Número de brasileiros com dívidas a vencer atinge recorde de 78%

Depois de dois meses de queda, a inadimplência também aumentou, chegando a 29%, o maior patamar desde 2010

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O segundo semestre começou com novos recordes de endividamento e inadimplência dos brasileiros: 29% das famílias tinham algum tipo de conta ou dívida em atraso em julho, o maior patamar de inadimplência desde 2010, quando teve início a série histórica da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor). Já o número de endividados subiu para 78%.

Os dados são da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). O total de inadimplentes aumentou 0,5 ponto percentual na passagem de junho (28,5%) para julho (29%). Em relação a julho de 2021, quando foi registrado índice de 25,6%, houve uma elevação de 3,4 pontos percentuais na proporção de lares em situação de inadimplência.

Do total de inadimplentes, 10,7% disseram não ter como pagar os compromissos assumidos, proporção 0,1 ponto percentual maior do que no mês anterior e 0,2 ponto percentual menor do que no mesmo período do ano anterior.

A pesquisa mostra que a maioria dos que não conseguem pagar contas ou dívidas já atrasadas, de meses anteriores, está entre os consumidores que não concluíram o ensino médio (13%), que também foram os que mais precisaram atrasar pagamentos no mês de julho (33,3%).

Para a CNC, o aumento da inadimplência indica que as medidas do governo tiveram efeito apenas momentâneo no pagamento de contas ou dívidas em atraso, concentrado no segundo trimestre do ano. Essas medidas de estímulo ao consumo foram os saques extras do FGTS e a antecipação do 13º salário aos beneficiários do INSS.

De acordo com a confederação, o mercado de trabalho está absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade e de maneira informal, o que aumenta a incerteza na gestão das finanças pessoais. Além disso, a inflação elevada achata os rendimentos e dificulta a organização do orçamento familiar.

Endividamento

A porcentagem de famílias com dívidas a vencer cresceu 0,7 ponto percentual em julho, atingindo a marca recorde de 78% dos lares brasileiros. Em relação a julho do ano passado, a proporção de endividamento teve um crescimento de 6,6 pontos percentuais. A pesquisa da CNC considera como dívidas as contas a vencer em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e prestação de casa.

O aumento do endividamento foi de 0,5 ponto percentual entre as mulheres e de 1 ponto percentual entre os homens, ficando em 80,6% e 77,5%, respectivamente. A pesquisa aponta desaceleração no endividamento entre as mulheres nos últimos meses, mas o incremento na comparação anual foi de 8,3 pontos percentuais, enquanto entre os homens a alta foi de 6,3 pontos percentuais.

“O percentual de comprometimento da renda permanece no mesmo valor, em 30,4%, desde abril, mas 22% dos brasileiros estão com mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas”, diz a nota da CNC.

Quem deve?

Segundo a Peic, as famílias que têm renda mensal superior a dez salários contraíram mais 0,8 ponto percentual de dívidas em julho, chegando a um endividamento de 75%. Na faixa com renda abaixo de dez salários mínimos, a quantidade de endividados cresceu 0,6 ponto percentual, atingindo 78,8%. Nas duas faixas, as taxas são recordes.

“As classes de despesas das famílias que ganham menos são justamente as que tiveram maiores aumentos recentes de preços, então elas acabam gastando uma parcela maior do orçamento para fazer frente ao aumento da inflação. Ou seja, as famílias com menor renda foram mais afetadas e aumentaram o endividamento, a despeito dos juros altos, para sustentar seu nível de consumo”, explicou a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC, em nota oficial.

Entre as modalidades de dívidas, pelo terceiro mês consecutivo houve redução nas contas a pagar em cartão de crédito. Do total de endividados, 85,4% tinham esse tipo de dívida em julho, ante uma fatia de 88,8% em abril deste ano.

“As famílias têm buscado alternativas de crédito mais baratas por causa dos juros elevados. Com isso, carnês de loja e crédito pessoal foram as modalidades que avançaram no endividamento, neste início de semestre, representando 18,8% e 9,2% do total de famílias com dívidas, respectivamente”, acrescentou Izis.

A pesquisa mostrou ainda uma queda nos financiamentos de automóvel e da casa própria. Em julho de 2021, 12,6% das famílias pagavam prestações de carro, e 9,7%, de casas. Em julho deste ano, apenas 10,6% das famílias pagaram financiamento de carro, enquanto a fatia comprometida com prestações da casa própria desceu a 7,6%.

“O motivo para menor uso de crédito de longo prazo também é o crescimento dos juros, que aumentaram em média 5,8 pontos percentuais em um ano, para carros, e 2,8 p.p., no caso da aquisição de imóveis pelas pessoas físicas”, justificou a CNC.

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Fonte r7
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