Flávio diz que investigação sobre Bolsonaro é “esdrúxula”: “Não tem crime”
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) classificou como “esdrúxula” a investigação da Polícia Federal (PF) sobre a suposta venda de joias presenteadas pela Arábia Saudita e recebidas pelo governo brasileiro durante a gestão passada.
De acordo com o relatório da PF, tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro teria conhecimento da tentativa de leiloar as peças fora do país.
Ainda segundo o relatório, ficou configurada “uma associação criminosa voltada para a prática de desvio de presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais”.
Para os policiais, os valores correspondentes às vendas dos itens teriam sido convertidos em dinheiro em espécie e transferidos para o patrimônio pessoal de Bolsonaro, sem que fosse utilizado o sistema bancário formal, “com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.
Bolsonaro é suspeito de ter praticado os crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato/apropriação de bem público. As penas variam de 1 a 12 anos de reclusão.
“Claramente não há sequer crime. Não tinha que ter nem inquérito para investigar nada. Eu espero que o procurador-geral da República [Paulo Gonet] tenha a sabedoria, a isenção e a responsabilidade de arquivar uma investigação esdrúxula, em cima de fatos que nem sequer devem ser considerados crimes”, disse Flávio Bolsonaro, em entrevista ao jornal O Globo.
“Qual o crime? Não tem crime. Não tinha que estar tendo nem investigação. Mostra que a PF dá um tratamento diferente para o Bolsonaro em relação a outros ex-presidentes”, completou o senador.
As informações constam do relatório da corporação que serviu de base para o indiciamento, pela PF, de Bolsonaro e de outras 11 pessoas no caso.
O que diz a PF
Segundo a PF, o principal indício de que Bolsonaro sabia da operação é uma troca de mensagens entre o então presidente e o tenente-coronel Mauro Cid, que era seu ajudante de ordens e também foi indiciado.
Na mensagem em questão, Cid encaminha um link com informações a respeito de um leilão, e Bolsonaro responde: “Selva”. De acordo com os policiais, o termo é uma saudação tradicional no Exército e significa concordância ou anuência – algo como um “ok” ou um “tudo certo”.
Ainda segundo a investigação da PF, foram encontrados, no celular de Bolsonaro, históricos de navegação na página da empresa Fortuna Auction, responsável pelo leilão, o que corrobora a tese de que o ex-presidente sabia da tentativa de venda das joias.
“Esta sequência apresentada: primeiro, o envio de link do leilão por Mauro Cid; segundo, o registro de acesso à página por meio de histórico e cookies por Jair Bolsonaro, em seu aparelho telefônico; e terceiro, a utilização da expressão ‘Selva’, reforçam a utilização deste jargão para confirmar a ciência, do ex-presidente, de que o kit ouro rosé fora exposto a leilão”, diz o relatório da PF.
De acordo com os policiais, o “kit ouro rosé” seria composto por um conjunto de itens da marca Chopard, que inclui caneta, anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe e um relógio. Os itens teriam sido recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após uma viagem à Arábia Saudita, em 2021.
O que diz Bolsonaro
Na segunda-feira (8), Jair Bolsonaro se manifestou sobre o caso e ironizou o erro inicial da PF a respeito dos valores do suposto desvio do dinheiro das joias. Originalmente, o relatório falava em R$ 25 milhões, mas o valor foi corrigido para R$ 6,8 milhões.
Os advogados de Bolsonaro, por sua vez, informaram que o ex-presidente não tinha “qualquer ingerência” sobre os presentes recebidos pelo governo brasileiro durante as viagens oficiais.
“Todos os ex-presidentes da República tiveram seus presentes analisados, catalogados e com sua destinação definida pelo GADH, que, é bem de se ver, sempre se valeu dos mesmos critérios empregados em relação aos bens objeto deste insólito inquérito, que, estranhamente, volta-se só e somente ao governo Bolsonaro, ignorando situações idênticas havidas em governos anteriores” diz a defesa do ex-presidente.