Análise: queda da Selic marca divisão na diretoria do BC e Campos Neto faz gesto ao governo
Apesar do aceno do presidente do BC, Lula e a equipe econômica continuarão a pressionar a autoridade monetária por cortes consistentes de juros
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta terça-feira, 2, com a redução da Selic em 0,5 ponto percentual, inaugurou uma nova era no Banco Central (BC). Após um longo período em que as decisões do colegiado eram unânimes no sentido de manter os juros em 13,75% ao ano, e sob forte pressão desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula da autoridade monetária rachou. Por cinco votos a quatro, e com o voto favorável do presidente do BC, Roberto Campos Neto — o que indica um aceno à política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad —, o BC reduziu os juros para 13,25% ao ano.
Campos Neto fez um gesto importante ao governo ao votar de maneira contrária aos três diretores indicados por ele, que não são servidores de carreira e que se manifestaram por um corte de 0,25 ponto percentual.
A postura adotada pelo presidente do BC, de acompanhar os dois indicados pela gestão petista, é importante em Brasília porque Lula e os seus assessores próximos entendem que a política é feita por meio de discursos, acenos e medidas concretas.
A decisão do Copom foi comemorada no Planalto e na Fazenda. Com isso, a expectativa do governo é que esse nível de cortes, de pelo menos 0,5 ponto percentual, seja mantido nas próximas reuniões, o que poderia levar a taxa para 11,75% ao ano em dezembro. Os analistas de mercado consultados pelo Boletim Focus apostam que a Selic terminará o ano em 12%.
Lula manterá pressão, mesmo com gesto de Campos Neto
Apesar do aceno de Campos Neto, o presidente Lula e a equipe econômica continuarão a pressionar o BC por quedas de juros, informaram à EXAME técnicos do governo. Uma ala governista e mais eufórica defende internamente que há espaço para cortes de 0,75 ponto percentual. Essa corrente não é majoritária.
A avaliação interna entre os assessores de Lula é de que o governo fez o dever de casa: o Ministério da Fazenda demonstra cuidado com as contas públicas, a ala política está construindo uma base no Congresso com o embarque do Centrão à gestão petista e a queda de juros é importante para acelerar a atividade econômica, o que fará a arrecadação de tributos crescer. Na prática, isso dará sustentação ao arcabouço fiscal e ao equilíbrio das contas públicas.
O aceno foi feito. Mas a velocidade e a consistência dos próximos cortes da Selic virão da segurança por meio de um arcabouço fiscal que se sustente, reformas estruturantes e o controle da inflação. Com isso, o governo poderá comemorar com mais tranquilidade.