Banco Central eleva juros em 1 ponto e Selic vai a 12,75%, a maior taxa em cinco anos
Aumento corresponde ao esperado e indica que, se inflação continuar subindo, Copom reagirá
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu por unanimidade nesta quarta, 4, aumentar a taxa de básica de juros da economia brasileira em um ponto percentual, para 12,75% ao ano. A taxa Selic, usada pelo governo para remunerar seus títulos, atingiu o maior patamar desde janeiro de 2017, quando estava em 13%. O acréscimo representa a continuidade em relação aos últimos meses: a inflação continua aumentando, o que exige uma ação mais firme do BC para contê-la. Em abril, por exemplo, a prévia foi de aumento de 1,73% na inflação no mês, o maior para o mês em 27 anos, em um aumento puxado principalmente pelos preços dos combustíveis. Este foi o 10º aumento consecutivo na taxa de juros: após atingir a mínima histórica de 2%, subiu para 2,75% em março de 2021, iniciando o ciclo de altas que ainda não dá mostras de ter acabado. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 14 e 15 de junho, e o órgão prevê que ocorra um aumento menor na taxa.
Na análise, o Copom citou como razões o ambiente externo prosseguir em deterioração, com o prosseguimento da guerra na Ucrânia e os lockdowns na China por causa da Covid-19, o que gerou um enfraquecimento de moedas de países emergentes, como o real; a inflação, que “segue surpreendendo negativamente”, com as medidas apontando que estão acima do intervalo esperado para cumprir a meta deste ano. O BC considera que há riscos de altas ainda maiores na inflação, caso a pressão externa continue e por causa da incerteza quanto ao cenário fiscal do país; por outro lado, há possibilidade de baixa, caso haja redução nos preços das commodities e a atividade econômica ter uma desaleceração maior do que a esperada.
“O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego. O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o Copom na nota.
No momento, o mercado espera que a Selic feche o ano em 13,25%, de acordo com o último boletim Focus, a pesquisa semanal do Banco Central com mais de uma centena de instituições financeiras, que foi divulgada na última segunda, 2. Para 2023, a projeção subiu na última divulgação: de 9%, agora espera-se que os juros básicos fechem o próximo ano em 9,25%. A previsão para a inflação também aumentou: em 2022, no boletim anterior, esperava-se que fosse de 7,65%; agora, a expectativa é de 7,89%; para o ano que vem, foi reajustada de 4% para 4,1%, ambas acima do centro da meta do BC (3,5% em 2022 e 3,25% em 2023, mas ainda ficaria abaixo do teto da meta de 4,75% no caso deste último). Caso se concretize, será o segundo ano seguido que o teto imposto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é estourado. Em 2021, o IPCA encerrou em 10,06%, quase o dobro do limite de 5,25%.