Voluntários viajam em ação humanitária até a terra indígena Wajãpi, no Amapá
No total, 36 voluntários se inscreveram para colaborar em campo com sete integrantes da ONG Doutores da Amazônia, convidada pelo governo do Amapá.
O Fantástico viajou até a terra indígena Wajãpi, no Amapá, em uma ação humanitária para ajudar o povo indígena. A pressa da missão de duas semanas é por décadas de atraso no atendimento.
Túlio Loyola é um dos 36 voluntários que se inscreveram para colaborar em campo com sete integrantes da ONG Doutores da Amazônia, convidada pelo governo do Amapá. O oftalmologista leva na bagagem atendimentos a ribeirinhos e a outra população indígena.
“Tem que ter muito cuidado na hora de fazer essa troca. A gente tem que saber respeitar e entender os limites da nossa medicina ao ponto que, se a gente leva medicina, leva também a nossa cultura”, diz o oftalmologista.
Os voluntários deixaram sete estados e viajaram para a terra indígena Wajãpi, a bordo do maior avião do Sul do Mundo, segundo a FAB.
Mais de mil Wajãpi também fizeram as malas e alguns caminharam por 12 dias para receber atendimento.
Os atendimentos
A missão envolveu diferentes profissionais de saúde, incluindo psicólogos.
“A saúde mental, quando pensada nesse contexto, ela precisa se abrir para outros mundos possíveis, porque não é só o coletivo de pessoas, de humanos. A gente se depara para um coletivo de não-humanos, de uma conexão com a natureza, uma conexão com os animais e com a espiritualidade muito forte”, explica a psicóloga voluntária Milena Nunes.
A psicologia também precisa de tempo e a missão é frenética. Os tradutores tentam ajudar, mas às vezes atrapalham – sobretudo na ginecologia.
“Dá pra perceber que ela não se abre totalmente pra poder falar das coisas, das queixas da parte de sexualidade. Ela não vai falar porque tem o marido ali presente ou a intérprete que às vezes não é da mesma família”, diz a ginecologista Mariana Barroso.
A antropóloga Juliana Rosalen, que trabalha há 25 anos com os Wajãpi, expressou a importância de equilibrar a medicina da cidade com os conhecimentos tradicionais indígenas.
“Por um lado, eu acho uma ação potente porque traz especialistas aqui para a terra indígena. Isso é importante porque eles não conseguem acessar esses especialistas em Macapá muitas vezes, né? (…) Agora, eu acho que tem é, a gente teria que refinar algumas coisas, né? (…) Algumas maneiras de atuar (…) com mais cuidado, com mais sensibilidade”, ressalta a antropóloga do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé).
‘O desafio é o depois’, diz governador do Amapá
O governador do Amapá, Clécio Luís, mencionou a falta de conexão entre as instituições que atuam no atendimento indígena e destacou o desafio de conectar o que foi realizado durante a missão com o tempo posterior.
“A Funai faz a política indigenista no geral. O DSEI, que é o distrito sanitário ao qual nós pertencemos, faz a política focada na saúde, dentro das áreas indígenas. Mas falta a complementariedade”, diz.
“Mas o desafio é ‘e o depois, como é que a gente vai conectar o que aconteceu aqui nesses 10 dias com o resto do tempo?”, complementa.
Weibe Tapeba, Secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, reconheceu as deficiências no provimento de pessoal e afirmou que estão buscando soluções para ampliar a capacidade de assistência.
A reportagem do Fantástico viajou até a terra indígena Wajãpi em um avião da Força Aérea Brasileira. A TV Globo vai doar o valor equivalente ao custo da viagem para uma instituição com trabalhos sociais.