José Loreto celebra maturidade: ‘Na minha vida até os erros acontecem na hora certa’
José Loreto se orgulha das escolhas que fez profissionalmente para chegar no ponto atual de sua carreira de quase duas décadas. Após brilhar como o matuto Tadeu, de Pantanal (2022), novela das nove da TV Globo, o ator mostrou sua versatilidade e tempo de humor como Lui Lorenzo, de Vai na Fé (2023), trama das sete, e agora está no ar como o vilão Marcelo Gouveia, de No Rancho Fundo, das seis.
“Às vezes os ‘nãos’ são mais importantes que os ‘sins'”, reflete o ator quando questionado sobre o rumo de sua carreira.
Em conversa com Quem antes de gravar mais cenas, o niteroiense relembra os desafios que enfrentou logo após sua estreia em Malhação, em 2005. Sem contrato e com apenas trabalhos temporários, Loreto insistiu em viver da arte, mesmo quando os pais, o médico José Loreto Prestes e a professora Mariza Freixo, sugeriam que ele procurasse outra profissão.
“No meu primeiro trabalho, em 2005, fiz dois anos de Malhação. Pensei: ‘Minha vida está feita agora. Saí de casa, vou trabalhar todo ano, ganhar dinheiro…’. Passei cinco anos sem contrato depois disso, fazendo só participações. Investi em grupo de teatro. Teve um bom tempo em que eu estava gastando mais do que o que estava entrando. Eu falava: ‘Meu Deus, essa conta não vai fechar. Tinha aquela pressão dos pais de ‘volta pra casa, procura outra profissão, um plano B’. Eu nunca tive dúvida, não. Queria viver de arte”, relembra ele, que estudou Economia a pedido dos pais.
Essa máxima de que os “nãos” têm chance de ser positivos pode ser estendida para a sua vida pessoal. Aos 40 anos, Loreto conta que amadureceu pela dor, entre elas o fim do seu casamento com a atriz Débora Nascimento, de 39 anos, com quem tem Bella, de seis anos.
“O fim de um relacionamento já é sempre doloroso e queriam que virasse um reality show. Tinha torcida para lá e para cá. Foi uma das piores dores que tive, mas busquei colher flores. Sempre vejo o lado bom das coisas. Amadureci muito enquanto homem, pai e tudo mais… Não sei como seria a minha vida hoje se eu não tivesse passado por esse trauma. Esse ciclo fechou muito doído, mas me abriu a melhor das portas, a maturidade pessoal e artística”, analisa.
Confira a entrevista completa a seguir.
Quem: Tadeu, Lui Lorenzo e Marcelo Gouveia são personagens totalmente distintos que você fez em um curto tempo, emendando um no outro. Como faz para se transformar em tão pouco tempo?
José Loreto: É questão de treino, como uma musculação. Estou fazendo três anos direto de personagens. Cada vez mais, consigo zerar de um para o outro e gastar menos tempo na preparação. Eu me forcei a estar mais rápido, igual a um atleta mesmo. O ator, neste lugar de construção de personagem e de ficar nove meses gravando uma novela, é como um atleta. Ainda mais em uma obra aberta. Ele vai ganhando outras camadas. A gente se apronta ali no início, mas segue aberto para ir para um lado ou para o outro.
Para chegar a este lugar de ser convidado para tantas produções de sucesso e por diferentes diretores, você teve que tomar decisões que, muitas vezes, pareciam ousadas demais? Como dizer não a ofertas de trabalho que poderiam levar sua carreira para outro rumo?
Às vezes, os “nãos’ são mais importantes que os “sins”. Na época de Pantanal, quando não consegui fazer o filme do Sidney Magal como ator, e fiquei apenas como produtor, foi muito difícil. Era um sonho fazer esse protagonista biográfico e estava me preparando há muito tempo para isso. Mas, ao mesmo tempo, meu instinto dizia que Pantanal ia ser muito importante pelo autor, pela direção, pelo estilo da obra… Então, acho que tem “nãos” decisivos para levar a sua carreira para um canto ou para o outro.
Quando terminou Vai na Fé, que foi a segunda novela que fiz direto, estava bem decidido a dar um tempo de novela, mas veio No Rancho Fundo. Era uma história tão diferente e um personagem tão legal que entendi que mais importante que descansar era mostrar outra faceta, me apresentar para um público de outro horário… E está sendo superpositivo, estou me sentindo muito bem, não estou cansado. Parece que estou começando uma novela agora. Estou correndo uma maratona gigante, mas continuo com disposição porque esse texto e desafio me deixam muito vivo.
O Marcelo Gouveia tem feito sucesso mesmo. Uma parte do público até o elegeu o maior vilão da trama…
Eu queria fazer um vilão até por ter vindo do Lui Lorenzo, que era supercarismático e para fora. Daí veio esse personagem do nordeste, que tem um porquê das dores por ter sempre sido preterido na vida, mas que também é malandro. Minha ideia foi fazer esse personagem de uma forma que confundisse o público, que eles amassem e odiassem, ao mesmo tempo, o Marcelo. Acho que estou conseguindo. Mas não sei o que vai acontecer. Estamos no meio da novela. Ainda tem uma trajetória até o final do ano. Tudo é inesperado. Não sei se vai enveredar para o lado do mal de vez ou se vai se redimir. Pode ser que ele vire um psicopata ou vire um bom cara. Isso me deixa animado! A gente como ator não quer caminho mole. Os desafios estimulam e fazem a gente acordar cedo no domingo para estudar o roteiro da semana inteira e não deixar para decorar muito em cima da hora.
Você torce para qual rumo?
Para que ele se torne um psicopata (risos) para as pessoas que me amaram um dia falarem, “como que eu vou amar esse cara?”. É muito bom isso.
Viver da arte no Brasil é algo que quase todo o ator diz ser uma dádiva. Ano que vem faz 20 anos que você trabalha como ator. Teve algum momento em que pensou em desistir ou que não fosse conseguir?
É uma carreira de muitos altos e baixos. Vejo muita gente que estudou ou começou comigo, trabalhando em outras áreas. O mercado está crescendo, temos mais oportunidades, mas ainda é difícil se estabilizar. No meu primeiro trabalho, em 2005, fiz dois anos de Malhação. Pensei: “Minha vida está feita agora. Saí de casa, vou trabalhar todo ano, ganhar dinheiro…”. Passei cinco anos sem contrato depois disso, fazendo só participações. Investi em grupo de teatro. Teve um bom tempo em que eu estava gastando mais do que o que estava entrando. Eu falava: ‘Meu Deus, essa conta não vai fechar. Tinha aquela pressão dos pais de “volta para casa, procura outra profissão, um plano B”. Eu nunca tive dúvida, não. Queria viver de arte. Mesmo assim, o tamanho que isso tornaria eu não imaginava.
“Quando caí na TV, ela me iludiu. Pensei que fosse viver disso, mas vi que não era bem assim. Sempre vai ser uma montanha-russa, tem horas que a gente vai estar no alto e outras embaixo. Já aprendi a lidar com essa frustração.”
Você não imaginava que seria uma estrela?
Eu fazia teatro, não via televisão e não tinha ambição de fazer novela. Passavam pessoas famosas por mim e eu nem sabia quem eram. Cresci jogando bola na rua, brincando e curtindo outros baratos. Mas quando caí na TV, ela me iludiu. Pensei que fosse viver disso, mas vi que não era bem assim. Sempre vai ser uma montanha-russa, tem horas que a gente vai estar no alto e outras embaixo. Já aprendi a lidar com essa frustração. Acho que nunca estou com o jogo ganho, é um trabalho atrás do outro. Sei que hoje tenho muito mais oportunidades porque trabalhei com diferentes diretores que gostaram do meu trabalho e me convidam para outros. Vou abrindo portas. Hoje também estou um pouco menos preocupado. Hoje, tenho uma certa calma. Sei que vou ter anos corridos, como os de agora, e outros mais calmos, mais sabáticos e menos popular.
Hoje você tem outros investimentos também…
Tenho uma sociedade muito legal de restaurante japonês. A gente já está com três unidades e ampliando com franquias. Também estou vendo outros negócios. Tenho essa inquietude de desenvolver outros trabalhos para não ficar dependente de estar trabalhando como ator. Ser ator é ser um eterno freelancer. As pessoas acham que por eu estar fazendo novela desde 2012, não paro de fazer, que sou contratado da Globo. Sou por obra e adoro ser. Acabei de fazer, entre essas três novelas, uma série linda que vai estrear na Disney+ no ano que vem. Nem sei que horas que consegui fazer, mas consegui (risos). Janeiro deste ano parece que foi um ano em um mês. Estava fazendo Masked Singer, me preparando para novela, série… Foi bem corrido, mas um aprendizado.
Antes de estrear como ator aqui no Brasil, você viveu nos EUA. Por que se mudou para lá e o que te fez querer voltar?
Fui para lá para pensar no que eu estava fazendo com a minha vida. Conheci o teatro na escola, no terceiro ano do segundo grau. Já tinha falado para os meus pais que queria fazer teatro, mas tive que estudar Economia.
Economia?
Minha mãe era professora de Matemática e eu era bom nisso. Então fiz. Escolhi meio que de forma aleatória, como uma roleta-russa. Mas não estava feliz fazendo cálculo um e cálculo dois (risos). Na faculdade surgiu uma oportunidade de trabalhar e estudar inglês nos Estados Unidos, em Hollywood. Trabalhei como segurança. Trabalhei em casa de festas, de shows e eventos, mas ficava mais tomando conta do lado de fora durante a madrugada. Não podia nem cruzar o braço por oito horas. Ganhava meus seis dólares a hora. Era maravilhoso para um menino de 19 anos. Mas fui com a ambição de ser ator.
E teve chances?
Recebi convites para fazer figuração. Cheguei a ir à plateia de talk show para fazer pergunta… Pensava em estudar ali. Morava em um bairro que só tinha artista. Só eu e os meus três amigos, que rachávamos uma quitinete, que não éramos artistas. Passava pelo primeiro bloco, tinha um cara tocando piano, no outro um ator decorando texto ou um artista pintando. Era um local que me inspirava a fazer arte. Ali fiquei decidido a viver daquilo.
Mas mesmo assim você voltou…
Não queria mais voltar. Meu objetivo era estudar para ser ator lá. Mas voltei meio que na chantagem. Disse que só voltaria, como minha mãe queria, se fosse para estudar teatro. Após um ano estudando, consegui meu primeiro trabalho. Foi o meu primeiro teste para a televisão. Tive muita sorte. Já tinha recebido muitos “nãos” porque o povo falava que eu era diferente e exótico. Falavam que eu deveria ser modelo. Fui então e consegui o meu dinheiro para pagar os meus cursos de teatro e de câmera. Meus pais não incentivavam muito esse meu sonho de viver da arte.
Depois de um tempo veio Avenida Brasil. O Darkson mudou sua vida por completo! Você imaginava que seria assim?
Sabia que João Emanuel (Carneiro, autor) ia vir com tudo. Fiz o texto e arrebentei, sabia que o papel era meu. Eu estava fazendo teatro e estava muito afiado. O personagem era um sedutor muito carismático e me permitia improvisar. Mas, mesmo assim, não imaginava que a novela fosse tomar o tamanho que tomou, que o último capítulo ia ser como final de copa do mundo aqui no Brasil. Foi ali que a minha vida realmente mudou. Ainda veio junto com a minha participação no programa Amor e Sexo. A galera começou a me conhecer ali, até em outros países. Faz tempo que não consigo viajar para fora, mas quando vou, vem sempre alguém falar de Avenida Brasil.
“Até hoje é um eterno achar um ponto de equilíbrio. Entender o quanto tenho que ser consumido, o quão interessante é eu ficar mais recluso e o quanto também tenho que levantar bandeiras.”
E em Avenida Brasil você também conheceu a Débora, que depois veio a se tornar a mãe da sua filha. Como foi lidar com a fama e o interesse das pessoas a partir daí por sua vida pessoal?
Foi muito estranho. Até hoje tem essa estranheza. Às vezes, me esqueço que estou na casa das pessoas todos os dias. Lembro que comecei a ganhar visibilidade e as pessoas me paravam na rua querendo saber da minha vida. Como vim do teatro, as minhas referências eram outras. O personagem devia falar mais alto que o ator. Quando me vi, estava com namorada na capa de uma revista, abrindo minha família, expondo muita coisa. Até hoje é um eterno achar um ponto de equilíbrio. Entender o quanto tenho que ser consumido, o quão interessante é eu ficar mais recluso e o quanto também tenho que levantar bandeiras. Sou diabético desde os 13 anos. Na juventude escondia isso, que é supernatural. Pode parecer uma bobeira, mas pode ser muito pesado para uma pessoa. Já que falo com tanta gente, seria um pouco egoísta não influenciar e normalizar isso.
Você mostra que é possível ser diabético, mas ser saudável, ser bonito e ter um corpo legal. As pessoas às vezes limitam: “o diabético não pode ser assim ou fazer isso”…
Isso é diário. A gente faz os lanches com a equipe da novela. Sempre vem alguém e fala, “O Zé não pode isso”. Chamo no canto e explico que esse “não pode” não é verdade. Se eu fosse um cara de 15 anos e escutasse que não podia fazer algo, eu ia me sentir muito mal. Posso absolutamente tudo porque me cuido. Tenho esse papel educacional para outros jovens terem essa referência. É tão bom para mim ver que o Tom Hanks é diabético, sabe? Ele fez os personagens mais incríveis que eu conheço. Quero levantar essa bandeira que o diabético pode tudo e outras bandeiras. Fui criado em uma sociedade machista, mas abri minha cabeça com leitura, vivências e ter feito Amor e Sexo… Mas voltando à sua pergunta, é entender a dose certa da exposição porque, às vezes, machuca. A gente fala uma coisa, a manchete é outra e ganha uma proporção que me faz pensar que era melhor ter ficado em casa. Isso é muito ruim.
Lembro que na época de Avenida Brasil, eu te encontrava em alguns eventos e você aparentava estar assustado ou receoso com o interesse que tínhamos em saber mais de você. Mas, hoje em dia, sinto que você encara com mais leveza tudo…
Realmente na época da Avenida Brasil eu ficava assustado. Mas a leveza é realmente hoje a palavra que eu mais uso. Tem atores que ficam mais reclusos, outros mais pesados… A leveza é a minha melhor armadura para lidar com essa evidência toda, desde esse querer dos outros a saber da minha vida, a inventar coisas que dão cliques. É saber como funciona o esquema e fazer com a sua verdade.
Essa visiblidade já prejudicou seus relacionamentos?
Não digo que prejudica, mas deixa tudo mais delicado. Estou conhecendo uma pessoa, mas a gente tem que fazer de um jeito que não apareça. É delicado.
Para todo mundo o fim de um casamento é algo difícil. Como foi passar por esse momento já delicado em meio a tanta exposição e rumores?
O fim de um relacionamento já é sempre doloroso e queriam que virasse um reality show. Tinha torcida para lá e para cá. Foi doído. Foi um momento em que fiquei recluso e me calei para não dar mais voz a tudo que saía. Foi uma das piores dores que tive, mas busquei colher flores. Sempre vejo o lado bom das coisas. Amadureci muito enquanto homem, pai e tudo mais… Não sei como seria a minha vida se eu não tivesse passado por esse trauma. A vida segue. É um término e o começo de um novo ciclo. As pessoas passam por isso no trabalho, saúde… Esse ciclo fechou muito doido, mas me abriu a melhor das portas, a maturidade pessoal e artística.
“Fiquei com medo, lógico, porque rolava um cancelamento. A internet é terra de ninguém… Mas antes de ser celebridade, sou ator. O trabalho que entrego é o que deve falar mais alto.”
Lembro que veio toda aquele questionamento sobre infidelidade e tal, envolvendo até terceiros. Você teve medo que aquilo respingasse de certa forma na sua carreira ou até na carreira de terceiros, que afirmaram não ter nada a ver com isso?
Antes de ser celebridade, sou ator. O trabalho que entrego é o que deve falar mais alto. Lógico que a vida pessoal hoje fala muito em paralelo com isso. As pessoas torcem pela gente e isso é importante, mas o artístico deve ser mais importante. Consegui voltar com ele aos pouquinhos. Mas fiquei com medo, lógico, porque rolava um cancelamento. A internet é terra de ninguém. As pessoas xingam e botam para fora as próprias dores. Nunca vi uma pessoa estar feliz e ficar julgando a vida de alguém com achismo e baseada em manchetes que lê, sem saber o que é real ou não, ou o combinado entre as pessoas. Nunca vi alguém que está de bem com a vida ficar vomitando rancor na internet. Então, a gente entende que a internet tem esse lugar. Tem o lado bom e o ruim.
Você teve que se explicar para sua família?
Isso é o que mais dói. O povo fala as coisas e daí a minha vó de 96 anos está consumindo isso de alguma maneira. Não que ela vá buscar nas redes sociais, mas as coisas chegam para ela através de um ou outro… Isso é muito ruim! Tenho que falar de coisas que eram para ser pessoais, que eram para ser só entre duas pessoas ou sobre mim mesmo. Isso nos força a nos expor em um lugar que não é legal e não é saudável. Mas faz parte.
Logo depois da separação veio a pandemia. Como foi reconstruir sua vida em meio a um momento tão delicado como o isolamento social?
Foi um momento de reclusão total. Todos tivemos que ir para casa e isso nos leva para dentro de nós mesmos. Tirei bom proveito disso. Aproveitei para amadurecer muito. Foquei em ficar com a minha filha, criar um laço e parceria com a mãe, já que morávamos em casas diferentes. Depois de um momento de dor, de perda de pessoas e de entendimento se era ou não o fim do mundo, saí forte. A gente passa a levar a vida de outra forma. É como ter um filho, tudo muda. A gente dá um valor diferente à vida e aprende a não desperdiçar momentos.
Com o isolamento social e todas essas mudanças na sua vida, você teve a oportunidade de acessar questões internas que antes preferia não acessar, até mesmo por ter nascido em uma década em que o homem não podia chorar e mostrar suas vulnerabilidade?
Total! Venho de Niterói, uma cidade mais provinciana. Meninos faziam judô e as meninas balé. Então, era uma sociedade muito machista. A gente não podia mostrar fragilidade. Tem uma hora que não tem mais como esconder. Se você está transbordando, a água escorre. Eu estava superfrágil e o término e a pandemia acabaram me ajudando muito nisso. Me botaram mais à flor da pele e fui forçado a não poder esconder algumas coisas. Lembro que o Papinha (Rogério Gomes, diretor), um grande amigo, me viu chorando e sem dormir em um período de gravações, botou a mão no meu ombro e disse: “Zé, calma, você é jovem e vai recuperar tudo. Eu já perdi impérios”. É muito difícil homens terem esse tipo de contato. Então foi importante.
Você faz terapia?
Inclusive comecei a fazer após a separação. Fui em várias até descobrir a que eu mais curto. Hoje sei a importância da terapia e me pergunto como é que eu não fazia antes.
“Podia ter dado errado morar perto da ex, mas no final, curamos as dores, tivemos outros relacionamentos e estamos firmes e fortes como pai e mãe. Estamos em sintonia pela Bella.”
A paternidade é algo muito importante na sua vida. Como foi a decisão de se mudar para perto da Débora após a separação para poder estar no dia a dia da sua filha?
Minha intuição é boa. Quando separei, falei, “estou saindo da casa e vou para uma casa ao lado”. Meu pai e amigos falaram para eu não fazer isso, para pensar com calma, amadurecer a ideia… Falei: “Não! Minha filha é pequena e eu quero ficar o mais próximo que eu puder porque vai ser melhor para ela. Foi uma das melhores decisões que tomei na minha vida. Minha filha vai andando de uma casa para outra. É como se a gente morasse tudo na mesma casa, ligada por um corredor externo, a rua. Isso é muito bom para a minha filha. Valeu muito a pena. Podia ter dado errado morar perto da ex, mas, no final, curamos as dores, tivemos outros relacionamentos e estamos firmes e fortes como pai e mãe. Estamos em sintonia pela Bella. Torço por ela. A gente tem que se ajudar, não tem jeito.
Dizem que pai não ajuda, participa. Você vive isso, né?
A gente não tem rotina, mas minha filha tem. Quando sai a agenda de gravações, a primeira coisa que organizo são os dias que estou com ela e o que eu vou fazer com ela. Eu me organizo para ter bons momentos com ela, para dar o melhor para ela. Fazer isso é uma delícia, muito prazeroso. Ela está agora em um momento de explorar os patins e de andar de bicicleta sem rodinhas. Ela dorme dois dias na casa da mãe, dois na casa do pai. Quando dorme lá, já fico com aquela saudade. Mas também é bom porque nesse tempo consigo ter um momento para mim, assim com a Débora consegue ter o momento dela quando a Bella está comigo. Está muito bem organizada essa família conjunta que a gente tem e essa convivência compartilhada.
Ser pai de menina fez você ter um outro olhar sobre a sociedade patriarcal?
Sem dúvida. Não deveria ser diferente ser pai de menino ou menina, mas é. Ela me faz olhar por outros olhos, ter outras preocupações… Vejo o mundo a nossa volta e como a mulher é reprimida e sofre abuso e violência. A mulher tem medo de sair na rua! Tento sempre mostrar que a mulher tem os mesmo direitos. Ela pode usar azul, não fico fantasiando minha filha de rosa, ela tem liberdade para usar o que quiser, fazer o esporte que quiser… Gosto de ter um papo bem franco e cuidadoso com ela para que ela não se sinta reprimida diante de nada. Tem assuntos muito delicados, mas leio de tudo para conversar com ela. Estou lendo um livro sobre a sexualidade da criança para poder aprender desde já. Vim de uma geração que não falava de sexualidade com os pais. Quero aprender como abordar tais assuntos, em quais momentos e como… Leio muito e observo muito os amigos. Sem contar que a gente aprende muito com os erros da nossa própria criação.
“A gente não faz um curso (para ser pai) e é a coisa que mais muda a nossa vida. De repente é um ser humano para a gente cuidar e se desenvolver junto.”
Não vem com manual…
A gente não faz um curso (para ser pai) e é a coisa que mais muda a nossa vida. De repente é um ser humano para a gente cuidar e se desenvolver junto. Temos que dar as referências para alimentar essa personalidade. É um processo muito louco e lindo. Quero que ela siga sendo a minha melhor amiga. Ela é o amor da minha vida.
Na sua trajetória profissonal, você também tem Amor e Sexo, onde vocês falavam sem tabus sobre isso. Esse programa fez você abrir mais a cabeça para viver mais experiências ou você sempre teve uma relação de muita liberdade sexual?
Nunca tive e esse programa foi uma coisa. Eu era um homem hétero em desconstrução da masculinidade tóxica que veio comigo. Aprendi no ao vivo algumas coisas. Lembro que achava normal essa coisa de princesa, achava bonito… Estavam perguntando para os jurados sobre A Bela Adormecida, e a escritora Regina Navarro Lins me deu uma aula. “Não ache lindo uma mulher ficar ali esperando o beijo para ser acordada”. Isso me fez olhar de outra forma para essa história. Nunca tinha passado isso na minha cabeça. Fui aprendendo no ao vivo. Que pena que esse programa acabou. Era importantíssimo porque levava para as casas das famílias assuntos que não eram falados. Lembro que até no jantar de domingo em família, a gente começou a falar de assuntos que não falava. Meu pai falava: “Como é que você fala isso?”. Daí eu explicava. Levou o diálogo para a minha família.
Recentemente você viralizou ao falar sobre fisting (que consiste em inserir a mão ou o punho inteiro na vagina ou ânus da parceira/o) no programa do Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank Surubaum. Você disse que não sentiu tesão, mas estava disposto a tentar. No sexo vale tudo?
Respeitando os limites de cada um, está tudo bem. É bom poder falar sobre isso. Falei algo que achei que era de tanta leveza, mas acabou virando manchete. Eu apenas contei uma situação engraçada que aconteceu. Não chega a ser um trauma. Nem falei se concluí ou não. Daí descobriram o nome disso, que eu nem sabia… O sexo é uma troca entre duas pessoas ou mais. Pode até ser algo que se faz sozinho. Tem que ter o diálogo.
Você já foi vítima de um crime quando vazou um vídeo intimo seu. Isso causou algum trauma em você ou impactou as ruas relações?
Era um jovem experimentando a internet no inicio de tudo, antes do Orkut (2004). Quando aconteceu, as pessoas tentaram normalizar, brincar com isso… Mas só normalizam quando não sentem na própria pele. É muito contrangedor quando você tem um conteúdo que foi feito para uma pessoa no privado jogado para o mundo. Fui atrás da Justiça, mas vi que era algo relativamente pequeno perto de outros casos que eles tinham que resolver. A delegada disse que estava quase fechando um caso de pedofilia gigante. Falei: “Esquece meu negócio, não perca tempo com isso”. Deveria punir essa pessoa porque dependendo da vítima, a gente não consegue imaginar como isso ia impactar. Ainda bem que foi comigo e não uma pessoa insegura… Mas não me impactou. Quase todo jovem passou por algo parecido e tem medo de ter acontecido. Não fiz nada de errado. Bola pra frente, virou passado.
“Quero uma parceira e namorar. Não sei se quero me casar, mas, no presente momento, quero conhecer alguém.”
O que você busca em uma relação hoje: acredita em casamento e monogamia ou procura algo mais aberto?
Não fico pesquisando o que eu vou querer. Estou solteiro, quero ter uma relação fechada, a princípio. Mas entendo que isso é um combinado entre o casal. Depende muito de quem eu vou esbarrar. Estou sentindo agora muita falta de ter alguém. Trabalho tanto. Quero uma parceira e namorar. Não sei se quero me casar, mas, no presente momento, quero conhecer alguém. Mas deixa acontecer né? Agora quero trabalhar bastante, fazendo bons personagens, cuidar da minha filha e, se aparecer alguém para somar, será bem-vinda. Acredito que vá aparecer. Na minha vida, até os erros acontecem na hora certa.
Para finalizar: quem é o Loreto hoje aos 40 anos?
Acho que acalmei, fiquei um pouco mais tranquilo. Sei mais ainda o que eu quero: colecionar bons momentos com a minha filha e trabalhar com prazer, contando boas histórias. Antes eu queria estar fazendo novelas das seis, sete e oito ao mesmo tempo. Agora quero fazer uma novela a cada dois anos, um filmaço e descansar… Quero desacelerar com mais qualidade.
O Chorão no cinema vem?
Torço para que aconteça. Quero muito! É um cara que tem uma história incrível, mas não quero botar a carroça na frente dos bois.
Quais trabalhos tem por certo já?
Sabe o que tenho engatilhado? Férias! Quero me dar férias em novembro! Quero pensar em outros trabalhos no final do ano. Quero pegar personagens mais distintos e potentes, que desafiem mudanças físicas. Gosto disso. Mas é um pezinho atrás do outro.
Créditos:
Texto: @marina_bonini
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Fotos: Lucas Bori @lucasbori
Produção de moda: @zecaziembik
Edição: @camila_borowsky
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