Diretor diz que BC busca “pouso suave”, reduzindo inflação com impacto menor na atividade
Maurício Costa de Moura disse em debate na Câmara que a autoridade monetária não mantém os juros altos por prazer ou sadismo
O Banco Central tem como missão perseguir e assegurar a estabilidade de preços e tem desempenhado seu papel para colaborar nos esforços conjuntos de buscar o desenvolvimento sustentável, com inflação baixa. A declaração foi nesta terça-feira (15) por Maurício Costa de Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do BC e membro votante do Copom.
Em debate na Comissão de Indústria, Comércio e Turismo da Câmara do Deputados sobre o impacto dos juros na concessão de crédito às micros, pequenas e médias empresas, o diretor explicou que o BC depende de sua credibilidade para atingir essas metas e que não toma decisões por decreto.
“O Banco Central do Brasil não mantém os juros altos por prazer ou sadismo. E tem conseguido realizar o chama de ‘pouso suave’, que é conseguir combater a inflação com o mínimo de impacto possível na atividade, no emprego e no crédito”, afirmou, ao lembrar que ele participou tanto do ciclo recente de baixa (estava na diretoria quando a Selic chegou a 2% ao ano), como nos de estabilidade e de alta.
Sobre esse “pouso suave”, ele lembrou que a política monetária conseguiu derrubar a inflação em 8,7 pontos percentuais entre junho de 2022 e junho de 2023, com o PIB crescendo 0,3%.
Moura afirmou que em todos os países, as pessoas têm consciência do custo da inflação, especialmente para as camadas mais pobres da população, mas também na desorganização da economia e o quanto ela cobra seu preço na redução do investimento e na criação de emprego e geração de renda.
Sobre as expectativas de inflação atuais, ele comentou que os núcleos ainda estão em 5,6% em 12 meses, bem mais altos do que as metas de 3,5% em 2023 e de 3,0% nos anos seguintes. Sobre os componentes principais, o diretor do BC afirmou que a inflação da alimentação no domicílio tende a cair, mas a variação de preços de serviços é mais difícil de se debelar.
Os preços administrados, que incluem gasolina e diesel, também terão repique de 0,40 p.p. neste ano, divididos ente agosto e setembros após o reajuste praticado pela Petrobras hoje.
Também prese te ao debate, Gilberto Rodrigues, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), comentou que o impacto dos juros é mais pronunciado para as micro e pequenas empresas. As taxas referenciais para a microempresas estavam 36% no final do ano passado, enquanto para as pequenas estavam na casa dos 35%. “A diferença gritante quando se olha para as taxas referenciais de juros para grandes empresas, de 17%”, comparo
Ele explicou que as MPMEs tem menos acesso a linhas de financiamento e são mais sensíveis aos ciclos econômicos ao mesmo tempo em que exercem um papel especial na dinâmica da economia porque são as grandes geradoras de empregos formais.
Pelos cálculos do BNDES, o saldo devedor das MPMEs no Sistema Financeiro Nacional é de R$ 1 trilhão, sendo que o tem participação de 16% nesse total, seja no crédito indireto, seja na condição de garantias.