TEMPO REAL / Gomes pode estar para Bolsonaro como João Ribeiro esteve para Lula

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no auge da popularidade, por volta de 2007, e se preparava para vir para o Tocantins, em meio ao debate sobre o fim da CPMF, que tinha como relatora a senadora tocantinense Kátia Abreu (PDT), na época feroz inimiga dos petistas. No conselho do presidente da República, composto pelos líderes dos partidos no Congresso, outro tocantinense se destacava na política nacional, o senador João Ribeiro.

Como João Ribeiro, para se consolidar em 2022, Gomes precisa usar essa estreita relação para fortalecer os municípios tocantinenses e garantir a eleição de uma boa base de prefeitos em 2020

Minutos antes de começar a reunião do conselho, Lula se aproximou de João e perguntou se estava tudo certo para voarem juntos para o Tocantins no dia seguinte. O senador respondeu com um enigmático “sei não” para Lula, que ficou encasquetado com o que ouviu. Aqui no Estado, o Palácio Araguaia já estava em polvorosa para deixar tudo perfeito para a chegada do presidente. Uma enorme estrutura estava praticamente montada na Praça dos Girassóis e o governo Marcelo Miranda, na TV, convidava a população para o evento.

Porém, em Brasília, durante a reunião do conselho, volta e meia Lula dava uma olhadela para João, ainda com o “sei não” lhe incomodando. Com a pauta do encontro esgotada, o presidente correu no senador e pediu explicações. O tocantinense desabafou: Marcelo era aliado de Kátia — ambos haviam sido eleitos na histórica disputa contra o siqueirismo em 2006 —, mas não fazia nada para impedi-la de continuar com a campanha contra a CPMF e o governo petista. Além disso, o Palácio Araguaia se punha como feroz adversário do grupo de João Ribeiro no Tocantins.

O senador, então, concluiu para Lula: “O senhor vai, eu não vou”. A resposta do parlamentar foi mais do que suficiente para a decisão imediata de Lula: “Se você não vai, eu também não vou”. Assim, a viagem cancelada, gerando um enorme constrangimento para o governo Marcelo Miranda na época.

Em outra frente, João Ribeiro soube aproveitar essa excepcional relação com Lula para canalizar milhões e milhões de reais para o Estado. Até hoje ainda tenho notícias aqui e ali de inauguração de obras em diversos municípios construídas com recursos conquistados pelo senador naquela época.

Essa atuação fez João sair como o grande vitorioso das eleições municipais de 2008, quando elegeu a maior parte dos prefeitos no Estado, dando uma verdadeira surra nas urnas no Palácio Araguaia. Foi o bom aproveitamento da amizade e confiança de Lula para fortalecer seus prefeitos no Tocantins que elevou o senador à condição de candidato natural a governador nas eleições de 2010. Só não foi — e por isso não levou, e dificilmente perderia — porque não ousou romper com o ex-governador Siqueira Campos e dizer isso claramente ao MDB, que era tudo o que o partido queria ouvir dele, já que não estava muito animado em apoiar a candidatura do então governador Carlos Gaguim, também não muito empolgado, até por volta de maio de 2010, em encarar aquela disputa.

Agora vemos outro tocantinense muito fortalecido junto ao presidente da República, o senador Eduardo Gomes, líder do governo no Congresso Nacional. Jair Bolsonaro chega hoje ao Tocantins para assinar dois contratos de empréstimos, que somam R$ 583 milhões e que vão disseminar obras por todo o Estado. A vinda do presidente já é resultado direto da articulação de Gomes. Os contratos seriam assinados no início de novembro, mas o próprio presidente pediu o adiamento para estar presente. Claro que uma óbvia mão amiga interveio. Dificilmente um presidente da República faria questão de ir a um Estado para a mera assinatura de contrato com a Caixa Econômica Federal. Uma visita, inclusive relâmpago: chega às 13h30, segue para a solenidade, que começa às 14h40, e já embarcará às 16h20 para o Rio de Janeiro, onde participará de um evento militar.

Como João Ribeiro, para se consolidar em 2022, Gomes precisa usar essa estreita relação para fortalecer os municípios tocantinenses e garantir a eleição de uma boa base de prefeitos em 2020.

Fazendo isso, chegará às próximas eleições estaduais mais do que qualificado para a disputar o Palácio Araguaia. Habilidoso como é, será um candidato difícil de ser batido.

Mas até lá tem a lição de casa: canalizar muito dinheiro federal para as prefeituras e, o mais difícil, sobreviver ao instável Jair Bolsonaro.

CT, Palmas, 12 de dezembro de 2019.

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Fonte clebertoledo
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