Copom corta Selic de 5% para 4,5% ao ano
Banco Central termina 2019 surpreendendo um total de praticamente zero pessoas, cumprindo com o que já havia sinalizado em seu último comunicado; próximos passos estão em aberto
Surpreendendo um total de praticamente zero pessoas no mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou de 5% para 4,5% ao ano nesta quarta-feira (11) a meta para os juros básicos (Selic).
Renovou-se, assim, o piso histórico da taxa de referência usada para a cobrança de juros em empréstimos e financiamentos; e para a remuneração das aplicações financeiras realizadas no Brasil.
Neste comunicado, os dirigentes do BC disseram que “o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária”.
Diferentemente do que fez nas decisões recentes, em que já sinalizava com clareza o que faria na reunião seguinte, desta vez o Copom indicou que os rumos dos juros “continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.
Ou seja, os próximos passos a serem tomados na política monetária parecem estar em aberto. Mais detalhes podem ser publicados na ata da reunião, que será publicada na próxima terça (17).
Entre 75 instituições consultadas pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, 72 apostavam em ajuste de 0,5 ponto; enquanto três previam corte de 0,25.
O BC destaca no comunicado “que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
Nesta última reunião de política monetária de 2019, os dirigentes do BC concretizaram, por unanimidade, o que haviam sinalizado na decisão anterior – quando disseram que, mantida “a consolidação do cenário benigno para a inflação”, a taxa poderia passar por mais “um ajuste adicional, de igual magnitude” aos que vinham sendo praticados.
Desde julho, o BC vem cortando a Selic em meio ponto percentual reunião a reunião, totalizando no encontro desta noite a sua quarta tesourada igual e consecutiva. De lá para cá, os juros básicos caíram da altura dos 6,5% ao ano, onde estavam parados desde março de 2018.
A Selic vinha testando mínimas históricas desde o fim de 2017, quando chegou aos 7% ao ano. Até então, o menor patamar desde o início do regime de metas de inflação, adotado desde 1999, era o de outubro de 2012 e abril de 2013, quando os juros ficaram parados nos 7,25% ao ano.
Todo esse longo período de cortes, ainda que com interrupções, vem acontecendo na esteira da fraqueza da economia brasileira, refletida em baixos níveis de consumo e, consequentemente, a inflação – ou seja, a variação média dos preços.
Neste ano, o BC se comprometeu a entregar a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o famoso IPCA, entre 2,75% a 5,75% ao ano, sendo o centro dessa meta os 4,25% ao ano. O IPCA mais recente acusa inflação em 12 meses, medida em novembro, de 3,27%.
A Selic é o instrumento usado pelo BC para controlar a inflação. Quando ela está além da desejada, os juros básicos são puxados para cima – o que encarece o custo de empréstimos e financiamentos, pressionando a cair o consumo e, como reflexo, a variação média dos preços.
Já se o IPCA está abaixo da meta estabelecida, como agora, há espaço para a Selic ser puxada para baixo – o que, por sua vez, empurra o consumo e a inflação para o alto.
Veja a íntegra do comunicado:
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019. O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual;
No cenário externo, a provisão de estímulos monetários nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 4,0% para 2019, 3,5% para 2020 e 3,4% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a., reduz-se para 4,25% no início de 2020, encerra o ano em 4,50% e se eleva até 6,25% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$4,15/US$, 2020 em R$4,10/US$ e 2021 em R$4,00/US$; e
No cenário híbrido com taxa de câmbio constante a R$4,20/US$* e trajetória de juros da pesquisa Focus, projeta-se inflação em torno de 4,0% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,7% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, em um contexto de transformações na intermediação financeira, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (iv) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 4,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.