Paraisópolis é a 2ª maior comunidade de São Paulo e moradores pedem ações sociais há pelos menos 10 anos

Região é carente de mais ações sociais e infraestrutura urbana. Na madrugada deste domingo (1º), nove pessoas morreram pisoteadas durante um baile funk na região.

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A comunidade de Paraisópolis – onde nove pessoas morreram pisoteadas num baile funk após ação da Polícia Militar na madrugada deste domingo (1º) – tem mais de 100 mil habitantes, 21 mil domicílios em uma área de 10 km² na Zona Sul de São Paulo. É considerada a segunda maior de São Paulo, ficando atrás apenas de Heliópolis.

Apesar de possuir equipamentos públicos, a região ainda é carente de mais ações sociais e infraestrutura urbana há pelo menos dez anos.

Em nota divulgada após o ocorrido no baile funk, a União de Moradores de Paraisópolis afirmou: “Não foi acidente! Jovens de toda a cidade há anos vêm curtir o baile da D17, e encontram na comunidade que sofre com a ausência de oportunidades culturais e de lazer uma oportunidade para estar com amigos e se divertir”.

No comunicado (leia a íntegra ao final da reportagem), a entidade também disse: “Com frequência, ocorrem ações policiais de dispersão, causando correria e violência, como mostram os videos. Essa madrugada, jovens foram encurralados em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência”.

Paraisópolis é cercada por prédios de alto padrão, shoppings e hipermercados, o que mostra a diferença social na região. Mesmo com tanta desigualdade, a comunidade ainda consegue oferecer opções de lazer para os moradores, como o Ballet Paraisópolis, projeto criado em 2012.

Neste ano, cerca de 50 bailarinos, com idade entre 6 e 17 anos, participaram do desfile da Acadêmicos do Tatuapé, no carnaval de São Paulo.

Segundo o Mapa da Desigualdade, divulgado em novembro deste ano pela Rede Nossa São Paulo, moradores da Vila Andrade esperam em média 75,2 dias (cerca de dois meses e meio) para passar por uma consulta com um clínico geral na rede pública de saúde. O número mostra uma grande diferença em comparação a outros 17 bairros, cujo tempo médio de espera em dias é igual a zero.

A população é composta por 31% de jovens entre 15 e 29 anos. Esse perfil de população é a que está mais vulnerável à falta de empregos e oportunidades. Doze mil são analfabetos ou semianalfabetos.

Nas casas, 42% das famílias são chefiadas por mulheres.

Dados de Paraisópolis

  • 2ª maior favela de São Paulo e 5ª maior do Brasil
  • 10 km² de área
  • 100 mil habitantes
  • 21 mil domicílios
  • 12 mil moradores analfabetos ou semianalfabetos
  • 31% da população é composta por jovens de 15 a 29 anos, portanto mais vulneráveis à carência de emprego e oportunidades
  • 42% das famílias têm mulheres como responsáveis
  • Renda média de 87% dos chefes de família é de até 3 salários mínimos
  • 21% da população que tem emprego atua no comércio local
  • Aproximadamente 10 mil comércios locais
  • Grande crescimento nos últimos anos
  • Grandes empresas ingressando no mercado local
  • 12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma Escola Técnica Estadual (Etec), um Centro Educacional Unificado (CEU), três unidades básicas de saúde (UBS) e uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA)

Os problemas do pancadão

Para Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz, os pancadões e bailes funks não devem ser tratados apenas como problema de segurança pública. “É algo que faz parte da cultura dessas pessoas e muitas vezes são as poucas opções de lazer disponíveis. Agora, tem vários aspectos que estão relacionados a este caso. Você tem muitos moradores sofrendo com som alto, sem conseguir dormir, você tem muitas vezes moradores que ficam presos em casa, não conseguem sair para trabalhar, não conseguem sair para fazer outras atividades, porque a rua está tomada.”

Langeani falou ainda que esses pancadões acabam mascarando atividades ilegais. “Você tem também, infelizmente, atividades criminais que orbitam não só nessas festas de periferia, mas em várias festas, em vários eventos culturais, algumas atividades criminais que orbitam ao redor disso; então a gente estava falando de uso de droga, muitas vezes de furto e roubo de veículos, uso de arma de fogo, abuso de menores.”

Ele disse que é preciso ações conjuntas para evitar situações de violência relacionadas aos pancadões. “Esse é um assunto que a gente precisa resolver não só com polícia, precisa de outros atores atuarem conjuntamente, é algo que demanda outras agências trabalhando, para que a gente consiga as manifestações culturais acontecendo, sem esses outros efeitos negativos, de criminalidade ao redor.”

Falta de serviços públicos

Em 2012, os moradores já questionavam a ausência de ações conjuntas na área de saneamento, saúde, habitação e iluminação. Em 2010, a comunidade passou por vários projetos de urbanização, ganhando até exposição no Museu da Casa Brasileira e no CEU de Paraisópolis. O projeto recebeu visita de George Brugmans, diretor da Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã, que decidiu levar o projeto de urbanização da favela para ser exposto em outros países.

A cidade de São Paulo possui 1.705 favelas com mais de 460 mil moradias. Levantamento do Tribunal de Contas do Município mostra que o número de famílias beneficiadas pelo programa habitacional de urbanização de favelas despencou nos últimos anos até zerar em 2017. Os investimentos na área também diminuíram.

Em 2013, foram 1.319 famílias beneficiadas; em 2014, 1.717; em 2015, 413 famílias; em 2016 caiu para 369 famílias e em 2017 nenhuma.

No ano passado, a Prefeitura tirou R$ 272 milhões previstos para urbanização de favelas e remanejou o dinheiro para outras áreas.

Policiais circulam por Paraisópolis desde segunda-feira (29) na Operação Saturação realizada em 2012 — Foto: Glauco Araújo/G1

Dez anos atrás, moradores começaram a usufruir de serviços sociais oferecidos durante ocupação feita pela Polícia Militar, mas continuaram a questionar falta de infraestrutura.

Em Paraisópolis, 21% da população que trabalha atua no comércio local, que possui mais de 10 mil estabelecimentos. A renda média de 87% dos chefes de família na região é de até três salários mínimos.

A comunidade dispõe de 12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma ETEC, um CEU, três UBSs e uma AMA.

Nota da União de Moradores de Paraisópolis

“NÃO FOI ACIDENTE!

Jovens de toda a cidade há anos vêm curtir o baile da D17 e encontram na comunidade que sofre com a ausência de oportunidades culturais e de lazer uma oportunidade para estar com amigos e se divertir.

Com frequência, ocorrem ações policiais de dispersão, causando correria e violência, como mostram os videos. Essa madrugada, jovens foram encurralados em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência.

Não aceitaremos calados, exigimos justiça com a punição dos culpados. Paraisópolis e as comunidades precisam de ações sociais para enfrentar suas dificuldades, mais do que remediar, precisamos prevenir. CHEGA de violência, queremos paz.

Paraisópolis presta toda a sua solidariedade e nossos sinceros sentimentos às famílias dos jovens mortos nesta tragédia já anunciada que aconteceu hoje em nossa comunidade”.

Mapa da comunidade Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Amanda Paes/G1
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Fonte globo
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