Campos Neto fala em “viés de baixa” para a projeção do PIB de 2022
BC deve rever projeção de crescimento de 2,1%, por causa da alta dos juros e do risco fiscal
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, indicou a congressistas nesta 3ª feira (23.nov.2021) que a economia brasileira pode crescer menos que os 2,1% projetados pela autoridade monetária em 2022. O risco fiscal e a alta dos juros pressionam a atividade.
Roberto Campos Neto participou de um jantar com integrantes da Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo, em Brasília. A frente é coordenada pelo deputado Marco Bertaiolli (PSD/SP) e convidou outros 59 congressistas para o jantar. Cerca de 50 compareceram. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, também passou no evento. Eis a íntegra da lista de convidados (461 KB).
Como costuma fazer nos eventos de que participa, o presidente do BC levou uma apresentação sobre a conjuntura econômica. No material, fala que “há viés de baixa” na estimativa do Banco Central para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. Eis a íntegra da apresentação (3 MB).
O BC projetou um crescimento de 2,1% do PIB em 2022 no Relatório Trimestral de Inflação publicado em setembro. A estimativa é a mesma do Ministério da Economia, mas difere das projeções do mercado.
Segundo o Boletim Focus, o mercado estima um PIB de 0,7% em 2022. A projeção vem sendo reduzida há 7 semanas consecutivas.
Roberto Campos Neto já havia indicado que o BC poderia rever a estimativa de crescimento econômico no próximo Relatório Trimestral de Inflação, que deve ser publicado em 16 de dezembro. Nesta 3ª feira (23.nov), disse que as incertezas fiscais e a alta dos juros explicam o “viés de baixa”.
Na apresentação, Roberto Campos Neto disse que a estimativa de um PIB de 2,1% levava em conta 4 premissas:
diminuição dos níveis de incerteza ao longo do tempo;
manutenção do regime fiscal;
preços mais elevados de energia elétrica massem racionamentos;
continuidade do arrefecimento da pandemia.
Ele disse, contudo, que 3 fatores pressionam a atividade econômica:
incerteza mais elevada (fiscal);
perspectiva de maior aperto monetário;
surpresas negativas com indicadores de alta frequência.
Defensor do ajuste fiscal, Roberto Campos Neto também jantava com um grupo de deputados quando a Câmara aprovou a revisão do teto de gastos proposta pela PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios.
Na ocasião, ele disse que tinha uma ideia diferente para o teto, mas afirmou que a definição de como o governo pagará um Auxílio Brasil de R$ 400 em 2022 poderia reduzir as incertezas do mercado.
O presidente do BC pediu apoio às reformas econômicas no Congresso. “Para melhorar as contas fiscais, devemos continuar no caminho das reformas”, diz a apresentação desta 3ª (23.nov).
O material também reforça o comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária), que elevou a Selic de 6,25% para 7,75% em outubro e deve elevar a taxa básica de juros em mais 1,5 ponto percentual em dezembro. O Copom tem elevado os juros para tentar conter a inflação.
Apesar dessas perspectivas negativas, o presidente do BC também apresentou 3 fatores que podem contribuir positivamente com o PIB de 2022. São eles:
prognósticos favoráveis para agropecuária e extrativa;
setores que ainda estão deprimidos e que devem continuar se beneficiando da abertura (como Governo e Outros serviços);
expectativa de que processo de normalização na oferta de insumos, mesmo que mais tardio, contribua favoravelmente para a atividade em 2022.
Os congressistas que participaram do jantar também defenderam a construção de um ambiente que dê mais segurança e credibilidade aos investidores. “Falamos da necessidade de investimentos e de previsibilidade. O Brasil não vai crescer com recursos públicos e o recurso privado está lastreado em credibilidade e em crescimento do país”, afirmou o deputado Marco Bertaiolli.