Mandetta reconhece divergência com Bolsonaro e admite sair; saiba o que disse o ministro
Ministro da Saúde e secretários que comandam enfrentamento ao coronavírus deram entrevista nesta quarta; Mandetta diz reconhecer que há 'visões diferentes' entre ele e o presidente.
Confira abaixo as principais declarações do ministro Luiz Henrique Mandetta na entrevista coletiva que concedeu nesta quarta-feira (15).
Na entrevista, Mandetta disse reconhecer que há insatisfações claras do governo com as posições do ministério e que pessoas cotadas para assumir o cargo chegaram a ligar para ele pedindo aconselhamento.
Segundo o ministro, os integrantes da equipe montada por ele vão “trabalhar juntos” até o momento de “sair juntos”.
Pedido de demissão de Wanderson Oliveira
“Hoje, teve muito ruído por conta do Wanderson [Oliveira]. Já falei que não aceito, Wanderson continua, está aqui, acabou esse assunto. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde (…) O Wanderson mandou um papel lá, do jeito que chegou, voltou pra trás. Entramos juntos e sairemos juntos.”
Saída do ministério
“Eu vejo o seguinte, eu deixo muito claro aqui pra vocês. Eu deixo o Ministério da Saúde em três situações: uma, quando o presidente não quiser mais o meu trabalho. Segundo, se eventualmente, imagine que eu pegue uma gripe dessa e tenha que ser afastado por forças alheias. Terceiro, quando eu sentir que o trabalho feito já não é mais necessário, porque de alguma maneira passamos por esse estresse.”
“Claramente há um descompasso entre o Ministério da Saúde [e o Planalto]. E isso daí, a gente colocou, deixa muito claro que a gente vai trabalhar até 100% do limite das nossas possibilidades. Nada muda. Enquanto eu estiver no Ministério da Saúde, podem ter certeza que o povo está trabalhando.”
Sucessor
“O importante é que, seja lá quem o presidente colocar no Ministério da Saúde, que ele confie e que ele dê as condições para que a pessoa possa trabalhar baseada na ciência, nos números, na transparência dos casos. Para que a sociedade possa, junto com seus governadores e seus prefeitos, tomar suas melhores decisões.”
“Aí, alguns nomes que vão sendo ‘assuntados’ ligam para mim, para saber o que eu acho. Eu falo: ‘Venha, vamos trabalhar. Vem aí. Pô, vamos ajudar, gente, vamos remar’. A gente tem um SUS na nossa frente, a gente tem DNA, a saúde brasileira é grande, meu amigo.”
“Eu não estou ministro por obra de nada diferente, que do presidente. Ele claramente externa que quer outro tipo de posição por parte do Ministério da Saúde. Eu, baseado no que nós recebemos, baseado em ciência, eu tenho esse caminho para oferecer. Fora desse caminho, tem que achar alternativas. E tem muitas alternativas, gente muito boa, gente muito experiente.”
Colaboração de outros ministros
“Se agora queremos acelerar… A economia é um problemaço. Um problemaço que vai consumir muito do esforço do ministro Paulo Guedes, que está fazendo um trabalho brilhante. Não posso [reclamar] nenhuma vírgula. O ministro Paulo Guedes mandou todos os recursos que a Saúde pediu, 100%, não teve nada, um milímetro. O ministro Moro me deu todas as condições, e eu estou dando a ele, porque a segurança nessa epidemia é fundamental.”
Disputas no governo
“Primeiro que isso é uma coisa pública, não tem ninguém… Isso é uma coisa que acontece. Existe claramente uma posição. Não é o presidente, existem outras pessoas. Eu tenho ex-secretários de Saúde que verbalizam diariamente que acham que o caminho é outro. O deputado Osmar Terra, todo dia ele fala.”
“Existem pessoas que acreditam, criam essas teorias de negócio vertical, oblíquo, horizontal. Não sei de onde vêm essas angulações, mas acreditam fielmente. Ninguém é dono da verdade, eu não sou, Wanderson não é, Gabbardo não é. Nós temos um conjunto de informações que nos levam a ter essa conduta de cautela.”
“Parece que eu sou contra o presidente, o presidente é contra mim. Não. São visões diferentes do mesmo problema. Se tivesse uma visão única, seria muito fácil solucionar. Não é um problema maniqueísta, não é branco ou preto. Existe o cinza, existem várias gradações.”
Ações contra o coronavírus
“O que eu coloco é: até aqui, coloco pra minha equipe: nós fizemos um trabalho muito elogiado. Por Banco Mundial, Organização Mundial de Saúde. Os números que nós conseguimos domar, nós achamos que está bem. Achamos que precisa melhorar muito o abastecimento, equipamentos de proteção individual pros meus médicos, meus enfermeiros. Eles estão na linha de frente, em respeito a eles a gente deve aguardar.”
“Acho que a gente precisa de mais ventiladores. Acho que a gente tem que capacitar mais essa mão de obra para ela adoecer menos quando for atender, e acho que a gente tem total condição de fazer isso. Acho que já demos demonstração de que estamos no caminho certo. Não tem uma ação, se entrar hoje uma pessoa no Ministério da Saúde, tá tranquilo para trabalhar.”