Dólar à vista sobe 0,16% e volta a R$ 5,00 com aversão externa ao risco
O “escorregão” do real se deu em meio a uma aceleração da alta das taxas dos Treasuries e ao fortalecimento global da moeda norte-americana
Após uma manhã marcada por trocas de sinal, o dólar à vista operou em leve alta ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quarta-feira, 25, cotado a R$ 5,0017, avanço de 0,16%, interrompendo uma sequência de quatro pregões seguidos de queda. O escorregão do real se deu em meio a uma aceleração da alta das taxas dos Treasuries e ao fortalecimento global da moeda norte-americana. Dados mais robustos da economia dos Estados Unidos voltaram a amparar a perspectiva de alta adicional da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) neste ano e de manutenção de juros elevados por período mais prolongado.
Operadores observam que houve oscilação de apenas pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,9876) e máxima (R$ 5,0199), o que sugere pouco apetite por negócios. A mínima pela manhã foi atribuída à nova alta do minério de ferro, na casa de 3%, com estímulos fiscais na China.
Contribuiria para limitar as perdas da moeda brasileira nesta quarta o avanço da agenda econômica no Congresso, em especial a possibilidade de votação ainda nesta quarta-feira do projeto de lei para taxar fundos offshore e exclusivos na Câmara, como sinalizado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
“O real está praticamente de lado. O mercado monitora atentamente o desenrolar do conflito entre Israel e Hamas e as movimentações em Brasília em torno da pauta fiscal”, afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, destacando que a moeda brasileira apresentou desempenho melhor que seus principais pares, os pesos mexicano e colombiano, nos últimos cinco dias. “Mantemos nosso cenário de valorização do real por conta dos fundamentos econômicos, sobretudo quando comprado a outros emergentes.”
Lá fora, o dólar ganhou terreno nesta quarta-feira tanto em relação a moedas fortes quanto à ampla maioria de divisas emergentes. Os riscos geopolíticos seguem no radar dos investidores. Teme-se uma ampliação no conflito no Oriente Médio, com envolvimento de outros atores regionais, diante da decisão já expressa Israel de invadir a Faixa de Gaza. As cotações do petróleo voltaram a subir, com o contrato do Brent mirando novamente o nível de US$ 90 o barril.
A manutenção de um dólar globalmente forte também é justificada pelo desempenho da economia americana, que mostra sinais de resiliência a despeito do processo de aperto monetário. No fim da manhã, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou que as vendas de moradias novas no país subiram 12,3% em setembro em comparação a agosto, ao ritmo anual (com ajuste sazonal) de 759 mil unidades, bem acima das expectativas (685 mil unidades).
Investidores aguardam a divulgação na quinta-feira, 26, da primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no terceiro trimestre. Na sexta-feira, 27, sai o índice de preços com gasto com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo BC dos EUA.
Esses indicadores esquentam o clima para a decisão de política monetária do Fed na próxima quarta-feira, 1º de novembro. A aposta quase unânime é a de que o Fed manterá a taxa básica inalterada, mas vai deixar a porta aberta para uma alta em dezembro.