Lula diz que a fome ‘existe por decisão política’ e quer tirar o Brasil do Mapa da fome até 2026
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que a fome “não é uma coisa natural” e que “ela existe por decisão política”. Ele também reafirmou seu compromisso de campanha de acabar com a insegurança alimentar no país e tirar o Brasil do Mapa da Fome até o fim de seu mandato.
Um desafio diante dos números apresentados hoje: ainda existem 8,4 milhões de brasileiros que passam fome, segundo relatório da ONU divulgado nesta manhã.
– A fome não é uma coisa natural. Ela existe por decisão política. Por favor, olhem os pobres porque eles são serem humanos, são gente e querem ter oportunidade – disse Lula no fim do seu discurso, falando de improviso.
Para ele não é possível, que na metade do século XXI, estejamos discutindo inteligência artificial “sem consumir a inteligência natural que já temos”.
As declarações foram dadas no pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no Rio, principal iniciativa da presidência brasileira no G20, para combater a fome no mundo.
– A fome tem o rosto de uma mulher e a voz de uma criança. Mesmo que elas preparem a maioria das refeições e cultivem boa parte dos alimentos, mulheres e meninas são a maioria das pessoas em situação de fome no mundo.
Mapa da Fome
Ele disse ainda que o combate à fome depende de decisões políticas:
– A fome não resulta apenas de fatores externos, mas decorre sobretudo de escolhas políticas. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos.
E complementou:
– Tomamos a decisão política de colocarmos os pobres no orçamento (…) Ainda temos mais de 8 milhões de brasileiros nessa situação. Este é um compromisso do meu governo: acabar com a fome, como fizemos em 2014 (…) Meu amigo, diretor-geral da FAO, pode se preparar para anunciar em breve, ainda no meu mandato, que o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome.
Há diferentes critérios de fome usados por distintas instituições. A ONU coloca no Mapa da Fome os países que possuem mais de 2,5% da população na condição de subalimentação. O Brasil voltou ao Mapa da Fome durante a pandemia, do qual estava fora, pelo menos, desde o triênio de 2014 a 2016.
Taxação de super-ricos
Lula disse ainda que a riqueza dos bilionários passou de 4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas décadas, e que “alguns indivíduos controlam mais recursos que países inteiros”.
– Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros. Outros possuem até programas especiais próprios. Vários países enfrentam problema parecido: no topo da pirâmide, o sistema tributário deixa de ser progressivo e passa a ser regressivo.
Uma das propostas da presidência brasileira do G20 é justamente taxar os super-ricos. Segundo números apresentados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a taxação global de 2% sobre super-ricos traria arrecadação de US$ 200 bilhões a US$ 250 bilhões por ano.
– Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora. Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido no tema da cooperação tributária para estabelecer padrões mínimos de tributação global, fortalecendo as iniciativas existentes e incluindo os bilionários – disse Lula.
Pelotão de ministros
Dez ministros estiveram presentes na cerimônia, além do assessor especial, Celso Amorim.
Participaram do evento:
- ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira;
- o ministro da Fazenda, Fernando Haddad;
- o ministro, substituto, da Cultura, Márcio Tavares;
- o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias;
- a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck;
- o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira;
- a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco;
- a ministra da Saúde, Nísia Trindade;
- o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo;
- o ministro, interino, da Secretaria de Comunicação Social, Laércio Portela.