Consumidor dilui as compras do mês para esticar salário até o fim do mês
A pandemia mudou a forma como o consumidor faz suas compras de mês. As compras de abastecimento – aquelas maiores e com mais itens – tradicionalmente são feitas no começo do mês, quando o salário cai na conta das pessoas.
Com o aumento do desemprego e redução da renda, essas compras mais pesadas foram diluídas e ganharam importância no meio e fim de mês, de acordo com estudo da Kantar.
“As pessoas costumavam fazer as compras mais parrudas no começo do mês, quando recebem seus salários. Mas para racionalizar o gasto, esses gastos passaram para o meio e fim do mês. Porque a pessoa sabe que o próximo pagamento está chegando e que dá para gastar mais”, afirma Rafael Couto, gerente sênior de soluções para consumidores da Kantar.
Além das compras maiores, ficaram para o fim do mês as aquisições de produtos mais caros. A lógica é a mesma: esperar o fim do mês para ver se aqueles itens estão dentro do orçamento familiar.
Comprando menos
No começo da pandemia, em março de 2020, os consumidores correram aos supermercados e fizeram grandes compras de abastecimento. “Ninguém sabia quanto tempo a pandemia iria durar, se iria faltar produto, por isso houve aumento da compra de abastecimento”, diz Couto.
Com o passar dos meses, o consumo foi se normalizando. “Com a volta das restrições, em fevereiro e março deste ano, os consumidores fizeram menos compras. A frequência caiu muito. Só que diferentemente do começo da pandemia, as pessoas não levaram tantos itens para casa desta vez”, afirma Couto.
De acordo com levantamento da Kantar, o consumo neste período caiu 5% em relação a igual período de 2020.
Diferenças entre classes sociais
No começo do mês, consumidores de todas as classes sociais costumam se abastecer em atacarejos e hipermercados. As mudanças de hábito começam no meio e fim de mês. No meio de mês, as classes AB e C, vão ao supermercado e pequeno varejo, enquanto a DE empurra o gasto para o fim do mês.
“O fim do mês passa a ser mais relevante para a compra de urgência, aquela em que o consumidor leva poucos itens”, afirma Couto.
Atacarejo para todos
Segundo ele, o atacarejo deixou de ser um canal de abastecimento exclusivo para a baixa renda. “O atacarejo cresceu bastante e serve como canal de abastecimento de todas as classes sociais. O formato se modernizou, deixou de ser aquele lugar feio e oferece novos serviços. É claro que as limitações têm um limite, pois é preciso manter o atrativo do preço.”
Força do e-commerce
A participação do e-commerce nas compras saltou de 3% no começo da pandemia para 5,8% no fim de 2020. No e-commerce, as compras mais pesadas são realizadas no começo do mês, com preferência para produtos de marca própria. No meio do mês, o consumidor compra marcas premium e no final, produtos econômicos.
“O e-commerce vem crescendo muito e o WhatsApp tem papel importantíssimo nisso, representa 3,8% das compras”, afirma Couto.