Águia de Ouro é a campeã do carnaval de SP pela 1ª vez
Escola mostrou evolução do conhecimento humano, da Idade da Pedra à esperança nos robôs. Carro sobre a bomba atômica levou integrantes da comunidade japonesa e lembrou Hiroshima.
A Águia de Ouro é a grande campeã do carnaval 2020 de São Paulo. Este é o primeiro título da escola no Grupo Especial do carnaval paulista. Foi a primeira vez em 43 anos que a agremiação levou o título de campeã do carnaval de SP.
A escola levou o troféu com enredo sobre a evolução do conhecimento humano, da Idade da Pedra à esperança nos robôs e, em um carro sobre a educação, fez uma homenagem a Paulo Freire. No carro, havia um boneco de Paulo Freire com um livro e a seguinte frase, de autoria do educador: “Não se pode falar da educação sem amor”.
Pérola Negra e X-9 Paulistana foram rebaixadas. O G1 acompanhou ao vivo a apuração das notas, que aconteceu na tarde desta terça-feira (25) diretamente do Anhembi. Veja aqui.
Já as escolas Vai-Vai e Acadêmicos do Tucuruvi ficaram, respectivamente, em primeiro e segundo lugar do Grupo de Acesso e sobem para o Grupo Especial em 2021. A Nenê de Vila Matilde foi rebaixada para o Grupo Acesso II.
No Anhembi, a escola contou com um carro alegórico que provocou polêmica, representando as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em nota da escola, antes da apuração, a escola disse que a intenção foi uma “manifestação respeitosa” que “não pode ser confundida com qualquer tipo de insulto, difamação e principalmente desonrar uma triste lembrança do sofrimento de um povo irmão”.
A presença do carro no desfile de sábado (22) causou polêmica nas redes sociais. Representantes da comunidade japonesa disseram que o carro suscitava lembranças ruins e tristes.
Armando Guerra Júnior, o mestre Juca, que comanda a bateria da escola de samba, ficou tão emocionado com a vitória que disse que ia beijar a boca dos integrantes da agremiação.
“Eu não sei nem o que eu vou fazer, eu vou beijar a boca de um por um”, disse ele. “Eu não sei o que tô sentido, eu tô muito feliz, a comunidade da Pompeia está há 43 anos atrás desse título”, declarou.
A Rosas de Ouro e a Dragões da Real empataram na nota final. De acordo com a Liga das Escolas de Samba, o primeiro critério de desempate é a soma de todas as notas, inclusive as descartadas, exceto fantasia, como já havia sido acordado por causa da Pérola Negra, que perdeu 40% das fantasias com a fortes chuvas que invadiram o barracão a dez dias do desfile.
Dessa forma, o primeiro critério de desempate é sempre a somatória de todas as notas. Se o empate continuar, parte-se para o último quesito lido, que no caso foi bateria.
De acordo com o mestre Juca, que representa o presidente da escola, o diferencial que levou a escola à vitória foi a união da agremiação. “A união da comunidade. A gente veio do grupo de acesso em 2019, ficamos em sexto lugar no Grupo Especial e provamos que a gente era grande.”
Em apuração emocionante, a escola deslanchou no penúltimo quesito e desbancou a Tatuapé, que liderava desde as primeiras notas.
Tati Minerato, musa da escola, comemorou o título direto do Rio de Janeiro. Ela deixou a Gaviões da Fiel no ano passado e estreou como musa da Águia este ano.
“Eu estou muito feliz e muito, muito emocionada! Acompanhei a apuração pela internet. Desde o momento em que eu estava na concentração eu senti a emoção e realmente os carros e as fantasias estavam ótimas, a comunidade estava bem entrosada. Lutamos muito pelo título. Quando terminou o desfile eu sabia que estaríamos entre as três no mínimo. Realmente foi um belíssimo desfile. O presidente e o carnavalesco Sydnei França fizeram um excelente trabalho. E eu fui pé quente hein!”
Trajetória no carnaval
Em 2019, a Águia voltou à elite do carnaval paulistano e ficou em sexto lugar no Grupo Especial. O enredo foi um protesto contra a ganância e a corrupção.
Ranking de títulos no carnaval
Rebaixada em 2019, a Vai-Vai é a maior campeã do carnaval de São Paulo, com 15 títulos conquistados. Em segundo, está a Nenê de Vila Matilde, com 11, seguida de Mocidade Alegre, com 10, e Camisa Verde e Branco, com 9. A Rosas de Ouro, que ficou em sétimo lugar na disputa em 2020, tem 7 títulos.
Além da Águia, que nunca tinha ganhado antes deste ano, a Mancha Verde também tem apenas um título, conquistado no carnaval de 2019.
O desfile
A escola mostrou os lados bom e ruim do uso da sabedoria – desde a invenção da roda até tragédias como a bomba atômica.
- O terceiro carro lembrou o bombardeio de Hiroshima, no final. 120 pessoas fizeram uma encenação sobre a devastação. Algumas delas eram parte da comunidade japonesa de SP.
- O carro sobre a bomba impressionou, mas o desfile terminou com tom otimista, imaginando um futuro sustentável com a tecnologia usada para o bem.
- Tati Minerato estreou como musa na Águia depois de 20 anos de Gaviões da Fiel.
O nome do enredo foi “O Poder do Saber – Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Foi tudo contado em ordem cronológica, inclusive os momentos em que o homem usou a sabedoria para o mal.
Foi a estreia do carnavalesco Sydnei França na Águia de Ouro. Ele já fez 11 desfiles pela Mocidade Alegre, foi carnavalesco da Vila Maria e também da Gaviões da Fiel.
O desfile foi dividido em cinco setores. O primeiro falou sobre a pré-história e os primeiros passos do conhecimento, como a ala que representou o fogo, a agricultura e a roda.
A segunda parte falou sobre a sabedoria intelectual, que levou ao desenvolvimento da comunicação e da cura. O terceiro setor mostrou inventos tecnológicos e avanços científicos. Foram representados, por exemplo, Santos Dumont e o avião, Albert Einstein e a teoria atômica. Foi neste trecho que apareceu o carro com o alerta sobre a bomba atômica e o conhecimento usado para a destruição.
O quarto setor exaltou a educação, inclusive no Brasil, com um carro em forma de escola com homenagem a Paulo Freire.
O último projetou um futuro em que a tecnologia, inclusive a dos robôs, promove valores de justiça social e sustentabilidade.