Garimpo faz a qualidade da água ir de boa para muito ruim no Pará
Texto: Agência BORI
A qualidade da água em algumas regiões da bacia do rio Itacaiúnas, afluente do Rio Tocantins, variou de boa para muito ruim em apenas cinco anos devido ao aumento do garimpo na Província Mineral de Carajás, no Pará. A constatação é de estudo feito por pesquisadores do Instituto Tecnológico do Vale (ITV), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal da Amazônia (UFAM) e Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) em parceria com cientistas da Universidade Central de Punjab, na Índia, e publicado na terça (25) na revista “Environmental Pollution”.
A pesquisa analisou e comparou os componentes físico-químicos e biológicos das águas em 42 pontos de coleta na bacia do rio Itacaiúnas entre os anos de 2017 e 2022. Na comparação, foram registradas concentrações de elementos potencialmente tóxicos acima dos limites regulatórios para uso de água doce delimitados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e para consumo humano, de acordo com diretrizes do Ministério da Saúde. Entre os elementos químicos registrados acima dos limites aceitáveis estão manganês, alumínio, bário, chumbo, ferro, cobre, cobalto, cromo, níquel, vanádio e zinco.
De acordo com a pesquisa, a principal causa para esse impacto na qualidade da água é o crescimento do garimpo na região. Com o auxílio de imagens de satélite, os pesquisadores constataram entre 2017 e 2021 o crescimento de 1500 hectares (2883%) de cicatrizes deixadas pelo garimpo, área equivalente a 2100 campos de futebol. “Observamos um elevado crescimento de garimpos de ouro, ao longo do curso dos rios, e de manganês na Serra do Sereno”, afirma Gabriel Salomão, pesquisador adjunto no grupo de Geologia Ambiental e Recursos Hídricos do ITV e autor principal do estudo.
Além disso, o estudo identificou que a piora na qualidade da água é mais intensa no período chuvoso. Segundo explica Salomão, quase metade do uso e cobertura da terra da bacia do rio Itacaiúnas é usada para pasto, o que diminui a capacidade da terra de absorver a água da chuva e faz com que uma concentração maior de sedimentos – e elementos potencialmente tóxicos – sejam carregados para os corpos hídricos.
A principal preocupação decorrente da poluição dos garimpos está na possibilidade de uso e consumo das águas pelas comunidades do entorno. “As águas dos rios são usadas de diversas formas pelas comunidades locais, inclusive para consumo humano, o que pode levar à intoxicação por metais pesados. Filtros comuns, por exemplo, não dão conta das concentrações altíssimas de manganês e não há uma estação de tratamento adequada para esse tipo de poluente”, alerta Salomão. Segundo ele, as plumas de sedimentos geradas pelas atividades garimpeiras viajam a longas distâncias, alcançando a cidade de Marabá, no sudeste do Pará.
Nos próximos anos, a equipe de pesquisa pretende aumentar os pontos de coleta de águas para 70 e continuar a monitorar a atividade garimpeira. “A tendência, hoje, é que o garimpo continue a crescer pela bacia, assim como o desmatamento para diferentes usos da terra. Continuar o monitoramento é importante para pensar em soluções de combate ao garimpo e mineração ilegal”, diz Salomão.
DOI: https://doi.org/10.1016/j.envpol.2023.121595