Dólar hoje: moeda abre em alta com repercussão do discurso de Galípolo e novas falas de Lula
O dólar hoje abriu o pregão em leve alta após chegar a ser negociado, na véspera, a R$ 5,462 e fechar a R$ 5,4294. Nesta quarta-feira (16), a moeda americana já sobe 0,25%, cotado em R$ 5,4425.
Os investidores ainda repercutem, no cenário doméstico, o discurso do diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, no Fórum Anual de Economia e Cooperativismo de Crédito em Anápolis, em Goiás, promovido ontem pelo Sicredi.
Ele comentou que a inflação corrente tem mostrado dados mais favoráveis recentemente, mas destacou uma piora nas expectativas de inflação. Galípolo admitiu um “equívoco” ao imaginar que bons números da inflação corrente ao longo deste ano afetariam positivamente as expectativas. Ele disse que “na verdade a dissonância aumentou”.
No entanto, observou que o último dado de inflação “até interrompeu um pouquinho esse processo de piora na desancoragem das expectativas”, mas isso ainda é uma preocupação. “Me incomoda muito que a gente tenha tido um processo que já tinha uma desancoragem, houve uma elevação da taxa de juros de curto e de longo prazo e a gente assistiu a desancoragem ampliar mesmo num processo de inflação corrente que vinha apresentando comportamento mais benigno,” afirmou Galípolo.
O diretor explicou que as taxas de juros mais elevadas não tiveram o impacto esperado na desaceleração da inflação. Ele destacou preocupações contínuas com a inflação de serviços, especialmente aqueles relacionados à mão de obra, e com alimentos. Galípolo também mencionou o comportamento do mercado de trabalho, afirmando que, embora não seja possível identificar claramente se um mercado de trabalho mais dinâmico resultará em aumento de salários e pressão inflacionária, um mercado de trabalho mais ativo sugere que o processo de desinflação será mais custoso e lento.
Em entrevista vazada, Lula comenta sobre quadro fiscal
Uma entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à TV Record, vazada ontem à tarde, segundo a emissora, também deixa o mercado atento. Lula afirmou que o governo não está obrigado a cumprir a meta fiscal, mas assegurou que fará o necessário. “Tenho mais seriedade fiscal do que aqueles que dão palpites nessa área”, afirmou o presidente.
Questionado se o governo alterará a meta para não ficar refém, Lula respondeu que isso é apenas “uma questão de perspectiva”, e que o governo não é obrigado a estabelecer e cumprir metas se houver coisas mais importantes para fazer. “Este país é imenso, é poderoso; o que é pequeno são as mentes dos dirigentes e de alguns especuladores. Este país não tem problema se tiver um déficit zero, 0,1%, 0,2%; o importante é que o país esteja crescendo, a economia esteja crescendo, os salários estejam crescendo”, reforçou em entrevista à TV Record.
O chefe do Executivo garantiu, no entanto, que a meta zero “não está descartada”. “Vamos fazer o necessário para cumprir o arcabouço fiscal”, e prometeu que o país “terá previsibilidade”. “Ninguém será pego de surpresa com as ações que pretendemos realizar, porque serão feitas ao meio-dia, não à meia-noite, e com todos observando.”
Lula também rejeitou qualquer desvinculação dos benefícios previdenciários do salário mínimo. “Quando alguém diz: ‘o presidente Lula deveria desvincular o mínimo da Previdência Social’. O mínimo já indica, é o mínimo, não há nada mais baixo que o mínimo”, frisou o presidente.
O presidente também mencionou que aprendeu com sua mãe, Dona Lindu, que não se deve gastar mais do que se tem, mas destacou que não é “marinheiro de primeira viagem”. “Não considero tudo o que eles chamam de gasto como gasto. Às vezes, fico incomodado porque não sou inexperiente. Sou o presidente da República com mais tempo de mandato neste país desde Getúlio Vargas e Dom Pedro II. Tenho experiência em administração bem-sucedida”, comentou.
Fed volta a falar em flexibilizar política monetária
No cenário externo, a diretora do Federal Reserve (Fed), Adriana Kugler, afirmou ontem em Washington que, se as condições econômicas continuarem a melhorar, com uma desinflação mais rápida nos últimos três meses e um mercado de trabalho resiliente apesar da desaceleração, ela prevê iniciar uma flexibilização da política monetária ainda este ano.
No entanto, Kugler destacou que sua decisão depende de dados contínuos e de múltiplas fontes, especialmente diante de riscos equilibrados entre alta da inflação e desaceleração do mercado de trabalho. Ela enfatizou que consideraria cortar as taxas de juros mais cedo se o mercado de trabalho desacelerar significativamente e o desemprego aumentar devido a demissões.
Por outro lado, se os dados disponíveis não mostrarem uma trajetória sustentável de inflação em direção à meta de 2%, ela poderá optar por manter as taxas estáveis por mais tempo.
Kugler observou que, apesar dos desafios no início do ano, a inflação tem diminuído em todas as categorias de preços, mas ainda permanece acima da meta. Ela acredita que a oferta e a demanda estão se equilibrando melhor, com os gargalos de oferta retornando ao normal e uma moderação na demanda devido aos juros mais altos e ao fim das economias excessivas das famílias.
Depois das quedas da semana passada, o real caiu da quinta para a sexta posição entre as moedas mais desvalorizadas em um ranking de 118 divisas. Com o resultado de ontem, o dólar acumulou uma queda de 0,56% na semana, um recuo de 2,82% no mês e uma alta de 11,92% no ano.