Machado de Assis: as obras do autor mais cobradas no vestibular
O autor é leitura obrigatória para vestibulares como Fuvest e Unicamp
Considerado pela crítica um dos maiores escritores da literatura brasileira, Machado de Assis é um autor que sempre marca presença nas provas de vestibular. Enquanto outros autores se especializam em contos ou romances, Machado se destaca nos dois.
“Ele é considerado pela crítica um excelente contista e excelente romancista. A sua grande importância está em trabalhar os contos curtos, mas também dominar a escrita em várias páginas. É uma peculiaridade do autor”, diz a professora de literatura Cláudia Abuchaim.
Nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, Machado perdeu a mãe muito cedo e acabou sendo criado pela madrasta. Ainda jovem, começou a trabalhar na redação do Correio Mercantil e teve contato as obras dos escritores românticos Casimiro de Abreu, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Pedro Luís e Quintino Bocaiúva.
Machado de Assis também é conhecido por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, sendo o primeiro presidente da entidade. Ele ocupou a posição até sua morte, em 1908.
As obras do escritor são divididas em duas fases. A primeira é incluída no Romantismo, na qual ele mostra personagens buscando uma ascensão social — mas sem fazer críticas à sociedade. Nesta fase ele publicou obras como A mão e a luva (1874) e Helena (1876) e ganhou reconhecimento do público e da crítica.
Na década de 1880, o escrito muda seu estilo, e suas obras se tornam totalmente realistas. Inclusive, a inauguração do Realismo no Brasil se dá com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) — que já conta com as principais caractéristicas desta fase do autor: pessimismo, ironia, espírito crítico e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira.
“É o estilo machadiano: conversa diretamente com o leitor, intervém na narrativa, comenta o próprio romance, filosofa, bisbilhota a vida das personagens, lembrando-nos de que atrás do narrador está o artista Machado de Assis, que manda e desmanda no enredo e nas personagens e ironiza o leitor”, diz Abuchaim. A digressão também é uma das marcas do autor, que para durante a história e conta detalhes sobre algo que aconteceu anteriormente.
Para o vestibular, é importante ficar atento à impessoalidade de Machado, que usa outros autores como referência em suas obras. Em Quincas Borba, há uma referência a Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, enquanto Dom Casmurro tem uma intertextualidade com Otelo, de William Shakespeare.
PRINCIPAIS OBRAS
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Uma de suas principais obras é Memórias Póstumas de Brás Cubas, que conta as lembranças — desde a infância — de um homem que já morreu. O protagonista é membro da sociedade patriarcal brasileira da época, crescendo com muitos privilégios. Quando crianlça, se aprofeitava de Prudêncio, escravo que servia de montaria para Brás Cubas.
A obra faz uma clara divisão da sociedade da época, em que os donos de escravos eram a elite e os escravos eram responsáveis por trabalhar. Entre eles, existe uma espécie de classe média, formada por pequenos comerciantes e outros servidores, mas que não têm nenhum título de nobreza.
O jovem Brás Cubas era apaixonado por Marcela, uma prostituta que não sentia o mesmo por ele. Para conquistá-la, o jovem gasta dinheiro da família com vários tipos presentes — o que desagrada o pai, que o manda para estudar na Europa. Brás volta ao Brasil formado, mas ainda sem querer trabalhar e vivendo dos privilégios da elite. Ele se apaixona por Virgília, mas ela acaba se casando com Lobo Neves, que recebe a candidatura a deputado que Brás Cubas esperava.
Quincas Borba
O livro Quincas Borba (1891) — referência obrigatória para a Fuvest — tem um narrador em terceira pessoa e onisciente. Na história, o protagonista Rubião recebe, aos 40 anos, uma herança de Quincas Borba com tudo o que pertencia a ele: escravos, imóveis, investimentos, além do cão que também tem o nome de Quincas Borba.
“A obra tem uma objetividade realista, ou seja, não existe idealização da personagem. É uma forma crítica e irônica de mostrar a sociedade. Ele traz o professor Rubião que é extremamente ingênuo, em uma época que os professores eram muito espertos”, explica Abuchaim.
É neste romance também que Machado de Assis dá mais detalhes sobre o Humanitismo, filosofia de Quincas Borba que é vista como uma paródia do Positivismo, de Augusto Comte, e à teoria de Charles Darwin sobre a seleção natural. A teoria apareceu pela primeira vez em Memórias Póstumas de Brás Cubas, quando Quincas Borba é apresentado como amigo do protagonista.
“A frase ‘Ao vencedor, as batatas!’ remete à teoria dos evolucionismos sociais, baseada no trabalho de Darwin, uma maneira de desvelar de forma irônica o caráter cruel da ‘lei do mais forte'”, diz a professora. Os mais fortes seriam Palha e Sofia, que se aproveitam de Rubião por causa de sua herança.
Dom Casmurro
Mas é claro que não podemos deixar de falar de Dom Casmurro (1899), uma das obras mais icônicas de Machado de Assis, que também traz a crítica a toda a sociedade brasileira. O protagonista Bento Santiago se dispõe a narrar a história de sua vida, com destaque para o relacionamento com Capitu, em que ele tem certeza de que a personagem o traiu com seu melhor amigo, Escobar.
Após a morte do amigo por afogamento (apesar de ele ser um ótimo mergulhador), Bentinho vê um sofrimento exagerado por parte de Capitu que o faz desconfiar de adultério. Além disso, o filho do casal teria uma grande semelhança com Escobar. A traição, no entanto, nunca chega a ser confirmada.
Contos
Em relação aos contos, O Espelho, obrigatório no vestibular da Unicamp, tem uma ironia sobre o cristianismo. Está escrito na Bíblia que temos apenas uma alma, mas o protagonista da história, Jacobina, diz que traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro.
“A ‘alma exterior’, para Jacobina, diz respeito ao papel social de uma pessoa em determinada sociedade, como uma máscara social, que se torna mais significativa do que qualquer outro aspecto da interioridade de um ser humano. Para o protagonista, cada pessoa não possui autonomia, pois depende quase por completo da avaliação alheia”, explica Abuchaim
*Com supervisão de Luiza Monteiro