Europa mantém arma de juros recarregada contra inflação — e deixa viva a renda fixa em euros

Analistas enxergam como positivos os spreads dos “bonds” corporativos de empresas europeias com grau de investimento; entenda

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A Europa vive um cenário desafiador com inflação ainda persistente, crescimento aquém do esperado e, ao contrário dos Estados Unidos, ainda sem previsão para início do relaxamento monetário. A combinação faz com que investidores tenham uma visão bem cautelosa em relação ao Velho Continente, mas ainda há oportunidades para manter no radar — entre elas, destacam-se os títulos de crédito (bonds) emitidos por empresas da região.

A gestora britânica Schroders fez uma avaliação sobre oportunidades de alocação e traçou um cenário cauteloso em relação à Europa. A única visão positiva é em relação aos bonds considerados grau de investimento.

“Nós fizemos uma atualização (da visão) para positiva. Há uma demanda por crédito de alta qualidade, os spreads estão acima da mediana e as condições financeiras estão avançando mais lentamente na Europa em relação aos Estados Unidos. Por isso, o setor é atraente, pois permite acesso a um “duration” maior com carrego positivo”, afirma relatório da gestora.

De acordo com a Nomura Asset Management, os títulos grau de investimento na Europa estão com um retorno de 0,50% ao mês e de 4,7% no acumulado do ano, o que também contou com a contribuição do cenário macroeconômico.

“Embora houvesse sinais de que a atividade econômica europeia continuava desacelerando, a inflação permaneceu teimosamente elevada, levando a uma postura mais agressiva do BCE (o banco central europeu). Os rendimentos dos bonds alemães terminaram junho com taxas ligeiramente mais altas.”

Esse cenário de condições financeiras que avançam de forma mais lenta na Europa incluem juros e inflação. Se nos Estados Unidos já se aposta que o aperto monetário está perto do fim, o mesmo ainda não é visto nos países da Zona do Euro e no Reino Unido.

Inflação alta

A inflação na zona do Euro está em 6,1%, longe do pico de 11% do ano passado, mas ainda distante da meta de 2%. Essa resiliência fez o BCE ajustar as projeções e indicar inflação acima da meta até 2025. Com isso, sinaliza mais aumentos de juros, que atualmente estão em 3,5% ao ano, o mais alto desde 2001.

Essa visão pouco otimista tem a contribuição da Alemanha, a principal economia da região, o que faz com que os investimentos em ações sejam vistos como uma má ideia de alocação.

“Permanecemos negativos à medida que a zona do euro mergulha em uma recessão, impulsionada em grande parte por uma desaceleração no considerável setor industrial da Alemanha”, reforçam os analistas da Schroders.

Ajuda insuficiente da China

Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter, também vê a Europa com uma situação mais delicada que os Estados Unidos. De acordo com ela, havia uma expectativa positiva em relação à região que estava atrelada à China. O gigante asiático é o principal destino das exportações do continente, mas essa demanda não se confirmou.

“Havia expectativa com as mineradoras e um pouco do setor automotivo, mas os dados da China decepcionaram um pouco e atrapalharam uma recuperação mais contundente desses setores”, diz.

A posição do Inter é defensiva na Europa, como pouca alocação no mercado de renda variável — a exceção são setores considerados defensivos, como a indústria farmacêutica e de utilities.

Novamente, é na renda fixa que a casa vê as melhores oportunidades.

“Em momentos de estresse grande, em um ciclo de alta de juros, [buscamos] bonds “high grade” (os classificados com bom risco de crédito). O investidor terá menos volatilidade nos de prazo mais curto e as taxas estão atrativas. Os bond high grade são de empresas maduras, o que minimiza os riscos”, conta.

Para a estrategista, o início da próxima temporada de balanços dará uma visão melhor do continente, que as oportunidades de investimento devem caminhar junto com o humor em relação à China e aos Estados Unidos — afinal, crescimento mais forte na Ásia e redução mais acelerada dos juros nos Estados Unidos beneficiam a Europa.

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Fonte infomoney
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