Morre Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo

Músico brasileiro é considerado um dos mais talentosos pianistas do século 20. Suas interpretações de Beethoven, Brahms e Chopin lhe renderam premiações e aplausos nos palcos mundo afora.

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O pianista brasileiro Nelson Freire, um dos grandes nomes da música erudita mundial, morreu na madrugada desta segunda-feira (01/11) aos 77 anos. Segundo confirmou a empresária do músico, Freire estava em sua residência, na Joatinga, no Rio de Janeiro. A causa da morte não foi divulgada.

Nascido na cidade mineira de Boa Esperança em 18 de outubro de 1944, Freire era considerado um dos maiores pianistas do século 20 e conquistou diversos prêmios importantes ao longo da carreira – que começou cedo. Ele começou a dedilhar no piano aos três anos de idade, tentando imitar sua irmã mais velha, Nelma.

Dois anos depois, aos cinco anos de idade, ele fez seu primeiro recital, no teatro municipal de São João Del Rei. Dado talento evidente, a família decidiu se mudar para o Rio, onde o jovem prodígio recebeu aulas das renomadas pianistas Nise Obino e Lúcia Branco.

Em 1957, aos 12 anos, Freire ficou em nono lugar no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, quando tocou uma interpretação do primeiro movimento do “Concerto Imperador” de Ludwig van Beethoven. Ela era o mais jovem dos 47 candidatos e se tornou uma sensação – tanto, que recebeu uma bolsa de estudos do governo Juscelino Kubitschek para estudar em Viena.

A partir daí, sua carreira decolou na Europa. Aos 15 anos, Freire já dava seus primeiros concertos. Em 1964, aos 19 anos, ele conquistou o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa. Cinco anos depois, apresentou-se com a Orquestra Filarmônica de Nova York – uma apresentação que lhe rendeu da revista Time a descrição de “um dos maiores pianistas desta ou de qualquer geração”.

Tema de documentário e “Oscar” da música clássica

Consagrado pela crítica europeia, o pianista brasileiro subiu aos palcos de quase 70 países e tocou com as melhores orquestras do mundo. Freire se tornou um dos grandes intérpretes de Beethoven e também de Frédéric Chopin, e trabalhou em grandes cidades europeias e americanas, junto dos maiores regentes do século passado.

Entre os tantos outros prêmios que recebeu, destaque para o Classic FM Gramophone Awards 2007, considerado o “Oscar” da música clássica, e mais recentemente o International Classical Music Award, em 2019, quando foi homenageado por toda a sua carreira.

Curiosamente, Freire se recusou durante décadas a fazer gravações. Ele dizia que a música só acontecia ao vivo, diante do público. Mas acabou por gravar alguns álbuns, especialmente com intepretações de Chopin, Beethoven, Robert Schumann, Heitor Villa-Lobos e Johannes Brahms.

Em 2003, o cineasta João Moreira Salles produziu um documentário sobre ele, com a participação da pianista argentina Martha Argerich, com quem Freire tinha uma longa amizade e fez diversas turnês mundo afora. Nelson Freire venceu o prêmio de melhor documentário do Grande Cinema Brasil daquele ano. O filme mostra o cotidiano do pianista, mas também aborda a infância e as dificuldades enfrentadas pela família.

Em 18 de outubro de 2019, quando completou 75 anos de vida e 70 de carreira, Freire lançou o que viria a ser seu último disco, Encores. Um mês depois, ele sofreu uma queda ao tropeçar numa calçada na Barra da Tijuca e fraturou o úmero do braço direito. Era para ter voltado aos palcos no ano seguinte, o que não ocorreu devido à pandemia.

“Era o pianista em melhor forma no mundo”

A notícia de sua morte comoveu o mundo da arte no Brasil. Vários artistas, críticos de música e personalidades expressaram suas condolências. O professor e pianista João Carlos Martins, outro ícone brasileiro da música erudita, lamentou a perda do amigo em declaração ao Estadão.

“Considero lamentável que o Brasil tenha perdido um artista desse quilate, que eu considerava o melhor, musical e tecnicamente falando. Ele vai ser lembrado pela arte dele”, disse Martins. “O que eu posso dizer é que Nelson Freire era o pianista em melhor forma do mundo inteiro. E vai fazer muita falta.”

O diretor da Sala Cecília Meireles, João Guilherme Ripper, também não poupou elogios a Freire em entrevista ao jornal O Globo.

“Perdemos nosso grande pianista, um artista generoso e genial! Jamais esquecerei um recital no Teatro Châtelet em Paris, em que Nelson tocou um programa dedicado a Chopin”, disse. “Ovacionado, retornou nove vezes ao palco para tocar de bis toda ‘A prole do bebê’, de Villa-Lobos. Com Nelson, desaparece mais um pedaço daquele Brasil que encantou o mundo.”

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