Agricultura regenerativa é chave para a produção de alimentos
Com o apoio da tecnologia, método de produção viabiliza que agricultores produzam de forma sustentável, contribuindo diretamente para a redução do desmatamento
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra brasileira de grãos, cereais e leguminosas deve atingir 264,5 milhões de toneladas em 2021. É um recorde e supera em 4,1% a colheita de 2020, que já havia sido a maior da história. Os números do agronegócio brasileiro são mesmo extraordinários, mas impõem um desafio paralelo, ao país e ao mundo.
Como aumentar a produção de alimentos sem utilizar mais recursos naturais, promovendo a sustentabilidade do negócio e do meio ambiente? Até 2050, estima-se que teremos a companhia de mais 1 bilhão de pessoas no mundo – como será possível alimentar a todos garantindo um planeta saudável para as gerações futuras, quando já estamos encarando desafios sem precedentes, como a mudança climática, a perda de biodiversidade e o uso intenso de recursos naturais críticos?
Dia Internacional da Biodiversidade
Às vésperas do Dia Internacional da Biodiversidade, criado pela ONU e celebrado em 22 de maio para conscientizar a população em relação à importância e à proteção da diversidade biológica em todos os ecossistemas do planeta, a resposta a essas urgentes questões passa pela agricultura regenerativa, conceito que reúne práticas focadas em resultados, como aumento da produtividade, captura de carbono no solo, incremento da biodiversidade, diminuição da irrigação – principalmente onde recursos hídricos são mais escassos – entre outros
A boa notícia é que a agricultura regenerativa pode fazer tudo isso no curto prazo, permitindo que haja retorno sobre o investimento, evitando mais degradação do solo e protegendo o meio ambiente. “Saber equilibrar a expansão da agricultura com sustentabilidade e produtividade é o desafio para o Brasil”, diz Juan Pablo Llobet, diretor regional da Syngenta Produção de Cultivos para a América Latina e Brasil, durante um dos painéis do SuperAgro. “Para os agricultores brasileiros, o conceito de sustentabilidade é importante porque começa a virar uma exigência, que no futuro será ainda maior nos mercados consumidores internacionais e domésticos.”
Como fazer acontecer
Uma das técnicas que exemplificam a prática da agricultura regenerativa é a adoção do sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que viabiliza a redução de custos, o ganho duplo de produtividade e de sustentabilidade e propicia o aumento da produção sem aumentar a área da fazenda.
Conforme o próprio nome indica, o ILPF integra diferentes sistemas de produção – agricultura, pecuária e cultivo florestal – dentro de uma mesma área. Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta uma série de benefícios ao sistema, entre os quais o aumento da produção de grãos, fibras, carne, leite e produtos madeireiros e não madeireiros; a redução da sazonalidade do uso da mão de obra, com geração de empregos diretos e indiretos; a melhoria do bem-estar animal graças ao conforto térmico; a manutenção da biodiversidade e a sustentabilidade da agropecuária e, de quebra, a redução da pressão por área desmatada para pasto ou plantação.
1 milhão de hectares recuperados
Outro pilar da agricultura regenerativa é a recuperação de áreas degradadas. Em 2018, havia no Brasil um total de 99 milhões de hectares de pastagem com algum grau de degradação. “Começamos a pensar nas condições necessárias para que as áreas sejam regeneradas e descobrimos que há carência de tecnologias e práticas, além de crédito de longo prazo para os agricultores. Ainda assim, encontramos um caminho viável, onde podemos ter ações concretas”, conta Juan Pablo Llobet, da Syngenta.
O executivo se refere ao Projeto Reverte, uma iniciativa da companhia que quer mostrar ao produtor que recuperar a terra é mais vantajoso economicamente do que desmatar para abrir novas áreas de cultivo. O Reverte tem a ambição de recuperar, em cinco anos, 1 milhão de hectares no cerrado, onde há cerca de 18 milhões de hectares em algum estágio de degradação.
Lançado em 2020 por meio de uma parceria com a The Nature Conservancy (TNC), maior organização de conservação ambiental do mundo, o projeto vai ajudar agricultores a trazer solos degradados de volta ao cultivo por meio de práticas agronômicas.
Essas práticas, em conjunto com acesso a financiamento de longo prazo, uso de sementes, agroquímicos modernos e produtos biológicos, além de tecnologias de aplicação, aumentarão a produtividade de forma sustentável, dentro dos espaços já disponíveis.
Tecnologia no campo
Foi a adoção de novas tecnologias, aliás, que permitiu ao Brasil tornar-se um dos maiores produtores de alimentos e grãos do mundo, crescendo 326% em 40 anos, enquanto a área cultivável aumentou 54%. Hoje em dia, tanto agricultores familiares quanto grandes produtores podem utilizar soluções digitais do pré-plantio à colheita, somando-as às boas práticas agrícolas e de sustentabilidade.
“Por meio da inteligência artificial, na qual temos avanço significativo, já geramos uma quantidade importante de dados”, diz Juan Pablo Llobet, da Syngenta, que auxilia mais de 2.000 produtores brasileiros, de todos os portes, a trabalhar com base em dados, para melhorar a gestão de suas lavouras e, assim, atuarem em prol da sustentabilidade da agricultura brasileira.
São dados como a profundidade de plantio, além da quantidade e a diversidade de sementes, que permitem ter uma lavoura uniforme, por exemplo. E enquanto a lavoura cresce, softwares de monitoramento ajudam o produtor no dia a dia, indicando o momento, o local específico e a dose certa de defensivos agrícolas a ser aplicados, equilibrando gastos com insumos e viabilizando o uso correto e sustentável.
Pouco antes da colheita, o produtor pode estimar a produtividade e verificar a qualidade dos grãos, com um controle maior de sua propriedade e com informações organizadas para tomar decisões rapidamente. “Todas as tecnologias para manter o solo saudável, com carbono e com água dentro dele, vão contribuir para a sustentabilidade”, acrescenta Llobet.
Sistema inteligente de plantio
Outro importante pilar da agricultura regenerativa é o Sistema de Plantio Direto (SPD), baseado em três técnicas principais: 1. mínimo revolvimento do solo, mantendo as palhas e plantas das culturas anteriores de modo que formem uma cobertura orgânica; 2. qualquer manejo ou manutenção do solo pode ser realizado com ele coberto durante todo o ano; 3. a rotação ou consorciação de culturas, técnica que consiste em variar as espécies plantadas a cada ciclo de plantio para evitar a exaustão do solo. “O Brasil é exemplo para o mundo em SPD”, diz Juan Pablo Llobet.
Entre os principais benefícios do SPD estão a redução da erosão do solo – pois a cobertura orgânica reduz o impacto das chuvas sobre a terra e permite melhores condições de germinação das culturas, já que mantém a temperatura e diminui a perda d’água por evaporação – e, no longo prazo, o aumento da matéria orgânica, assim como a melhora da qualidade biológica do solo ano a ano, gerando, assim, uma maior estabilidade na produção. “Tudo que permita eficiência com impacto menor no meio ambiente vai virar tendência”, complementa Juan Pablo Llobet, da Syngenta. Quanto mais cedo essa eficiência der resultados, melhor.