Capitais registram manifestações contra e pró-governo sem confronto
Dia havia sido de protestos pacíficos pelo Brasil, mas final de ato em São Paulo teve confronto entre policiais e manifestantes nas ruas de Pinheiros
Manifestações contrárias e favoráveis ao governo Jair Bolsonaro e em defesa de vidas negras tomaram as ruas do país de forma pacífica até o final da tarde deste domingo (7). Houve protestos sem confrontos em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em Belém, ainda que não tenha havido confronto, dezenas de manifestantes foram detidos por sob a justificativa de provocar aglomeração – e houve protesto na porta da delegacia.
Em Brasília, um dos atos ocorreu na Esplanada dos Ministérios, com pautas como o combate ao racismo e também com críticas ao governo. Eles começaram por volta das 9h em frente ao Museu Nacional, com manifestantres a pé com faixas e cartazes, de forma pacífica.
Apoiadores do presidente se concentraram em outro ponto da Esplanada. O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, apareceu em frente ao Palácio do Planalto e cumprimentou policiais militares.
Um pequeno grupo de apoiadores do presidente foi ao portão do Palácio da Alvorada. Por volta do meio-dia, Bolsonaro apareceu lá e conversou com eles. Em seguida, retornou à residência oficial.
A Polícia Militar evitou que grupos contrários se encontrassem. O presidente chegou a pedir, durante uma transmissão ao vivo na quinta-feira (5), que seus apoiadores não fossem às ruas hoje devido aos protestos organizados por opositores.
Diversos partidos políticos da oposição ao governo também pediram que não houvesse manifestações pelo grande risco de disseminação do coronavírus. Não havia registro de incidentes nos atos na capital federal até o final desta tarde.
Na capital paulista, grupos contrários ao governo se reuniram no largo da Batata, em Pinheiros, na zona oeste da cidade, após uma determinação judicial que proibiu que manifestações opostas fossem realizadas no mesmo local e na mesma data. Apoiadores de Bolsonaro fizeram um ato na avenida Paulista.
O ato da oposição fechou um trecho da avenida Brigadeiro Faria Lima no sentido Avenida Rebouças, próximo ao metrô. Manifestantes ocuparam parte da Praça que vai até o quarteirão da Igreja Paróquia Nossa Senhora de Monte Serrante.
A grande maioria dos manifestantes estava de máscara, mas ninguém respeitou o distanciamento de dois metros. Um carro de som foi compartilhado entre os líderes do ato – torcedores, líderes estudantis da UNE e ativistas do Conlutas (ligado ao Psol).
Por volta das 16h, o grupo se dividiu e parte dos manifestantes seguiu pela Rua dos Pinheiros. Durante a caminhada, houve um princípio de tumulto e um pequeno grupo depredou uma agência bancária. A confusão foi contida pelos próprios organizadores do ato e o grupo seguiu caminhando de forma pacífica.
Por volta de 18h, a PM fazia uma barreira de contensão na Rua dos Pinheiros, na altura da Rua Mateus Grou, próximo à estação de Metrô Fradique Coutinho, para impedir que os manifestantes seguissem para a Avenida Paulista, onde os apoiadores do governo Bolsonaro estavam. Por volta das 19h, no entanto, houve confronto nas ruas de Pinheiros.
O grupo a favor de Bolsonaro se reuniu na esquina da Avenida Paulista com a Rua Pamplona, próximo ao prédio da Fiesp. Manifestantes carregavam faixas que pediam “intervenção militar” e com críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Com bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo, os manifestantes ficaram a maior parte do tempo sobre a calçada, na esquina, sem número suficiente para ocupar as faixas de trânsito. O grupo se dispersou por volta das 18h.
Além de pedir “intervenção militar com militar no poder”, alguns manifestantes favoráveis ao presidente defendiam interesses de suas categorias profissionais. Duas pessoas carregavam uma faixa que pedia a reabertura de barbearias na cidade. Não houve registro de ocorrências policiais.
No Rio, uma multidão vestida de preto e usando máscaras de proteção contra tomou nesta tarde uma das pistas da Avenida Presidente Vargas, no centro, para protestar contra o racismo e a violência policial nas favelas da cidade. “Eu tô de preto, de favelado, que todo dia na favela é assassinado”, era um dos principais gritos de guerra durante o trajeto aberto pela faixa “As mães negras não aguentam mais chorar”.
O ato homenageou menores mortos nas favelas por policiais, como Ágatha Félix, no ano passado; João Pedro, morto este ano; Marcos Vinícius, em 2018; e Maria Eduarda, em 2019, além de lembrar o assassinato até hoje sem esclarecimento da vereadora Marielle Franco, há dois anos. Por volta das 16h, todos deitaram no chão simulando corpos mortos por policiais e gritaram a frase que ficou marcada nos protestos de todo mundo, “Vidas negras importam”. Quem ficou em casa, se manifestou pela janela. O ato terminou com os manifestantes sendo acompanhados durante toda a dispersão até a entrada do metrô.
Os apoiadores do presidente se concentraram de manhã no posto 5, na praia de Copacabana, na zona sul da cidade, e fizeram uma caminhada pela orla. Uma das faixas anunciava a Marcha da Família Pró Bolsonaro com Deus, que defendia também “intervenção popular com o Executivo”. As cores predominantes eram o verde e amarelo das camisetas dos manifestantes e de bandeiras do Brasil.
Em Belo Horizonte, os protestos contra o governo Bolsonaro ganharam apoio de torcidas organizadas. De manhã, um grupo de médicos ocupou na praça da Estação, no centro da cidade, portando cruzes para simbolizar a morte profissionais de saúde mortos na pandemia. O grupo usava máscara e manteve o distanciamento social. Em Porto Alegre, o protesto começou na Esquina Democrática, reunindo torcidas organizadas e movimentos sociais e seguiu até o largo Zumbi dos Palmares.
Na capital paraense, 96 adultos foram detidos e 16 adolescentes apreendidos logo após o início do ato, marcado para as 9h no Mercado de São Brás. De acordo com Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social, parte deles portava material proibido e parte foi detida por desrespeitar a regra de distanciamento social.
Segundo a secretaria, o aparato policial registrado em diversos vídeos compartilhados nas redes sociais atuou em cumprimento ao Decreto Estadual n° 800, que proíbe a aglomeração de grupos com mais de dez pessoas. A medida foi adotada no fim de maio, como forma de evitar a propagação da covid-19.
Ainda de acordo com a pasta, algumas pessoas abordadas portavam materiais explosivos, máscaras, rojões, spray para pichação, escudos, produtos inflamáveis, além de faca, trouxinhas (pacotes) com pólvora, balaclava (touca ninja) e máscaras que escondiam os rostos, impedindo que fossem identificadas.
Os detidos foram conduzidos à delegacia para prestar depoimento e liberados em seguida. Houve protesto também na porta da delegacia. Não houve registros de outros incidentes durante a manifestação.