.

Disponível em: Amazon Prime.

Rua Augusta

Mika (Fiorella Mattheis) é uma stripper que, depois de traumas do passado, procura reconstruir sua vida ao começar a trabalhar em uma boate na Rua Augusta, em São Paulo. Em uma das noites, ela conhece o filho de um empresário rico e poderoso e sua vida muda para sempre.

Disponível em: Amazon Prime.

Rua Augusta | Trailer

 

Harlots

Ambientada no século 18Harlots conta a história de Margaret Wells (Samantha Morton), mulher que é ao mesmo tempo mãe solo e dona de um bordel. A situação se complica ainda mais quando uma casa rival começa a fazer frente ao seu negócio. Para não falir, Wells terá que lutar com unhas e dentes para vencer a disputa.

Disponível em: Now.

Harlots | Trailer

 

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Fonte cineclick
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