Chefes da diplomacia de EUA e China se encontram em Pequim
Anthony Blinken, o mais alto funcionário dos EUA a visitar a China em 5 anos, faz sua viagem em um momento tumultuado nas relações entre os países
O secretário de Estado Antony Blinken se encontrou com seu homólogo chinês em Pequim no domingo, enquanto o governo Biden busca estabilizar os laços tensos entre as duas maiores economias do mundo.
O principal diplomata dos EUA, cuja tentativa anterior de visitar a China em fevereiro foi cancelada no último minuto, quando os americanos revelaram que um suposto balão espião chinês estava flutuando sobre seu território, terá uma série de reuniões com autoridades de alto escalão ao longo dos dois dias após sua chegada na manhã deste domingo (18).
Na tarde de domingo, Blinken se encontrou com o Ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, na Casa de Hóspedes do Estado Diaoyutai, um antigo jardim imperial onde autoridades chinesas recebem dignitários estrangeiros. Os dois apertaram as mãos e trocaram gentilezas sobre o voo de Blinken antes de se sentarem com suas respectivas delegações em lados opostos da mesa. Os jornalistas foram convidados a sair antes que alguém falasse.
Uma reunião menor e, em seguida, um jantar deveriam acontecer, de acordo com um alto funcionário do Departamento de Estado. Blinken também pode ter uma reunião com o líder chinês Xi Jinping e fazer declarações em uma coletiva de imprensa antes de partir.
Blinken, o mais alto funcionário dos EUA a visitar a China em cinco anos, está fazendo sua viagem em um momento tumultuado nas relações EUA-China, com os dois lados em disputa em questões que vão desde direitos humanos e tecnologia até comércio e vendas de armas para Taiwan.
Apesar da natureza de alto nível da viagem, autoridades dos EUA minimizaram as expectativas de que Blinken consiga realizar qualquer tipo de reinício dramático com a China ou resolver quaisquer desacordos fundamentais entre Washington e Pequim.
O principal objetivo da viagem de Blinken será tentar restabelecer canais de comunicação de alto nível com os colegas chineses, inclusive entre suas forças militares, para gerenciar a intensa competição entre os países, disse o alto funcionário.
Antes de partir de Washington, Blinken disse na sexta-feira (16) que seus principais objetivos são estabelecer canais de comunicação eficazes, expressar francamente as preocupações dos EUA sobre as políticas chinesas e buscar cooperação em questões globais, incluindo mudanças climáticas e estabilidade macroeconômica.
“Não estamos indo para Pequim com a intenção de ter algum tipo de avanço ou transformação na forma como lidamos um com o outro”, disse Daniel Kritenbrink, secretário assistente de Estado para Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico, a repórteres antes da viagem. “Estamos indo para Pequim com uma abordagem realista, confiante e um desejo sincero de gerenciar nossa competição da maneira mais responsável possível”.
A visita de Blinken faz parte de uma nova onda de engajamento de alto nível entre EUA e China que gradualmente ganhou impulso após o incidente do balão que atrapalhou uma tentativa de Biden e Xi — que se encontraram no final do ano passado em Bali, Indonésia — de estabelecer um caminho mais estável para as relações bilaterais. Biden disse no sábado (17) que espera “encontrar Xi novamente nos próximos meses”.
Algumas das reuniões ocorreram publicamente, incluindo quando o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, visitou os EUA. Mas outras reuniões ocorreram discretamente. O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, recentemente se encontrou com seu homólogo chinês em uma reunião discreta em Viena, enquanto o diretor da CIA, Bill Burns, fez uma viagem secreta a Pequim no mês passado para discutir questões de inteligência.
Ao mesmo tempo, as relações entre EUA e China não têm seguido um caminho constante em direção a relações mais normalizadas. Ambos os lados estão bem cientes do estado das relações bilaterais, e há um reconhecimento por ambas as partes de que interações de alto nível são necessárias para ajudar a estabilizar o relacionamento, disse o alto funcionário do Departamento de Estado em Tóquio.
As forças militares dos EUA e da China tiveram recentemente dois confrontos perigosos entre navios e jatos no Mar do Sul da China, que o Pentágono caracterizou como “desnecessariamente agressivos” e “perigosos”. O Ministro da Defesa chinês, Li Shangfu — que está sujeito a sanções do governo dos EUA relacionadas a compras de armas russas — recentemente rejeitou um encontro com seu homólogo dos EUA, Lloyd Austin, quando os dois participaram de um fórum de defesa em Cingapura neste mês.
A natureza turbulenta das relações EUA-China, assim como a perspectiva de que outro incidente relacionado a Taiwan possa novamente desestabilizar os laços, moderaram as expectativas para a visita de Blinken e o que o principal diplomata dos EUA pode esperar realizar.
“Um bom resultado seria uma melhor compreensão das preocupações e limites de cada lado, bem como um progresso modesto em áreas de interesse comum”, disse Jessica Chen Weiss, professora de Estudos da China e Ásia-Pacífico na Universidade de Cornell. “Em última análise, espera-se que os dois lados possam progredir nos próximos meses em direção a um quadro principiológico para gerenciar as relações EUA-China, respaldado por pequenos, mas críveis, sinais de um interesse compartilhado em estabilizar o relacionamento”.
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